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Mulheres de terreiro desfilam Moda Afro no lançamento do empreendimento Laços de Mãe

“Foi assim / Que eu te vi nos meus sonhos lindos / Lua em flor / Tua beleza é eterna, é / Teu corpo revela / Uma linha entre o céu e o mar”, ressoam os versos da canção Rosa Negra, do bloco afro Muzenza. E foi assim que um mar de rosas negras floresceu na passarela do Centro Público Solidário (CESOL), no Salvador Shopping, como divindades que descem do Òrun, para dar vida ao Laços de Mãe, empreendimento solidário de moda afro.

Celebrando a ancestralidade afro-brasileira, oito empreendedoras saudaram os orixás, desfilando a coleção “A Deusa que habita em cada uma”, como a integrante do Terreiro do Bogum e porta-voz do Laços de Mãe, Rita Pinheiro. “É um momento único. Hoje nós somos as estrelas, nós somos as deusas. Tenho orgulho de desfilar essas peças, porque nós que as fizemos. Temos uma relação emocional e espiritual com essas roupas. E são roupas para gente comum, peças confortáveis, com as quais a gente se sente bem”, disse Rita, anunciando que já planejam a Coleção dos Orixás, que vai adaptar cores e modelos das roupas religiosas usadas nos terreiros, para a rua.

Mesclando a moda tradicional de terreiro com a moda contemporânea, o Laços de Mãe criou uma produção não só para quem está ligado ao candomblé. E com o diferencial de ser um empreendimento baseado na economia solidária, diferente da filosofia da política econômica hegemônica, como destacou a secretária estadual do Trabalho, Emprego, Renda e Esporte (SETRE), Olívia Santana. “Aqui o que importa é como uma sobe e pode puxar a outra para cima. Aqui não há competição, há uma coletividade que faz valer esta realidade.”

A primeira coleção trouxe em sua maioria roupas femininas, mas também uma peça masculina, desfilada pelo modelo convidado, Renan Santana.

Novo desafio

O desfile do último sábado (7) marcou o encerramento de um processo que começou em 2016, nos terreiros de candomblé Tanuri Junsara e Cobre, no Engenho Velho da Federação, por meio do “IPA – a força empreendedora das mulheres”, um projeto de fomento à economia solidária executado pela Avante – Educação e Mobilização Social, que reuniu mulheres negras em uma formação múltipla sobre gestão, viabilidade socioeconômica, costura e design, acompanhadas por uma psicóloga social.
Finalizado esse ciclo, o desafio agora é manter o empreendimento de pé, o que às vezes exige flexibilidade do negócio para se consolidar no mercado. “Agora, começa a fase mais difícil, que é o reconhecimento de que essa é uma mão de obra de qualidade. Nós [COOPERCID] começamos com o objetivo de fazer roupa de criança, mas hoje fazemos roupa de igreja, cortina, o que encomendarem”, conta a professora de costura das mulheres do Laços de Mãe, Angelina da Rocha, integrante da cooperativa de costura do Calabar, empreendimento também incubado pela Avante e que existe desde 2008.

Empoderamento de mulheres

Prestigiadas por um público caloroso, as deusas do Laços de Mãe também foram reverenciadas pela secretária Olívia Santana, que ressaltou a importância cultural do candomblé e o empoderamento que dá às mulheres. “Sem a contribuição do candomblé, nosso padrão cultural seria outro. E temos que encher a boca de orgulho ao falar do candomblé, como fazemos com o catolicismo, o budismo, etc. Em um momento de empoderamento das mulheres, temos que lembrar que o candomblé é uma religião na qual as mulheres têm poder efetivo na hierarquia.”

Uma instituição majoritariamente feminina, a Avante também esteve presente ao evento, representada por mulheres: Maria Thereza Marcilio (presidente), Carolina Duarte (consultora associada e coordenadora do projeto na instituição), Ana Oliva Marcilio, Gláucia Borja e Rita Margarete (consultoras associadas).

IPA

Voltado à geração de renda de mulheres costureiras oriundas de terreiros soteropolitanos, e à difusão da cultura afro-brasileira, o projeto “IPA – a força empreendedora das mulheres” foi executado pela Avante – Educação e Mobilização Social, e financiado pela Secretaria do Trabalho, Emprego, Renda e Esporte (SETRE), por meio da Superintendência de Economia Solidária (SESOL).

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