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Conexão entre famílias e escola potencializa Educação Inclusiva em Luziânia

Quando o assunto é inclusão, ninguém pode ficar de fora. Pensando nisso, o Instituto de Educação Cristã Estrela de Belém, da Rede Municipal de Educação de Luziânia (SMEL- GO), promoveu e segue consolidando o projeto Conexão, com o propósito de fortalecer a relação entre a família e a escola, para desenvolver uma Educação Inclusiva, pautada no diálogo e na empatia.

Garantir Educação de qualidade às crianças com deficiência, transtornos e superdotação começa com a inclusão dos seus familiares e responsáveis. O que eles têm a dizer sobre a criança? Quais as suas percepções sobre a escola e o trabalho realizado pelos professores? Como podem colaborar para o envolvimento da criança com o ambiente escolar e ampliar suas aprendizagens?

Do outro lado, professores precisam ouvir sobre as singularidades do estudante, compreender as dimensões da participação familiar na educação extraclasse e terem ciência das questões familiares que afetam a criança. Assim, a comunicação, que pressupõe um elo de partilha e escuta, foi o elemento propulsor do projeto Conexão

O desejo de promover o diálogo entre famílias e professores começou com o olhar empático da Gestora Rosana Sant’ana sobre a história da sua irmã. Ela explica que “o Conexão é sobre a escuta do outro para gerar empatia”, e acrescentou, “eu tenho um sobrinho autista e sei que quem cuida também precisa ser cuidado”. 

Os desafios vividos por sua irmã balizaram a sua percepção sobre os dilemas das mães de crianças com desenvolvimento atípico da sua escola, e dois questionamentos redundaram no Projeto: O que fazer para que os professores compreendam as famílias e para que as famílias compreendam os professores? Como vinculá-los e produzir um diálogo que beneficie a criança?

Acolher e incluir 

De acordo com a gestora, “o projeto Conexão nasceu da necessidade de incluir e acolher famílias e professores de estudantes de desenvolvimento atípicos. Partindo de reuniões com foco na escuta dos pais e professores e na interação entre eles”. Ela destacou que as reuniões contaram, inicialmente, com a presença de especialistas, que abordaram temas a partir das necessidades apontadas pelas famílias e professores.

Para Edilma Batista de Castro, diretora da divisão de Educação Especial do município goiano, “o projeto Conexão proporcionou às crianças atípicas e suas famílias o sentimento de acolhimento e pertencimento, além de trazer momentos de escuta, de trocas e de aprendizado”, avaliou.

Fátima Beraldo, consultora associada da Avante – Educação e Mobilização Social, e coordenadora da implementação da  Tecnologia de Fortalecimento da Relação Escola – Família e Comunidade na Rede Municipal de Luziânia (GO), em parceria com o Itaú Social, relatou que o trabalho de conectar pessoas, promovido pela Escola Estrela de Belém, oportunizou a escuta dos sujeitos. “Ela conseguiu que as mães compartilhassem como se sentiam e, muitas delas, afirmaram nunca ter tido a oportunidade de falar e que, sem o apoio necessário, a dedicação exclusiva aos filhos as adoecia”. 

O Projeto começou com encontros com mães de crianças com desenvolvimento atípico. O objetivo era melhorar a relação dessas mães com os professores, para minimizar os ruídos de comunicação. As reuniões se transformaram em rodas de escuta e compartilhamento e logo se tornaram ação contínua da escola. Fátima Beraldo conta que essas mães passaram a estar com mais frequência na escola, “a ideia, agora, é ampliar para que as mães das crianças sem deficiência também estejam nessas rodas, gerando empatia e reflexão sobre a resistência que algumas famílias ainda mantêm sobre salas de aula inclusivas”.

Por trás de um laudo – uma pessoa, uma história

As reuniões cumpriram o propósito. O fortalecimento do vínculo entre família e escola reverberou nos planejamentos de aula e em como os professores passaram a se relacionar com as crianças. 

Em vez de insatisfação e culpabilização, a comunidade escolar passou a focar no desenvolvimento de todas as crianças, sobretudo das crianças com deficiência, e a reconhecer a potência do trabalho conjunto.

Emocionada, a gestora Rosana Sant’ana compartilhou sobre o Projeto: “Dificilmente eu falo do Conexão e não me emociono. A atmosfera de nossos encontros nos faz refletir que por trás de um laudo tem uma pessoa, uma história. O Conexão é um grupo de apoio de pessoas que se conectam com as suas histórias. E assim a escola tenta romper com uma metodologia fria, que homogeneiza. Quando a gente decide ouvir, a gente muda isso. Tira você de uma metodologia fria e te humaniza”.

União pelo fortalecimento da inclusão

O projeto Conexões é um exemplo de sucesso no município, mas não o único. Luziânia possui um trabalho de inclusão estruturado na Rede, com profissionais capacitados nas escolas e um Núcleo de Avaliação Diagnóstica (NAD), na Secretaria de Educação, que avalia crianças com laudos, faz a indicação de atendimentos e das turmas onde as crianças com desenvolvimento atípico irão estudar.

A política de inclusão do município está em movimento e traz motivos para celebração, pois o trabalho dialógico está promovendo a saída de um modelo que segrega para o que inclui, e isto vem sendo fortalecido a partir do diálogo, em especial, com as famílias. Edilma de Castro explica: “em Luziânia, temos duas escolas especiais e também algumas classes de inclusão parcial em escolas regulares. Essas turmas são compostas por até oito estudantes, todos com deficiência, e com uma proposta de trabalho diferenciada, e temos alunos inclusos em turmas regulares”. 

O avanço vem com a implementação do AEE (Atendimento Educacional Especializado) na atual gestão – 2021/2024. “Houve o fortalecimento do PEI (Plano de Ensino Individualizado), passamos a ter a presença do assistente para auxiliar o professor em sala de aula, e, no Núcleo de Avaliação Diagnóstica, passamos a ter a Orientação Parental”.  Esses avanços, segundo Edilma, contribuíram muito para o desenvolvimento das habilidades das crianças. “Tenho 25 anos de educação e vejo que a inclusão já caminhou bastante, porém ainda trilhamos o caminho da melhoria”, afirmou.

A demanda encontrada pela Avante, no entanto, foi a forte necessidade de promover maior participação dos membros da comunidade escolar nos processos de gestão das escolas, e as crianças com deficiência não poderiam ficar de fora. 

A Tecnologia Fortalecimento da Relação Escola – Família – Comunidade possibilitou que as reuniões escolares, que priorizavam apenas a entrega de resultados, se transformassem em rodas de conversa mais formativas e participativas. Fátima Beraldo corrobora, “a participação no município era, predominantemente, informativa – os familiares chegavam e recebiam informações sobre a escola, com pouco espaço para a escuta desses familiares; e esse é um exercício que a gente fez muito com eles, sempre trabalhando com o conceito de que a escuta é matéria-prima da participação”. 

A Avante levou um referencial teórico consistente, propostas e estratégias para fortalecer a relação desses três importantes atores da Educação: Escola-Família-Comunidade, e qualificar o trabalho que a Rede já realizava. Segundo Fátima Beraldo, “[a Avante] foi assessorando as escolas – como fazer reuniões onde as crianças possam apresentar o que aprenderam aos pais e estes possam analisar junto com os professores e também pensar decisões para os próximos bimestres?”. 

A partir de provocações como essas, as reuniões passaram a ser mais dialogadas. Pais e professores começaram a pensar juntos as melhores estratégias para auxiliar na aprendizagem das crianças. Professores, estudantes e família passaram a compartilhar, escutar e participar efetivamente dos processos decisórios das instituições. De forma integrada, em algumas escolas, todas as crianças, com e sem deficiência, passaram a apresentar as suas aprendizagens para os pais, com mediação dos professores.

Experiências inclusivas nunca são demais

No assessoramento das escolas da Rede Municipal de Educação de Luziânia, Fátima Beraldo acompanhou experiências enriquecedoras, que enfatizam a potência da relação escola e família para a qualificação da Educação.

Segunda a consultora associada da Avante, as crianças começaram a participar efetivamente das reuniões e, inclusive, dos processos decisórios. “Na construção da pauta da reunião com os pais, numa das escolas que acompanhamos, um menino deu a ideia de fazer a reunião na quadra, pois, segundo ele, a roda ficaria melhor embaixo da mangueira. Essa experiência foi a primeira, na Rede, em que os estudantes participaram de reunião para a entrega dos resultados, e tem a ver com a Tecnologia Fortalecimento da Relação, Escola, Família e Comunidade, porque a gente foi refletindo com eles. A sugestão veio de um menino autista”. 

Nessa escola, Fátima acompanhou de perto duas turmas do Fundamental 1. Turmas com crianças autistas, com Síndrome de Down (Trissomia 21) e outras deficiências. Segundo ela, a reunião começou com uma apresentação das crianças em Libras, visto que a escola oferece alfabetização na Língua Brasileira de Sinais para todas as crianças. A consultora da Avante enfatizou que a reunião foi toda pensada com as crianças, inclusive a confecção dos convites. “Meu convite foi feito pelo mesmo menino (autista) que deu a ideia de que a reunião fosse na quadra, embaixo da mangueira”, disse Fátima.

Edilma de Castro avalia os avanços da política de inclusão educacional do município, mas assegura, “ainda temos muito a caminhar, nosso maior desejo é que todas as crianças atípicas sejam acolhidas, se sintam pertencentes e protagonistas em seu processo educacional,  que as pessoas não olhem as suas limitações e sim as suas potencialidades!”.

A Tecnologia começou a ser implantada no município em 2021. Desde então, as várias e diversas experiências vêm sendo acompanhadas pela equipe da Avante e do Itaú Social. No momento, estão em processo de sistematização para uma publicação que reúne as boas práticas da Rede. “Eu acho que a gente deixa um legado bem importante para que eles consigam realizar um trabalho para consolidar uma cultura da participação de base dialógica”, concluiu Fátima Beraldo. 

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