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Na UFAL, fandango e arte com barro traduzem jeito de ser do Paralapracá

A alegria do fandango do Pontal da Barra e a beleza da obra de Mestre Vitalino representaram o projeto Paralapracá no II Encontro da Rede de Educação Infantil da Universidade Federal de Alagoas (UFAL): Infância e Brincadeira Popular. O evento ocorreu em Maceió (AL), nos dias 10 e 11 de abril.

“Foi um momento feliz, que promoveu um encontro da maior lindeza com pessoas interessantes para que a gente refletisse sobre o que é importante ser colocado no currículo da educação infantil”, relata Maria Geisa de Andrade, assessora do Paralapracá em Maceió e responsável pela apresentação do projeto durante o evento.

O painel “Paralapracá: um diálogo com a cultura popular” foi realizado no fim do primeiro dia do encontro e apresentou duas ações que valorizam e disseminam os saberes da cultura comunitária entre as crianças. O projeto Paralapracá incentiva a valorização da cultura popular e aponta que o conhecimento dessa cultura se relaciona ao desenvolvimento da identidade das crianças. Segundo a publicação Estação Paralapracá , buscar intimidade com a cultura à nossa volta, a mais próxima, a que está nas pessoas, lugares e histórias, nos permite acessar o “reino da sabedoria comunitária”.

Para representar tal perspectiva, o projeto Paralapracá levou ao evento da UFAL duas experiências: a visita de coordenadoras, professoras e crianças do Centro Municipal de Educação Infantil (CMEI) Suzana Palmeira à Casa do Patrimônio, e a atividade desenvolvida a partir do fandango com a comunidade do CMEI Mestre Isaldino. As experiências foram relatadas ao público do encontro pelas coordenadoras pedagógicas Rosineide Barbosa Ferreira e Cíntia Cristina Moraes.

Patrimônio cultural

Rosineide, do CMEI Suzana Palmeira, apresentou o trabalho que culminou na releitura da obra de Mestre Vitalino. A atividade integra o eixo “Assim se Faz Arte” do projeto Paralapracá e teve início com a visita das coordenadoras à Casa do Patrimônio. A Casa do Patrimônio é um espaço do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) em Maceió que guarda em seu acervo obras do consagrado ceramista pernambucano Mestre Vitalino.

“Depois dessa visita, nós levamos as professoras para conhecerem o espaço do Iphan. E, depois disso, sentimos a necessidade de ir com as crianças para lá”, relembra Rosineide.

“No fim do ano passado, levamos as crianças de 2 a 5 anos para conhecerem o museu. Foi um dia mágico!”, diz a coordenadora. Além de verem de perto as obras de arte, as crianças conversaram com as monitoras do Iphan, que apresentaram a coleção e fizeram uma palestra sobre o que é o patrimônio.
Maravilhadas com as esculturas de Mestre Vitalino, as crianças quiseram desenvolver, na volta à escola, seus próprios trabalhos com argila. E foi assim que a visita ao Iphan se tornou o ponto de partida para a inserção do trabalho com barro na rotina das crianças.

“Essa experiência demonstra o que é a homologia de processos que o projeto Paralapracá propõe”, analisa Geisa, reportando-se à concepção que defende a autoria dos sujeitos envolvidos nas formações, e é contrária à ideia de repasse de algo pronto. “Eu faço a formação com as coordenadoras, elas fazem com as professoras, que fazem com as crianças. Mas não como uma mera réplica”, esclarece a assessora.

Fandango

A atividade em torno do fandango, apresentada durante o evento da UFAL, envolvia música, brincadeira,  tradição e muita pesquisa sobre o fandango do Pontal da Barra, que é o bairro de Maceió onde se localiza o CMEI Mestre Isaldino.

Folguedo popular cujo patrono é o próprio Mestre Isaldino, o fandango do Pontal da Barra é uma brincadeira tradicional da região e foi trabalhado na escola a partir do eixo “Assim se Explora o Mundo” do projeto Paralapracá.

“Queríamos tratar algo que fosse pertinente não só ao eixo, mas também à identidade das crianças”, diz Cíntia, que era coordenadora pedagógica da escola no ano passado, à época da implementação da atividade, e assumiu recentemente a posição de professora da mesma instituição.

O fandango retrata a história de marinheiros que estão à deriva no mar e que contam, um a um, suas aventuras. “Fizemos um passeio com as professoras pelo bairro, que fica entre uma laguna e o oceano, para termos um olhar diferenciado para a comunidade. Depois começamos, junto com as crianças, uma pesquisa da história oral do fandango. Isso envolveu muitos avós, tios e pais de crianças da escola, que participam e conhecem o fandango. Pesquisamos o cenário, encenamos as histórias para as crianças e fomos à praia com elas”, conta Cíntia.

Mestre Pancho, que é filho do Mestre Isaldino, foi à creche para ser entrevistado pelos pequenos. “Quando ele chegou na CMEI, as crianças o reconheceram, porque ele é uma figura do bairro, e o aplaudiram com força. Foi muito bonito. As crianças desenvolveram um senso de pertencimento àquela história”, destaca Cíntia.

Paralapracá e a cultura da comunidade

Para Geisa, o projeto reafirma a importância da interação entre a proposta curricular da educação infantil e a cultura da comunidade. “A criança tem o direito de conhecer a cultura de onde ela está inserida e, com isso, ter um desenvolvimento mais sadio: se sentir inserida, se sentir pertencente a um cenário, a uma realidade. É importante que ela consiga entender onde ela vive, como são as pessoas, o que elas pensam, o que elas fazem,  o que é brincar para a criança e para o adulto. É assim que a cultura se perpetua. É assim que ela vive”, afirma a assessora.

No CMEI Mestre Isaldino, o encerramento do projeto foi uma apresentação do fandango, que abriu espaço para as crianças participarem e brincarem junto com os adultos. No evento da UFAL, no qual Mestre Pancho se juntou a Geisa e Cíntia no relato da experiência desenvolvida na creche, o grupo também se apresentou. E os adultos da plateia levantaram para dançar e prestigiar o fandango.

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