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O segredo da Tartanina

Um livro a serviço da proteção e prevenção contra o abuso sexual infanto-juvenil

A literatura pode ser um caminho propício e assertivo para abordar com as crianças e adolescentes o difícil tema da violência sexual. 

Contar uma história sobre o assunto possibilita à criança visualizar o acontecimento de um outro lugar, que não o do sofrimento solitário. Se envolver com a situação de um outro alguém e perceber-se em circunstâncias e conflitos semelhantes, pode colocar a criança violentada no lugar da identificação, do reconhecimento e da empatia, e esse lugar pode ser encorajador.

No livro escrito por psicólogas clínicas, com experiência profissional em atendimentos dessa ordem, o leitor também participa da história a convite do narrador, o senhor Marinho. No decorrer da obra, há espaços para que a criança se insira como personagem e ilustre contextos semelhantes ou de apoio à protagonista Tartanina. Os quadros livres em momentos cruciais da história possibilitam aos leitores expressarem e elaborarem com desenhos seus sentimentos com relação a pontos específicos da narrativa.

A Avante – Educação e Mobilização Social indica a leitura de O segredo da Tartanina, um livro para crianças, mas também uma dica especial para auxiliar os adultos a iniciar esse diálogo tão necessário e a mensurar o peso do baú que carregam as crianças que possam ter sido violadas em sua integridade física e psíquica.

Segue a narrativa…

A história de Tartanina acontece no fundo do mar da imaginação, mas o narrador, o senhor Marinho, avisa, de antemão, que ela poderia ocorrer no ar, na terra ou no mar. 

Tartanina era uma criança muito alegre, brincalhona, vaidosa e rodeada de amigos, até que o malvado Malvo lhe submeteu a malvadezas. Malvo era pai de um de seus colegas, um polvo aparentemente legal e divertido. Ele sempre convidava crianças à sua casa, e lá não faltavam doces e brinquedos. De longe, parecia até um adulto perfeito.

A protagonista dessa história sempre brincava com os seus amigos – Estelinha (estrela do mar), Glub (peixe) e Bonzo (polvo). Até que Tartanina começou a ficar esquisita. Já não permanecia para as brincadeiras pós-aula, não queria conversar e nem estar perto dos amigos.

Os colegas da escola e a professora foram os primeiros a perceberem que Tartanina passou a carregar consigo um baú que se mantinha sempre fechado e parecia crescer ao longo dos dias. 

No livro, o segredo que Tartanina mantinha a sete chaves é metaforizado por um baú, cujos peso e tamanho podem ser lidos como a aflição que Tartanina escondia em silêncio, por culpa, medo e vergonha. 

O abuso sexual viola o individuo em sua totalidade. Em se tratando de crianças, a manipulação do adulto para manter sob sigilo a violência sexual é, em si, mais uma violência. Por isso, observar o comportamento dos menores é fundamental para identificar mudanças e, assim, abrir canais de diálogo e ampliar formas de proteção. 

No livro, o peixe Glub identifica algo de errado com sua amiga, segue-a até a casa de Malvo, onde também se vê seduzido pelas ofertas do malvado. Glub se sente inseguro, porém brincar e comer guloseimas são distrações irrecusáveis. Até que, em determinado momento, a curiosidade o vence. É aí que ele encontra a sua amiga triste, constrangida e exposta.

A indefesa tartaruga marinha foi obrigada a despir-se de seu casco para ser fotografada. Agora, são duas crianças aprisionadas pelo medo e constrangimento.

Contar ou não contar? Será que alguém vai acreditar? Malvo é um “bom” adulto, tem esposa e filho. Quem poderia imaginá-lo como um vilão malvado, aliciador de menores?

Para quem contar? Na narrativa, a dica é buscar uma pessoa adulta-amiga-de-verdade. E foi isso que Tartanina fez. O baú já estava grande e pesado demais. Sua fonte de coragem e confiança foi a professora Baléa, que tomou as providências cabíveis, junto com a família.

A narrativa é uma sensibilização para a observação, o diálogo e a escuta com as crianças; um alerta para a urgência da educação sexual na agenda escolar e para a ampliação de redes protetivas.

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