A importância do aluno ler o mundo para poder transformá-lo foi um dos pressupostos defendidos pelo educador brasileiro Paulo Freire (1921-1927), que continua como uma grande referência entre os profissionais da Educação. Ele foi citado na Web Série Conexões, episódio: “Política Nacional de Alfabetização (PNA): diálogos e rupturas”, que contou com a participação de Mônica Baptista – doutora em Educação e membro da Associação Brasileira de Alfabetização (ABAlf), com moderação de Rita Margarete Santos – consultora associada da Avante e mestra em Educação e Contemporaneidade. No cerne das discussões, as concepções da Política Nacional de Alfabetização (PNA) do MEC que, segundo especialistas, provocará retrocesso pedagógico no ciclo de alfabetização, especialmente das crianças, e põem em risco avanços alcançados democraticamente pela sociedade, em especial pelos profissionais da Educação brasileira.
A Educação Infantil também é foco da PNA, inclusive a alfabetização nesse segmento. E sobre este tema a pesquisadora Mônica Baptista frisou a existência de uma construção contínua de uma política de alfabetização para apropriação da leitura e da escrita, desde a década de 80, e que as Diretrizes Curriculares Nacionais (DCN) são fruto de pesquisas. Em sua fala, Mônica apontou algumas fragilidades na Política do atual Governo Federal: “O que está nos documentos da PNA, que a gente teve acesso, é que aprender a ler e a escrever não se trata da apreensão de uma linguagem e sim da aquisição de um código. Esta é a perspectiva desta corrente”, declarou. E foi contundente ao afirmar que a leitura das palavras só tem sentido pela aprendizagem da leitura do mundo. A pesquisadora lembrou que o professor é um agente deste processo e que o currículo da Educação Infantil é vivo. “O currículo não é teoria. Não é uma lista de conteúdos, uma área do conhecimento. É um conjunto de práticas que articula o que a criança sabe, conhece, por meio daquilo que a gente [o educador] sabe”, complementou.
Retrocesso
Em sua mediação, Rita Margarete destacou fragilidades dessa Política e a consequente ameaça de retrocesso em relação às conquistas históricas da Educação Infantil. Ela orientou as/os professoras/es a lerem atentamente o texto da PNA, identificando as rupturas com as pesquisas e estudos publicados na área da Educação. “O texto da Política Nacional de alfabetização [PNA] é muito claro. Mas exige nossa atenção porque faz citações e apresenta dados que validamos para fundamentar concepções há muito abandonadas. Numa leitura rápida isto pode passar despercebido”, disse. Para Vanja Maria, participante do webinar via chat, o diálogo suscitou a seguinte reflexão: “Como formar leitores e produtores de texto em nosso País se limitamos a proposta nacional a uma única e obsoleta visão de alfabetização em detrimento de tantas outras contribuições relevantes?”.
Para Maria Thereza Marcilio, presidente da Avante – Educação e Mobilização Social, “o PNA revela uma concepção estreita e reducionista de um processo rico e de um sujeito tão vibrante como é a criança”, comentou, também via chat. Já Edith Ferreira, professora da UFMA, conclamou para a resistência: “Penso que a resistência começa ao nos questionarmos sobre o lugar que nós, professoras, queremos ocupar”, disse, via chat.
Em suas considerações finais, Mônica destacou a necessidade de que a análise do atual Governo sobre o desempenho da alfabetização brasileira seja “desidealizada” e que as conquistas desse processo possam ser reconhecidas. “A liberdade de ser professor e a liberdade de ser criança é um risco para uma sociedade autoritária”, lembrou Mônica Baptista.
Conexões – A Websérie Conexões é uma iniciativa e realização da Avante – Educação e Mobilização Social para conectar profissionais da Educação durante a pandemia do Covid-19. O episódio “Política Nacional de Alfabetização (PNA): diálogos e rupturas” foi ao ar no último dia 09 de setembro. Mas, quem não pôde assistir a esta e a edições anteriores pode acessar a playlist Web Série Conexões criada no canal do YouTube da Avante.