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Educação e Bonecas pretas 

A Educação Infantil desempenha um papel de grande relevância na promoção do desenvolvimento integral da criança pequena. Além de ser estratégica para a promoção de uma discussão sobre identidade e representatividade na infância. 

Existem marcos legais da educação brasileira que reforçam essa importância. Um deles é a Lei 10.639/03, que alterou a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB) e tornou obrigatória a inserção, no conteúdo programático das escolas públicas e privadas do país, a luta dos povos negros no Brasil, assim como o estudo da cultura e formação da sociedade nacional, “resgatando a contribuição do povo negro nas áreas social, econômica e política pertinente à História do Brasil”.

“É na Educação Infantil que a gente começa a lidar com regras e limites da sociedade, a Educação Infantil é a instituição que formaliza os contratos sociais vigentes, no que tange à criança. Parte do currículo da Educação Infantil está centrada na formação do sujeito: ‘o sujeito no mundo’, ‘a relação com o outro’, ‘a valorização de si mesmo’, ‘o respeito ao outro’, ‘no aprendizado das regras sociais de convívio’. Ou seja, é terreno fértil para tratar da diversidade”, destaca Ana Marcilio, psicóloga e consultora associada da Avante – Educação e Mobilização Social.

A Campanha Cadê Nossa Boneca? – @cadenossaboneca – traz um olhar bem especial a essa etapa da vida escolar ao promover sensibilização e fortalecimento da representatividade por meio da divulgação de um levantamento bianual sobre a oferta de modelos de bonecas pretas no mercado. A edição de 2023 da Campanha revelou que 13,6% do total de bonecas fabricadas são pretas, um crescimento de 100% em relação ao levantamento de 2020. 

A Campanha nasceu em 2016 com uma grande ação de conscientização via mídia social, que buscou sensibilizar a sociedade sobre a relevância da discussão sobre representatividade no mercado de bonecas, por estas contribuem para formação social e intelectual das crianças, que, desde muito cedo, são apresentadas aos papéis, às normas e espaços sociais reproduzidos em suas brincadeiras. O levantamento feito na época apontou que pouco mais de 6% das bonecas fabricadas eram pretas. 

Doação de bonecas 

Em visita ao Centro de Educação Infantil Professora Eunice Pinheiro Machado Padovan, que atende 483 bebês e crianças de 0 a 3 anos e 11 meses, na cidade de São Paulo, Maria Thereza Marcilio, presidente da Avante, presenteou a unidade com bonecas pretas produzidas por artesãs de todo Brasil. O objetivo é colaborar para a promoção da prática de uma educação antirracista desde a primeira infância. 

“As bonecas fizeram sucesso em meio aos bebês e crianças da unidade. Acreditamos ser muito importante a presença de bonecas e brinquedos que representem todas as crianças, que elas possam se enxergar e se sentirem representadas e valorizadas em suas singularidades. Com certeza as bonecas contribuirão para uma uma educação antirracista e inclusiva, onde todos os bebês e crianças são valorizados e respeitados”, declarou Cíntia Manieri Marciano, diretora do CEI Padovan,.

Além do CEI Pandovan, a doação também aconteceu em instituições de São Paulo e no Equador (Quito, Tumbaco e Cotacachi), em fevereiro deste ano nas visitas e formações realizadas durante o X Intercâmbio Internacional – Trocando em Miúdos, realizado pela Avante. Foram doadas bonecas no Ateliê Carambola (SP), Casa Diálogos (SP), Ateliê Arte Educação e Movimento, de Suzana Soares (SP), Casa Emmi Pikler (Equador) e Fundação AMI (Equador). Durante a edição nacional do Trocando em Miúdos, realizada em Salvador, em julho (2023), a equipe da Avante fez doações aos CMEIs Castro Alves e União Boca do Rio durante visitas às instituições. 

Para a curadoria e compra das bonecas doadas, a Avante, por meio da Campanha Cadê Nossa Boneca?, mobilizou artesãs de todo Brasil a enviarem seus trabalhos e suas histórias. As bonequeiras  Ana Karolina (@ayeafro), Luane Rodrigues (@dlua_arteempanos), Lúcia Makena (@bonecasmakena), Michelle Ogasawara (@amikifaz_amigurumi), Nayane Diaz (@obaxatelier), Preta Ary (@negritaarteira) e Tatiana Rosa (@meninaarteirabonecasdepano) participaram do chamado e as produções de Michelle Ogasawara e Preta Ary foram adquiridas, assim como bonecas pretas da Casa do Artesanato, em Salvador, e site da Magalu.

“Escolhemos produzir bonecas negras por acreditar que as brincadeiras deveriam ser inclusivas, onde as crianças, em especial as negras, pudessem ter possibilidade de se enxergar nos brinquedos”, conta Tatiana Rosa, criadora do Menina Arteira. Histórias semelhantes a dela inspiram o trabalho de outras artesãs, como Luane Rodrigues, que defende que a representatividade através das bonecas possibilita a elevação da autoestima e a construção da identidade. “Não existe nada melhor do que presentear uma criança negra com uma boneca em que ela possa projetar sua autoimagem”, afirma a fundadora da D’Lua – Bonecas de Pano. 

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