Camaçari (BA) – Coordenadoras Pedagógicas de Camaçari conhecem o Hino do município, degustam iguarias e resgatam danças típicas da cultura local. No encontro de formação realizado na Cidade do Saber, em Camaçari, no mês de maio, as coordenadoras exploraram a diversidade cultural do seu município e mantiveram contato com um dos princípios do projeto Paralapracá – a valorização da cultura local. A experiência repercutiu entre as profissionais da Educação Infantil e já se reflete na prática pedagógica junto às crianças.
“O objetivo do encontro foi utilizar a cultura comunitária do município como objeto de reflexão sobre que temas são relevantes para a abordagem com as crianças da Educação Infantil, e fortalecer as coordenadoras pedagógicas para que possam apoiar as professoras na condução deste importante elemento do currículo”, explica Simone Oliveira, supervisora do projeto Paralapracá no município.
Embaladas pela musical da cultura local, as coordenadoras pedagógicas dançaram com as mulheres da Chegança Feminina de Arembepe, fundada por Dona Elizabete Souza (D.Bete). A Chegança de Arembepe é um grupo de mulheres da terceira idade que dançam a Marujada, uma adaptação da Chegança dos Mouros trazida para a região por um tio de D.Bete e seu amigo. Com a morte de seus fundadores, a tradição foi mantida viva pelos homens da família. Depois de um período o costume foi esquecido para ser resgatado, anos depois, pelas mulheres da comunidade, sob o comando de D.Bete.
O Encontro Cultural das coordenadoras pedagógicas de Camaçari também proporcionou às educadoras o contato com uma Paisagem Gastronômica típica da região por meio da degustação da pinaúna – tipo de ouriço do mar característico de Arembepe – orla de Camaçari. O consumo da pinaúna pelas famílias da região vem sendo passado de geração em geração e é apreciado também por turistas e visitantes. “Antes da degustação nós assistimos a um vídeo sobre a pinaúna que dizia ser ela rica em nutrientes, fonte de energia e excelente afrodisíaco”, conta Nilzete Rogrigues, técnica da Secretaria de Educação de Camaçari. Anualmente acontece em Arembepe o Festival da Pinaúna, quando os participantes podem conhecer as receitas e sabores da iguaria.
A Secretaria de Cultura de Camaçari preparou para as coordenadoras pedagógicas a apresentação do mapeamento de alguns grupos que lutam pela preservação das tradições culturais do município, a exemplo da comunidade de Parafuso que trabalha pelo resgate da arte do brincar, cantar, encenar, dançar e contar criativamente as histórias e tradições do município de Camaçari, como: O Boi Janeiro, Boi Mirim de Parafuso, Bailes Pastoris, Samba de Caboclo, dentre muitas outras.
Impacto na prática pedagógica
Após as vivências, as educadoras foram convidadas pela assessora pedagógica, Rita Margarete, e pela supervisora, Simone Oliveira, a refletir sobre a importância de se trabalhar com expressões culturais significativas do município; sugerir práticas com as crianças voltadas para o conhecimento e a valorização da cultura comunitária, além de compartilhar experiências do que já vêm sendo realizado junto a este público nas instituições.
“Neste encontro trocamos saberes e conhecemos mais da nossa história, podendo, agora, ressignificar nossa prática e construir um acervo cultural, novos saberes e novas descobertas com as crianças da Educação Infantil”, conta Ana Lúcia Moraes, coordenadora pedagógica e professora da Escola Monteiro Lobato, sobre como a formação foi importante para que as educadoras começassem a refletir sobre a importância de valorizar a história cultural do município.
A coordenadora pedagógica da Creche Gleba C, Lucília Mota, explica que após as formações do Paralapracá ela passou a ter uma nova compreensão da importância destes momentos de ampliação cultural, tanto para as educadoras quanto para as crianças. “Eu compreendi que ao ter contato com o ambiente e seus valores a criança amplia seu conhecimento de mundo sobre o meio físico, natural e social”. Para ela, falar da cultura local em Educação Infantil é falar da comunidade na qual as crianças estão inseridas, sua cidade, sua rua, sua família. “Isto dá ao sujeito o seu primeiro passaporte para a cultura”, diz.
Lucília Mota lembrou durante a formação de uma experiência vivenciada pelas crianças da Creche Gleba C quando a avó de uma delas visitou o grupo e resgatou canções típicas da sua infância. “Ela interagiu com as crianças e a equipe pedagógica e, de algum modo, passou um pouco da cultura local. Este momento possibilitou ao grupo um maior contato com seu elo afetivo e cultural, em especial com sua neta”.
Para ela, é na escola que tudo ganha uma roupagem sistematizada, o que agrega importância às vivencias e atividades lúdicas no resgate da cultura e às iniciativas de preservação do patrimônio cultural da sua comunidade. “A influência disto no desenvolvimento pedagógico se revela no crescente prazer de estar juntos, na facilidade em relacionar-se com os elementos da natureza e, dependendo da mediação da educadora, da possibilidade de fazer com que elas (as crianças), percebam-se enquanto autoras de cultura e reprodutoras da mesma”, explica Lucília. A educadora destaca que, para isto, se faz necessário possibilitar que as crianças se envolvam em ações que permitam a exploração do mundo e questionamentos sobre o meio à sua volta.
O Paralapracá é um projeto do Instituto C&A, executado pela Avante – Educação e Mobilização Social, nos municípios: Camaçari (BA), Maceió (AL), Maracanaú (CE), Natal (RN) e Olinda (PE). A iniciativa visa contribuir para a melhoria da qualidade do atendimento às crianças na Educação Infantil, com vistas ao seu desenvolvimento integral. O projeto se desenvolve em aliança com secretarias municipais de educação e possui dois âmbitos de atuação: a formação continuada de profissionais de Educação Infantil e o acesso a materiais de uso pedagógico de qualidade, tanto para crianças quanto para professores.