Websérie Conexões/Avante: Brincar é viver

O riso das crianças nas praças públicas foi calado pela Covid-19. Nas ruas, as pessoas transitam apressadamente, talvez para comprar o pão, ir ao supermercado ou para pegar a condução até o trabalho. Nessa limitação da vida pública, as crianças perderam, temporariamente, o direito a conviver na cidade, em sinal de proteção à vida. Mas, para além da pandemia, quais espaços lhes foi reservado para o brincar? Será que esse direito está sendo assegurado aos meninos e meninas? Essas foram algumas questões discutidas nos segundo e terceiro episódios da Websérie Conexões: Brincar é Viver: A mágica das palavras e das coisas, uma realização da Avante – Educação e Mobilização Social. Nos dias 06 e 13 de maio, sob a condução de dois profissionais experientes: Pinduka – arte-educador e pesquisador da cultura da infância – e a especialista no brincar e consultora associada da Avante, Ana Marcilio.

“A gente agora está trancafiado. Estamos sentindo como a rua faz falta. Mas, e quando a gente voltar a ocupar o espaço público?”, pergunta Ana Marcilio. Segundo a especialista, é preciso questionar qual a disponibilidade de espaços e a qualidade do tempo dedicado ao brincar com as crianças. Ela é enfática ao afirmar que o direito ao brincar e o direito à participação são direitos das crianças que, muitas vezes, estão sendo negligenciados pelos adultos. E não é só em casa que a brincadeira não está sendo levada a sério.  A problemática também envolve as escolas, ambientes que estão cada vez mais voltados para a sistematização de seus conteúdos.

Na origem do problema, Ana lista questões como a falta de conhecimento dos adultos e educadores sobre os benefícios do brincar para a saúde, bem-estar e sentimento de coletividade onde o brincar se faz presente. Há, ainda, disse, questões relacionadas à violência urbana: “Às vezes, num instinto de proteção, a gente acaba por violar o direito do brincar da criança. Ela é alijada do espaço público, das ruas, e vive em confinamento em casa e na escola”, afirmou a especialista.

Coube a Pinduka fazer um recorte conceitual sobre o brincar enquanto parte de nossa cultura, transmitida de geração a geração. E o público da websérie, formado em sua grande maioria por educadores, veio ao delírio quando o educador lembrou da magia das cantigas-de-roda, da colaboração entre os jogadores numa partida de peteca – que se tornam cúmplices, e não competidores como costuma ocorrer nos jogos eletrônicos –  do aprender-brincando, inerente às brincadeiras. O público interagiu pelo chat e concordou que é preciso ter mais atenção ao tema: “Brincando a criança percorre um caminho de aprendizagem na interação com o outro e com o mundo”, disse Amelice Maia. Hyllka Borba também opinou: “O brincar é um preparo para a vida. É no brincar que aprendemos a nos relacionar com o outro. A brincadeira é uma atividade cultural de conhecimento”.

E nessa seara, a imaginação e a criatividade são mais relevantes que o dinheiro. Afinal, com materiais simples, como palito e tampinha de refrigerante, é possível dar vida a um peão. Com pedaços de madeira e rodinhas de rolimã, criar um carrinho para deslizar nas ruas e ladeiras da cidade, e viver a experiência única de controlar com os pés a máquina feita com as próprias mãos. E é na brincadeira com o outro que o aprendizado se torna mais representativo. “É um aprendizado muito importante. Brincar é uma experiência com o outro: que lhe desafia, que lhe nega, que é fundamental para saber-se sujeito”, disse Pinduka.

A gravação dos dois episódios (o segundo e o terceiro): Brincar é Viver: A mágica das palavras e das coisas, já estão disponíveis no canal do YouTube da Avante. Para assistir na íntegra, clique aqui: Episódio 2, Episódio 3 .

Direito ao Brincar – Para a Avante, o brincar é estratégia central para promoção de direitos de crianças e adolescentes. Seja na Educação formal, nas escolas, nas cidades e seus espaços públicos e em comunidades, como a Ocupação Quilombo do Paraíso, no Subúrbio Ferroviário, ou no Calabar, a instituição tem estado presente promovendo a compreensão da potência das brincadeiras no desenvolvimento integral das crianças. E dos benefícios trazido aos adultos.

Nas comunidades as brincadeiras são desenvolvidas em ambiente abertos. Ainda em execução, o projeto Estação Subúrbio – nos trilhos dos direitos (Avante e KNH), na Ocupação Quilombo do Paraíso, há a participação de aproximadamente 60 famílias. A iniciativa conta com a presença de brincantes e de familiares das crianças. “As crianças começaram a identificar seus sentimentos e a lidar com eles de forma efetiva e afetiva”, conta Ana Marcilio sobre um dos resultados conquistados a partir das brincadeiras.

Conexões – O próximo episódio da Websérie Conexões está marcado para a quarta-feira, 27 de maio, a partir das 17h, pelo canal do YouTube da Avante (www.youtube.com/avanteong). A presidente da instituição, Maria Thereza Marcilio, e a consultora associada, Fabíola Bastos falam sobre Estar em casa: Intimidade, convívio e proteção. Elas vão discorrer sobre questões relacionadas ao convívio familiar, aprendizagens possíveis na rotina cotidiana e sobre oportunidades de reconexões com o que realmente importa.

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