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Instituto Natura certifica formadores do Comunidade de Aprendizagem

Uma análise profunda, fincada nas instituições de ensino, das atuações educativas de êxito implementadas pelo projeto Comunidade de Aprendizagem, foi o que proporcionou a apresentação dos trabalhos de certificação em formadores do projeto, promovido pelo Instituto Natura. Estiveram presentes na sede da Avante – Educação e Mobilização Social, na última quinta- feira (19 de novembro), Fernanda Pinho, do Instituto Natura, formadores líderes e formadores locais da Avante – Educação e Mobilização Social, do Instituto Chapada de Educação e Pesquisa (ICEP), além de técnicos da Secretaria municipal de Horizonte, Fortaleza e Itabuna, também formadores em seus municípios.

A certificação na estratégia de atuação do Comunidade de Aprendizagem é conquistada após um intenso percurso que conta com formação teórica, formação prática – com estágio, acompanhado por pessoas do Instituto Natura ou por formadores mais experientes -, e a entrega de um trabalho científico ao final (TCC). “A partir de então, aquele que recebeu a certificação (ou instituição, como no caso da Avante), passa a poder oferecer a estratégia educativa às secretarias. E caso a ação não seja financiada pelo poder público, o financiamento pode ser feito pela iniciativa privada”, explica Carol Duarte, coordenadora do projeto na Avante.

O Comunidade em Aprendizagem vem atendendo 11 escolas em Fortaleza (CE), 6 em Horizonte (CE), 3 em Itabuna (BA). Camaçari (BA) está na fase de sensibilização para definir quantas escolas acolherão a proposta do projeto. Já o ICEP foca sua atuação na região da Chapada Diamantina e Semiárido.

Dialogando sobre a prática

Após a apresentação dos trabalhos que abordavam tanto a teoria como a prática nas escolas, o grupo abria espaço para um debate sobre o que foi exposto. O primeiro a apresentar foi José Carlos Sena Evangelista, formador local e técnico da secretaria municipal de educação de Itabuna, município atendido pela Avante. Com o título: As atuações educativas de êxito e as contribuições de Paulo Freire para uma educação humanizadora, seu trabalho deu uma amostra do que foi uma tendência entre seus colegas: ter a prática nas instituições de ensino como foco. “A escola é essa esperança de construímos um mundo mais humano. É isso que nós, formadores locais e professores de Itabuna estamos apostando”, disse.

Glaucia Lara Borja, consultora associada da Avante e formadora local em Fortaleza (CE), por exemplo, focou seu trabalho no processo de transformação provocado pelo projeto, sob o título de A escola em transformação e a sua trajetória. “O objetivo do trabalho foi fazer uma análise dessa trajetória, contextualizando seus obstáculos e impactos”, explica. O ponto de partida foi a fase do sonhar, quando alunos, comunidade e colaboradores da escola reúnem-se para dialogar sobre a unidade de ensino que gostariam de ter.

“Os sonhos não são sonhos, são necessidades básicas de direito que não são respeitados”, destacou Ana Luiza Buratto, sócia fundadora da Avante, em comentário após a apresentação, reforçando dados trazidos por Glaucia em seu trabalho, os quais mostram que o ato de sonhar, apesar de necessário, é algo muito distante na realidade dos atores dentro da escola e na comunidade em seu entorno. “É impressionante como a fase do sonho faz com que as pessoas passem a olhar para a escola. O projeto acaba sendo um zelador e mediador de conflitos que acontecem nesses lugares que ninguém olha”, disse Fernanda Pinho, do Instituto Natura, sobre o impacto da experiência nos municípios nos quais já foi implementado.

Ana Luiza, por sua vez, focou suas pesquisas em uma área na qual vem se especializando e se dedicando ao longo de sua trajetória profissional (mestrado em Família na Sociedade Contemporânea pela UCSAL). Sob o título de A família protagonista: papel valorizado e fortalecido pelo projeto Comunidade de Aprendizagem, a sócia fundadora da Avante reflete sobre o papel das famílias no processo de transformação social promovido pelo conjunto de atuações educativas de êxito do projeto.

A participação das famílias na proposta do Comunidade de Aprendizagem se dá na gestão e monitoramento do projeto, ou via voluntariado nas atuações educativas de êxito que acontecem dentro das escolas. “A cidadania de um sujeito, e da família, é o reconhecimento dos seus direitos e deveres, das suas obrigações. E as famílias percebem seus direitos, de seus filhos e suas obrigações também ao participar da fase do sonho do projeto, quando são provocadas”, contou Ana Luiza, durante a sua apresentação.

A experiência de Horizonte (CE), município também atendido pela Avante, veio à tona por meio da apresentação do formador local, José Ivaldo, técnico da secretaria municipal de educação. José Ivaldo teve o apoio da Avante no início da implementação do projeto nas 06 escolas acompanhadas por ele, nas quais, hoje, já atua de forma mais autônoma, como formador local. José Ivaldo preparou a sua apresentação em formato de relato para apresentar detalhes desse processo.

Ele contou que, entre os impactos provocados pelo conjunto das atuações educativas de êxito do projeto, já é possível perceber a melhoria na aprendizagem. Isso se reflete no interesse pela leitura, desenvolvimento do vocabulário dos alunos, melhoria na prática da expressão oral e escrita e na argumentação, além da melhoria na convivência e interação entre estudante, professore e pais e um espaço escolar cada vez mais participativo.

Ivaldo também trouxe, para conhecimento do grupo, depoimentos de professores, diretores, comunidade, familiares e alunos. Um exemplo foi do estudante de Horizonte, Leandro Santos. “Esse projeto tem melhorado o nosso aprendizado, enriquecido os nossos conhecimentos, nos tornando melhores alunos e cidadãos críticos focando em nosso futuro”.

Carolina Duarte, coordenadora do projeto ‎Comunidade de Aprendizagem na ‎Avante, apresentou o TCC Resolução de Conflitos – um desafio para formadores brasileiros de Comunidade de Aprendizagem. O trabalho procurou explicar porque o modelo dialógico de resolução de conflito encontra dificuldade de ser implantado nas escolas do país.

Segundo Carolina, existem três modelos de resolução de conflito: disciplinar, mediador e o dialógico. O primeiro, baseado em hierarquia, é o mais utilizado no Brasil e “não tem nada de dialógico”, ou seja, não há diálogo entre as partes envolvidas. “Faz com que os conflitos aumentem, pois os castigos utilizados afastam os alunos da sala de aula, além de não implicá-lo no processo de resolução”.

O modelo mediador, explica, “apresenta um avanço”. Ele utiliza um especialista em mediação em ambiente escolar, mas, ainda assim, é um modelo baseado, também, em normas impostas. Já o modelo dialógico, ou comunitário, utiliza a participação de toda a comunidade, que reflete sobre quais são os temas que causam conflitos, buscando criar regras que fazem sentido para os alunos. Tudo construído coletivamente. O Comunidade de Aprendizagem opta pelo modelo dialógico com o intuito de melhorar a convivência nas instituições onde atua.

O trabalho de Rita Margarete, consultora associada da Avante e formadora líder do projeto, trouxe a perspectiva do voluntariado para o conjunto dos TCCs apresentados. Sob o título Participação Voluntária do Projeto Comunidade de Aprendizagem, seu estudo nasceu de sua percepção do papel central que esses atores têm no projeto, e de que a melhoria do Comunidade de Aprendizagem está vinculada à melhoria da atenção à essa força de trabalho, que tanto enriquece o ambiente escolar.

Rita reafirma que o voluntariado oferta uma riqueza de interações nas escolas onde o projeto foi implantado, sendo uma fonte de significados para os alunos. Além de empoderar quem dele faz parte, o voluntariado possibilita a entrada de outras inteligências nas escolas.

Apresentações do ICEP

Na região da Chapada Diamantina o projeto é implementado pela parceria entre Instituto Natura e o Instituto Chapada de Educação e Pesquisa (ICEP). O ICEP teve cinco de seus representantes apresentando TCC. Claudia Fernandes Rocha apresentou o trabalho Implementação do Projeto Comunidade de Aprendizagem no território da Chapada Diamantina. Adriana Rocha trouxe suas reflexões sobre a Implantação do Projeto comunidade de Aprendizagem por meio das tertúlias dialógicas.

As tertúlias foram tema também de Cristina Alice, que apresentou As Tertúlias dialógicas literárias enquanto atuação educativa de êxito no espaço de formação de gestores escolares e professores do território da Chapada Diamantina. Aline Carvalho pesquisou sobre Grupos Interativos: atuação educativa de êxito implementada em escolas da Chapada Diamantina. Aprendizagem dialógica, base para uma gestão eficaz da sala de aula foi o título do TCC de Geraldo Magela, Coordenador da secretaria municipal de educação de Fortaleza, também certificando-se para atuar como formador local.

O Comunidade de Aprendizagem

O projeto se constitui em um conjunto de atuações educativas de êxito, que foram formatadas a partir de pesquisas do CREA (Centro Especial de Investigación em Teorías y Prácticas Superadoras de Desigualdades), ao longo de 30 anos. O Comunidade de Aprendizagem tem chegado às instituições de ensino com a proposta de fazer com que a união escola e comunidade levem a uma melhora da aprendizagem instrumental e da convivência. Em Fortaleza (CE), Horizonte (CE), Itabuna (BA) e Camaçari (BA), este último em fase de sensibilização, o projeto Comunidade de Aprendizagem, como ficou conhecido esse conjunto de atuações de êxito, está sendo executado pela Avante Educação Mobilização Social, em parceria com o Instituto Natura.

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