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Contação de histórias – uma aliada contra a violência sexual infantil

“As histórias infantis oferecem uma forma simbólica e segura de abordar o assunto da violência sexual com as crianças, permitindo que elas se reconheçam na narrativa sem se sentirem expostas”, é o que assegura Evelyn Barreto, psicopedagoga e gestora educacional.

Além de essenciais para abordar o assunto de forma cuidadosa, recursos como a literatura infantil “tanto servem para orientar quanto para investigar, em casos de suspeita. Quanto mais lúdico o recurso, maior a chance de a criança interagir com o assunto”, acrescenta Adriana De Souza, psicóloga clínica, que atua há 13 anos na área.

No Brasil, os índices de violência sexual infantil são alarmantes. De acordo com o Anuário Brasileiro de Segurança Pública (2024), a vitimização por estupro de bebês e crianças de 0 a 4 anos chegou a mais de 68 casos por 100 mil habitantes nesse grupo etário. Número que aumenta à medida que se avança para grupos etários posteriores. 

Diante dessa realidade, muitos desafios dificultam a tratativa do assunto com as vítimas, a começar pela dificuldade da denúncia, uma vez que os agressores são, em sua maioria, familiares ou pessoas próximas. 

Com relação às crianças muito pequenas ou com desafios de comunicação, verbalizar a situação é mais um impeditivo em casos de suspeita; enquanto que para as crianças maiores ou adolescentes, o maior obstáculo consiste em estabelecer laços de confiança que possibilitem o diálogo. 

Estratégias

Considerando os desafios que circundam esse problema social, ampliar e potencializar estratégias de prevenção é um imperativo, sobretudo, porque a proteção integral é direito das crianças e adolescentes e dever do Estado, da família e da sociedade. 

Em casos de suspeita ou ocorrência de qualquer tipo de violência sexual – exploração, abuso, assédio, estupro, exibicionismo (ato de mostrar as genitais ou se masturbar diante de crianças ou adolescentes), pornografia infantil – “o primeiro passo para abordar o tema é criar um ambiente seguro para a criança, onde ela se sinta protegida e acolhida”, afirma a psicóloga Adriana De Souza.

A contação de histórias e a utilização de recursos lúdicos são estratégias importantes e validadas pelas duas profissionais ouvidas pela Avante. 

Conforme Evelyn Barreto, mãe e psicopedagoga, “crianças mais novas, que não apresentam vocabulário emocional ou coragem para falar diretamente sobre situações de abuso, podem expressar seus sentimentos e experiências por meio de histórias, desenhos ou brincadeiras”, por isso, a escuta ativa do adulto é essencial para inferir situações de alerta.

Seguindo a mesma linha, a psicóloga Adriana continua: “muitas vezes, crianças vítimas de violência sexual não verbalizam o abuso, mas demonstram mudanças significativas no comportamento, como: medo excessivo, choro frequente, ansiedade, irritabilidade, agressividade, desatenção, pesadelos, além de falas ou gestos sexualizados”, indicativos que devem acender sinais de alerta. 

Evelyn destaca que “ao ouvirem uma história similar, é possível que se sintam compreendidas e seguras o suficiente para compartilhar suas próprias experiências”. Segundo ela, durante a contação de história, cabe ao mediador verificar como as crianças reagem às narrativas, e reitera: “as histórias criam oportunidades para conversas abertas entre adultos e crianças. Perguntas como “o que você faria nessa situação?” ou “você já viu algo assim acontecer?” podem revelar informações importantes”.

Ao abordar a temática, é preciso ainda focar numa comunicação simples e adequada à idade, a fim de validar as emoções e sentimentos das crianças, para que não se sintam culpadas pelo ocorrido, orienta Adriana De Souza.

Dicas

Comprometida e atuante na defesa integral dos direitos das crianças, a Avante – Educação e Mobilização Social apresenta algumas indicações e resenhas de histórias infantis que podem ser compartilhadas com as crianças, de acordo com finalidades específicas:

Proteger as crianças da exploração e violência sexual é um dever de todos. Se você não sabe como participar ou fortalecer essa rede protetiva, que tal começar compartilhando uma dessas histórias com as crianças do seu convívio?

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