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#20anosAvante Trocando em Miúdos promove prática docente solidária

A formação continuada de educadores corre nas veias da Avante – Educação e Mobilização Social, uma instituição constituída, na sua base, por mulheres cujo olhar se volta para as possibilidades de transformação pela educação e pela mobilização social, numa busca pela garantia dos direitos básicos de todos os cidadãos e cidadãs. Acreditando que essa transformação pode surgir e ressurgir a partir de uma reflexão coletiva das práticas, a Avante reúne pessoas para compartilhar experiências e empoderar os atores da mudança. Ao apostar nesse princípio, a instituição cria uma tecnologia social e educacional chamada Trocando em Miúdos, que vem cumprindo a sua proposta nos mais diversos contextos ao longo dos #20anosAvante.


Maria Thereza Marcilio, consultora associada fundadora da Avante explica que a base da tecnologia é o aprender a partir da tematização da prática, vinculando-a sempre a elementos de teoria, e da homologia de processos. “Esse movimento, ‘trocando em miúdos’, é a ampliação de repertório e de possibilidades, a partir de reflexões sobre a prática do professor. É a ideia de que você tem que juntar as pessoas, trocar experiências, compartilhar avanços e dificuldades, encarar a sala de aula como um objeto científico. Isto está na Avante desde sempre”, explica.


A metodologia que deu origem à tecnologia social e educacional da Avante começou a ser desenvolvida a partir do trabalho em escolas particulares, em 1985, antes da Avante se estabelecer como uma Organização Não Governamental (ONG). Inicialmente com a Rede SESI Bahia, se consolidando (já como ONG) no processo de transformação da educação no município de Irecê, por meio do projeto Todos pela Educação no Município.


Nesse último, a instituição realizou uma ação integrada de toda a Rede Municipal (1999). “Ao longo dessa trajetória, a cada fim de ano, organizávamos um evento grande, cujo nome era Trocando em Miúdos, e cada escola, ou cada grupo, escolhia uma professora para relatar o seu processo de formação. Não apenas para dizer o que deu certo, mas para compartilhar suas reflexões sobre as práticas. Já tivemos Trocando em Miúdos de ter auditório com mais de 500 pessoas”, lembra Maria Thereza. Durante o evento, todas as escolas apresentavam murais, tinham uma seção de pôsteres onde mostravam o que tinha acontecido na instituição naquele ano e escolhia-se uma professora para fazer o relato do trabalho.
Como, ao longo do trabalho de formação continuada nas instituições, todas as professoras eram igualmente observadas, a escolha de quem iria realizar a apresentação ficava a critério de cada escola. No caso de Irecê, por envolver uma Rede inteira, a cada ano, durante o processo de formação, era escolhida uma professora piloto, que era filmada e observada durante todo o período e fazia a apresentação no final do ano. A discussão da prática era feita coletivamente.


“O que acontece na sala de aula não é algo rotineiro, não é algo que você faz mecanicamente. Cada dia é um novo dia, de fato, para o professor e para os alunos. Cada aluno é um aluno e o professor tem que estar constantemente avaliando o que ele faz, e ele precisa de apoio para isso, porque ele sozinho não dá conta. É muito difícil pro professor fazer, ao mesmo tempo, uma atividade que ele programou e ter um olhar distanciado. Então, ele precisa ter alguém que olhe junto com ele, para depois sentar e dizer ‘e aí? O que você acha que aconteceu?’, para que ele se dê conta de coisas que, no desenrolar, talvez ele não tenha percebido”, explica Maria Thereza.


Ela ressalta que o cerne não está em apontar defeitos ou promover críticas e que por isso teve muita aceitação. “É uma visão de parceria. É um olhar a mais para aquilo que é tão caro para o professor, que é a sua prática. Tanto que a gente não teve dificuldade em entrar na sala dos professores para observar. Nunca tivemos dificuldade de filmar as atividades. Nós damos um tempo para eles se adaptarem à ideia e o trabalho parte do seu desejo. Ele mesmo solicita o registro da sua prática”, observa.


Para o professor, enfatiza Maria Thereza, esse é um momento de juntar todo mundo e discutir as questões que esse observador, alguém da Avante, traz. “E isso ilumina a sua prática e ele se dá conta de como pode lidar, ou lidou muito bem, com certas situações. Sempre num processo de muita parceria”.
Com essa prática, a Avante rompe com a caixa preta que é a sala de aula e implementa a ideia da construção de uma prática coletiva, na qual ensinar não é uma coisa individual, não é uma ação entre o professor e seus alunos. “Ele pode até estar ali sozinho, mas ele precisa se sentir parte de um coletivo. A nossa fala sempre foi a da necessidade de sair de uma prática solitária, para uma prática solidária. Esse é um refrão que a gente usa, um mantra, que tem funcionado super bem”, disse Maria Thereza.


Objeto de análise


“A formação de professor no Brasil ainda não tem a sala de aula como objeto de análise, de estudo e de discussão. Em geral há muitas informações teóricas, muitas abordagens diferenciadas, mas não se usa a sala de aula como objeto de estudo”, reflete Maria Thereza. O Trocando em Miúdos nasce nesse contexto, como uma tecnologia que leva a marca da formação coletiva, das práticas solidárias, de um olhar cuidadoso e parceiro sobre a prática do professor. “É uma ação consolidada na história da Avante. Atualmente, algumas universidades e grupos nas universidades tentam fazer o mesmo, e têm feito um trabalho muito bom”, comenta.


Nos dias de hoje é comum os mais diversos profissionais buscarem por formação permanente, motivados por mudanças rápidas no mundo. Para a Avante, a proposta de uma formação continuada para os educadores extrapola essa necessidade imposta pela modernidade, está presente na essência da profissão. “Para o professor, independente do ritmo do mundo, é necessário um apoio permanente, porque ele lida com conhecimento, que é algo que se transforma constantemente. Ele lida com seres em transformação, da infância a adolescência, e a escola é um elemento de uma sociedade que também está em transformação. Então, o professor precisa de apoio para que ele não cristalize, para que ele não se esqueça desses componentes mutantes. Além disso, não é fácil lidar com as crianças, que funcionam muito diferente dos adultos. Não é fácil lidar com os desafios de um grupo, com todas as diversidades possíveis, a pessoa precisa do apoio de uma formação continuada”, finaliza Maria Thereza.


O investimento da Avante em formação continuada de educadores data de um período anterior à Lei de Diretrizes e Base (LDB), quando passou a ser uma obrigação dos municípios e dos empregadores.

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