Em experiência inédita, adolescentes de Salvador exercitam sua participação política ao dialogar com o prefeito sobre a cidade.
Realizado no teatro Gregório de Matos, o Fórum Municipal Vozes da Cidade – Crianças e adolescentes construindo uma Salvador menos desigual teve início na manhã do dia 31 de março e foi concluído no final da tarde. No período da manhã foi apresentado o diagnóstico da situação da infância e adolescência no município.
Pela tarde, aconteceu o tão esperado colóquio entre os adolescentes soteropolitanos e o prefeito.
Foram cerca de duas horas de roda de conversa. Durante esse período, os adolescentes mobilizadores do Vozes da Cidade entregaram ao prefeito a compilação das mais de 1200 vozes de adolescentes e 127 escutas com crianças realizadas ao longo do projeto. Em seguida, sentados em volta do prefeito, apresentaram um resumo das demandas e propostas de soluções contidas na compilação, ao passo que recitavam poesias reivindicatórias.
Com base no que foi apresentado, o prefeito ACM Neto listou as realizações de seu governo que, segundo ele, já estão na direção das reivindicações das crianças e adolescentes. A partir daí foi iniciado o bate-papo propriamente dito. Os meninos e meninas, que ocupavam algo em torno da metade da plateia do teatro Gregório de Matos (formada também por adultos – representantes de projetos sociais e da prefeitura, entre outros), tiveram cerca de 30 minutos para fazerem suas perguntas e serem respondidos.
Embora tenha sido um espaço importante, os adolescentes presentes demarcaram que ainda não foi suficiente. “Pensei que o prefeito tivesse mais tempo para ouvir os adolescentes porque eram muitos os que queriam expressar um pouco das suas inquietações sobre a cidade em que vivem”, disse Vitória Oliveira, 18 anos, adolescente mobilizadora do Vozes da Cidade. Foram ao todo dez perguntas, falou-se sobre segurança, ciclovias, cursos de arte, extermínio da juventude negra, centro cultural em Cajazeiras, mobilidade, entre outros.
Kelly Barreto, 17 anos, também adolescente mobilizadora do projeto, declara também desejar mais espaço de escuta, mas aguarda encaminhamento do que foi apresentado ao prefeito. “Foi bastante proveitoso, mas poderia ser melhor. Seria bom que no próximo tivesse mais a participação de adolescentes. Além disso, espero que, depois do que foi exposto, a gente tenha um retorno sobre quais são os projetos que a Prefeitura vai executar para sanar os problemas que apresentamos, e quais irão seguir as nossas propostas de solução”.
José Humberto da Silva reiterou que o Fórum cumpriu seu papel e deve ser celebrado como um avanço no que se refere à participação das crianças e adolescentes. “O projeto plantou a semente da participação em milhares de crianças e adolescentes por toda cidade de Salvador; o Fórum foi uma oportunidade de preparar ainda mais o terreno para que num futuro próximo tenhamos uma participação ainda mais efetiva deles na construção da cidade”, disse. Para ele, foi um primeiro grande passo no caminho de incorporar esse público nas decisões da gestão pública que impactam em suas vidas.
Ao final de suas respostas, finalizando o encontro, o prefeito se mostrou satisfeito com a experiência. “Foi uma tarde gloriosa. Espero repetir isso mais vezes”.
Fórum Permanente
Infelizmente, a implantação do Fórum Permanente não aconteceu durante o evento do dia 31 de março, como estava previsto. Uma manifestação popular estava prestes a passar pelo Teatro Gregório de Matos, palco do Fórum Municipal, o que levou seus produtores a adiar tanto a criação do Fórum Permanente como a instalação do Grupo de Trabalho para a Elaboração do Plano Municipal de Redução das Desigualdades Intramunicipais. O Conselho Municipal dos Direitos da Criança e do Adolescente (CMDCA), que está à frente dessas ações, definirá nova data para a continuidade do processo. Dessas ações, dependem a realização dos fóruns territoriais, a serem realizados nas regiões administrativa da cidade.
Diagnóstico
No período da manhã, o Fórum foi protagonizado pelos secretários municipais Guilherme Bellintane (Educação), José Alves (Saúde) e Bruno Reis (Promoção Social, Esporte, e Combate à Pobreza). Eles apresentaram o diagnóstico da situação da infância e adolescente, cujos dados têm como base os indicadores construídos dentro do âmbito do projeto Vozes da Cidade.
Os dados expuseram as desigualdades da cidade de Salvador. Por exemplo, há territórios que, em cada grupo de 100 mil, registram 77 mortes de crianças e adolescentes por causas externas, enquanto outros não têm registros dessas ocorrências. O diagnóstico compõe um panorama atual que será comparado aos dos próximos anos, sempre com base nos mesmos indicadores, para aferir se a gestão pública escutou as vozes de seus adolescentes e crianças, e trabalhou por uma Salvador com menos desigualdades.