A família ganhou grande visibilidade e atenção especial neste ano de pandemia do Covid-19. Estar, obrigatoriamente, junto, devido ao isolamento social, tornou ainda mais intensa essa convivência e seus desafios, assim como a necessidade de mais cuidados com o olhar, as palavras e os limites do outro, nos colocando diante de importantes reflexões sobre esse convívio. Por isso, os “Desafios e os avanços da família frente a pandemia” foi tema do quarto episódio da segunda temporada da WebSérie Conexões, promovida pela Avante – Educação e Mobilização Social.
Com mediação de Ana Luiza Buratto, vice presidente da Avante, Lívia Fialho, pesquisadora no programa interdisciplinar família na sociedade contemporânea (UCSal), e Claudia Mascarenhas, fundadora e diretora do Instituto Viva Infância, dialogaram a partir de uma linha do tempo dos conceitos de família, suas mudanças, sua diversidade no Brasil e as dificuldades que enfrentam no atual contexto político, social, econômico e de saúde.
Mesmo para elas – famílias -, acostumadas às mudanças contínuas, este é um momento completamente novo. “As experiências são muito diversas. Aprender a estar junto é um desafio. Talvez, um desafio maior para algumas, menor para outras. Mas agora deu-se conta que, para esse convívio, que parecia normal, é preciso criar estratégias para aguentar os ritmos, as diversas demandas, como por exemplo: o desemprego e as questões financeiras”, disse Lívia Fialho.
Entre os assuntos compartilhados foi colocado que, nesse período pandêmico, o tempo nos convoca a pensar o que é estar em família. Para Lívia, durante a pandemia, um grande desafio foi contracenar com a tarefa educativa e a falta de socialização, o que deixou todas as responsabilidades com a família, sem que pudesse compartilhar com outras instituições. “Não fomos convocados antes a pensar que dividimos essa tarefa educativa há muito tempo com a escola, a escola de inglês, com o terreiro, com as diversas formas de viver a família e a religiosidade. E agora, fomos convocados a viver com as diversas violências que podem se apresentar no estar junto, por exemplo”.
Em sua fala, Cláudia Mascarenhas deu destaque para a usurpação de direitos fundamentais, “é preciso que vejamos com muita clareza como os efeitos e os impactos de declarações de um chefe de Estado podem incidir diretamente nas relações de uma família, nas situações de violência nas relações intrafamiliares. A pandemia revelou que há muitas famílias no Brasil que vivem dentro de epidemias, como: ausência de cidadania, saneamento básico, em situações de violência, vítimas desse Estado que reforça as incertezas”, disse.
Ao tocar na temática família, as crianças são um ponto importante na Constituição brasileira/88. De acordo o Artigo 227 elas devem ser prioridade absoluta das diversas instâncias da sociedade: ”É dever da família, da sociedade e do Estado assegurar à criança, ao adolescente e ao jovem, com absoluta prioridade, o direito à vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência familiar e comunitária, além de colocá-los a salvo de toda forma de negligência, discriminação, exploração, violência, crueldade e opressão”. Para Cláudia Mascarenhas, as crianças não receberam esse tratamento do próprio Estado, que parece não reconhecer que elas percebem e sentem os impactos dos adultos, que estão vivendo uma situação de insegurança permanente. “Ficou nítido que as crianças estão, praticamente, como um dos últimos pilares de atenção do Estado brasileiro, porque não está havendo nenhum tipo de direcionamento, de pacto nacional, dirigido pelo Estado em relação à criança, como prioridade absoluta. Essa é a primeira coisa que precisa ser dita”, afirmou.
Para Ana Luíza, a temática da família é desafiante pela sua complexidade, mas cabe ao Estado apoiá-la para que possa cuidar bem de seus membros. “Sobretudo, para aquelas famílias que vivem condições adversas. São mais de 30 milhões de estudantes que ficaram na responsabilidade quase exclusiva de suas famílias. Nunca antes aconteceu isso no Brasil. Estamos vivendo realmente um momento extremamente novo, desafiante, extremo em vários sentidos e que para cada família teve um impacto diverso, a depender desde suas condições de vida, até mesmo as condições de convivência”, afirmou.
Conexões – A Websérie Conexões é uma iniciativa e realização da Avante – Educação e Mobilização Social para conectar profissionais da Educação durante a pandemia do Covid-19. Para assistir ao episódio na íntegra clique aqui (colocar link). Para conferir os episódios anteriores basta acessar a playlist Websérie Conexões criada no canal do YouTube da Avante – Temporada 01 e Temporada 02.