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Estação Subúrbio: Masculinidade e redução de danos

O falecimento da esposa foi a gota d´água. A solidão estendeu a mão para o álcool e assim a bebida passou ao lugar de companheira, preencheu as horas e tomou conta da vida de Felipe*, morador da Ocupação Quilombo do Paraíso, no Subúrbio Ferroviário de Salvador (BA). O pedido de ajuda para vencer o alcoolismo foi feito na roda de conversa criada para acolher, desta vez, o público masculino, no atendimento às famílias do projeto Estação Subúrbio – Nos trilhos dos direitos (Avante – Educação e Mobilização Social e Kindernothilf – KNH).

A roda de conversa é a terceira de um ciclo de quatro encontros focados na redução de danos, que vem sendo realizada com integrantes da comunidade, que não fazem parte das famílias acompanhadas pelo Projeto. A proposta emergiu a partir da observação da equipe do Estação Subúrbio em relação à presença do alcoolismo na comunidade e se tornou um desafio a ser superado inserido entre as ações do Balcão Psicossocial, tecnologia social desenvolvida pela Avante e integrada as ações desenvolvidas na comunidade pelo Projeto.

Os encontros têm como foco: a redução de danos, a promoção e proteção da saúde, a prevenção de agravos à saúde causados pelo alcoolismo e o fortalecimento comunitário. No primeiro encontro dialogou-se sobre “vida saudável”, com abordagens de cuidado com a comunidade, a família e o sujeito. No segundo, foram trabalhados os “cuidados com a saúde e a prevenção de infecções sexualmente transmissíveis (IST)”. Dessa vez, um grupo formado por quatro moradores da Ocupação Quilombo do Paraíso, entre homens adultos e adolescentes, reuniu-se, numa sexta-feira, 23 de outubro, para discutir o “cuidado com as emoções para não adoecer”. Apenas o último encontro terá como foco o alcoolismo propriamente dito, e suas nuances.

Outro assunto, muito comum entre os círculos femininos, entrou na roda: a cultura machista, mas com ênfase nas consequências na saúde mental da população masculina. A partir do diálogo, as falas começaram a brotar – “homem chora sim!”; “ele tem que chorar para jogar a mágoa dele fora”; e “homem que bate em mulher é covarde”, para ilustrar algumas das afirmações feitas durante a visita da equipe do Estação Subúrbio. “É importante ressaltar que a proposta é atingir as pessoas que têm problemas com o alcoolismo, mas também evitar que outros cheguem ao abuso, tornando-se uma doença crônica, com implicações, sobretudo, nas famílias onde se encontram as crianças e adolescentes, que é nosso público alvo”, disse Ana Cecília, assistente social que integra a equipe de atendimento do Balcão Psicossocial.

E o primeiro passo, sempre, é trabalhar o querer, por isso, a assistente social conta que uma das perguntas feitas ao grupo foi se havia interesse em parar de beber, ou diminuir a ingestão do álcool. “Inicialmente, houve dificuldade em admitir o problema e tentou-se passar a ideia de que não precisavam de ajuda. Continuamos a conversa com foco no tratamento e serviços existentes para esses casos. Mas um dos participantes voltou atrás e perguntou se ele teria chance de se recuperar. Nesse momento, ficou muito emocionado e chorou até o término da atividade. Por fim, ele reconheceu que tem um problema com o abuso do álcool e que está disposto até a se internar”, contou.

“Abordamos as diferenças entre machismo e feminismo. O primeiro com suas imposições aos homens de como deveriam se comportar na sociedade impactando nos casos de violência contra a mulher, diferenciação nos espaços de trabalho, entre outros, enquanto o segundo, muitas vezes compreendido como algo oposto ao machismo por conta da nomenclatura, busca a igualdade entre homens e mulheres, por meio da garantia de direitos antes negados, visando equidade. Falamos das consequências dessas imposições na saúde emocional dos homens: depressão, suicídios, drogas de forma geral, com foco no alcoolismo. Explicamos que este é um problema de saúde e que eles podem pedir ajuda”, lembra a assistente social que orientou os participantes do encontro sobre os serviços de referência – públicos, privados e também oferecidos por organizações da sociedade civil – no atendimento ao alcoolismo, ajudando-os a compreender qual melhor se encaixa o perfil do grupo.

De acordo com a Organização Mundial de Saúde (OMS), o alcoolismo causa em todo o mundo cerca de 3 milhões de mortes por ano, o equivalente a 5,3% de todos os óbitos registrados. Na faixa etária entre 20 e 39 anos, esse índice sobe para 13,5% do total de mortes em decorrência do álcool. O consumo excessivo de álcool também pode causar prejuízos à saúde física, emocional e também está relacionado a problemas concernentes à violência doméstica e urbana.

Estação Subúrbio

O projeto Estação Subúrbio atua na Ocupação Quilombo do Paraíso desde 2017 e tem como objetivo a redução da violência comunitária, sobretudo a que atinge crianças e adolescentes, utilizando como principal estratégia o brincar. Com respeito ao distanciamento físico, garantindo a utilização dos EPIs recomendados, o Projeto continua oferecendo serviços e ações para o fortalecimento das famílias e atendimento das necessidades psicossociais visando, em especial, uma Cultura de Paz.

O Balcão Psicossocial está inserido entre as ações do Estação Subúrbio realizando triagem e encaminhamento para ações desenvolvidas no Projeto a partir de demanda da comunidade, e a outros programas previstos nas políticas públicas de Salvador. O Balcão vem promovendo acesso a direitos cidadãos e melhorando a qualidade de vida da comunidade.

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