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Estação Bicicleta fecha ciclo reflexivo sobre mobilidade com crianças do Subúrbio

“Quem  sabe o que é mobilidade?” Com esse questionamento iniciavam-se os encontros com as crianças que participavam do projeto Estação Bicicleta Subúrbio que, desde abril, vinham participando de diálogos e atividades sobre o espaço urbano, como nos movimentamos pela cidade e quais nossos direitos e deveres no trânsito. No último dia 25 (julho), no Espaço Cultural Alagados, em frente à Escola Comunitária Luiza Mahim, o Coletivo MobCidade, em parceria com a Avante – Educação e Mobilização Social, por meio do projeto Estação Subúrbio – nos trilhos dos direitos (Avante e KNH), fez o encerramento da iniciativa numa tarde com oficina de cidadania, mecânica básica de bicicleta e exibição do filme Elo perdido, o Brasil que pedala, de Murilo Azevedo e Renata Falzoni, dando uma mostra dos encontros realizados ao longo dos derradeiros três meses.

“Escolhemos o Subúrbio pela sua potência, as pessoas já usam a bicicleta como um meio de transporte, então a gente tá plantando uma sementinha para despertar esse olhar crítico sobre o dia a dia”, conta Márcia Menezes, participante do Coletivo MobCidade. No entanto, o público do Projeto, em geral, ainda está acostumado a ver a bicicleta como mais um brinquedo. Ane Vitória, de 8 anos, por exemplo, tem uma rotina familiar com a bicicleta, “a gente [ela, a irmã e a prima] vai quase todo dia passear na Ribeira com meus pais ou minha tia brincar e ver o mar, de patins e de bicicleta”, conta. Nas oficinas do MobCidade Ana Vitória teve a oportunidade de entender que, com certos cuidados, sua amiga bicicleta pode ser, também, uma opção para sua mobilidade na cidade.

É o que conta Julia, 10 anos: “Aprendi muita coisa sobre bicicleta, que devemos olhar para um lado e para o outro para atravessar, ver se tem alguma pessoa passando, ou carro, ou moto e devemos parar”, disse. Já Carolina, 11 anos aprendeu a ter mais autonomia nos cuidados com sua “amiga” e ainda ganhou uma nova câmara para o pneu, cola e adesivos para tampar furos durante a oficina de mecânica de bike, que foi pensada para ajudar as crianças a entender o funcionamento das bicicletas, qual o tamanho ideal para cada idade e como fazer pequenos reparos. “A câmara de minha bicicleta estava furada e eu não conseguia identificar onde ficava o furo. Agora eu posso concertar sozinha ou com alguém, pois aprendi a encontrar o furo. Ganhei uma cola e uma figurinha pra colocar no furo, e uma câmera nova também”, disse. Carolina adora descer ladeiras de bicicleta, mas vai para escola andando todos os dias, apesar de afirmar preferir ir montada na sua bike. “Eu sempre pergunto se posso ir de bicicleta para minha mãe, é mais divertido, mas minha mãe não deixa porque não tem onde prender”, contou.

Proteção e cidadania

Nas oficinas de cidadania a equipe do MobCidade fez uso de cenas teatrais e ilustrações para estimular uma leitura crítica de situações do cotidiano. “A questão de gênero, questão racial, respeito aos idosos, infância, tudo está no universo da cidade, inserido no debate da mobilidade ativa. Debatemos um trânsito que envolve todos esses aspectos sociais, então, levantamos várias questões: como a gente se movimenta pela rua? Que tipo de transporte a gente usa, como a gente se relaciona com as pessoas? como a gente se relaciona com a cidade? quais são nossos direitos enquanto cidadãos?”, contou Débora Didone, integrante do Coletivo MobCidade.

Jéssica Ribeiro, educadora da Rede de Protagonistas em Ação de Itapagipe (REPROTAI) e integrante da equipe que acompanhou as crianças, falou da importância delas, desde cedo, refletirem sobre o espaço urbano, “eu achei muito importante a parte das encenações para as crianças aprenderem sobre assédio, por exemplo, qual a forma certa de se abordar uma pessoa na rua, como se proteger no trânsito”, contou. Após a oficina, Ana Clara, 11 anos, demonstrou ter recebido o recado. “Aprendi que devemos ficar atentas quando andamos na rua e os homens ficam paquerando a gente, e que nós devemos tratar o outro com educação também”, disse.

Tauane, 10 anos, destacou as histórias e brincadeiras. “Eu li a historinha que eles me deram e participei da brincadeira da bicicleta”, disse, referindo-se à oficina de mecânica e às encenações teatrais, recursos lúdicos utilizados em todos os encontros. Ketlin Pedreira, 7 anos, comemorou por ter sido a vencedora do sorteio do livro Bicicleta Branca, de Igor Colares, com ilustração de Carlos Varejão, e disse que gostou do que leu – uma história que valoriza a vida no trânsito por meio de acontecimentos que envolvem uma Ghost Bike (bicicleta colocada no local onde um ciclista foi morto por um veículo motorizado, servindo como um memorial e um recado para os motoristas para compartilharem as estradas).
O Projeto Estação Bicicleta elaborou uma cartilha sobre mobilidade ativa, intitulada Como vou?, com dicas sobre como se preparar para uma caminhada e como fazer uso seguro da bicicleta. Além do Espaço Cultural Alagados, local escolhido também para a largada do Projeto, em 11 de abril, também participaram da ação as crianças e adolescentes da Ocupação Quilombo do Paraíso e da Escolab Coutos. O projeto integra o programa Casa Cidades, realizado pelo Fundo Socioambiental CASA, com o apoio financeiro do Fundo Socioambiental Caixa e OAK Foundation.

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