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Debate sobre violência contra a mulher para combate à violência comunitária

A luta pela vida das mulheres ainda é uma realidade, principalmente para a mulher negra, maioria nas comunidades populares no Brasil. Nesse contexto, crianças e adolescentes se desenvolvem presenciando, diariamente, à naturalização da violência doméstica, comunitária e institucionalizada. Essa foi a motivação para que a equipe da Avante – Educação e Mobilização Social, por meio do projeto Estação Subúrbio – nos trilhos dos direitos, iniciasse o mês de agosto reunindo famílias da região do Subúrbio Ferroviário de Salvador (BA) para falar sobre violência contra a mulher. O encontro aconteceu na sede da ESCOLAB [Escola Laboratório da Prefeitura de Salvador], em Coutos, e reuniu mulheres trabalhadoras da instituição, mães e familiares dos alunos.

As reflexões acerca de agressões corriqueiras na vivência das mulheres aconteceram por meio de palestras, grupos de discussão, dinâmicas e apresentação de dados. As experiências das mulheres foram a diretriz e o ponto principal do evento, sendo que boa parte do público era formado por mulheres negras, que nas estatísticas do País integram os 66% das vítimas de feminicídio. Mesmo com avanços nos debates e leis, o Brasil tem a quinta maior taxa de homicídio de mulheres no mundo, com cerca de 13 mortes por dia, maior número em uma década, de acordo com o atlas da violência de 2018.

É no ambiente escolar que questões como essa têm a oportunidade de aparecer sob um olhar cuidadoso. “Há sinalizações, da direção da Escola, de crianças e adolescentes vivenciando violência doméstica e familiar, além de violências de gênero e identificação de mães ou responsáveis assistidas pela Lei Maria da Penha. Por isso o tema foi escolhido”, conta Patrícia Itaparica, assistente social do Projeto, que esteve à frente da iniciativa.

Na reunião, as mulheres encontraram uma atmosfera de escuta, acolhimento e informações que propiciaram vencer o medo da denúncia e a vergonha de expor as agressões, principal barreira para a quantificação dos casos e ação do Estado. “Aprendi que a Lei Maria da Penha foi criada para nos proteger de agressões. Nós, mulheres, temos que nos encorajar para romper com as barreiras do medo e denunciarmos, sim, qualquer tipo de violência contra nós. O número alarmante de vítimas só diminuirá quando nós mesmas passarmos a entender que precisamos de ajuda e denunciarmos os agressores”, afirma Priscila Cardoso, presente ao evento, onde encontrou o ambiente propício para contar sua história de mulher vítima dos cinco tipos de violência: sexual,patrimonial, psicológica, moral e física.

As informações nem sempre são nítidas para elas, por motivos diversos, dentre eles o pouco acesso, enquanto grupo vulnerável. Para Márcia Fabiana, mãe de aluna, foi uma novidade todas as especificações e violências que as mulheres sofrem. “Nunca soube que a violência psicológica, a patrimonial, e a moral se enquadram em violência doméstica e que era possível denunciar. Para mim, só era a física. Fiquei sabendo de muita coisa, me informei bastante do que estava acontecendo. Se não fosse a palestra, jamais saberia das outras violências”, conta.

Novas práticas individuais e coletivas são um passo para a possível transformação que as mulheres precisam, de forma que não estejam nos mais baixos patamares sociais. Para Iraci Silva Souza, mãe de aluno da ESCOLAB, a tarde foi proveitosa pelo clima de harmonia. “Aprendemos a ouvir umas às outras. O melhor é que vimos que nós somos mulheres guerreiras e que, juntas, vamos além!”, disse. Após a palestra, a confraternização cumpriu o papel de fortalecer os laços. “Eu só tenho a agradecer por tudo, brinquei, me diverti, ouvi a palestra sobre violência, aprendi a identificar as situações e saber onde buscar ajuda. A ESCOLAB disponibilizou o ônibus para que cada mãe fosse e voltasse para o evento. O ambiente foi perfeito, acolhedor”, completou Iraci.

A iniciativa do Estação Subúrbio cumpre o papel de contribuir para a garantia dos direitos das mulheres e crianças da comunidade e foi conduzida com ênfase nas mulheres negras, aproveitando o gancho do dia 25 de julho, que comemora o dia Nacional de Tereza de Benguela, líder quilombola, e o Dia Internacional da Mulher Negra, Latino-Americana e Caribenha. A data é um símbolo do compromisso na busca da superação das estruturas que organizam os lugares das mulheres negras por intermédio de cerceamentos, tornando-se um motivador para discutir a realidade e os índices que dizem respeito à sua sobrevivência, em especial.

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