Entrevistas realizadas em 24 escolas das cinco redes municipais parceiras do programa Paralapracá identificaram que crianças oriundas de pré-escolas atendidas pelo Programa chegam ao ensino fundamental com mais de um ano e meio à frente no desenvolvimento de sua curiosidade, criatividade e abertura a novas experiências, em comparação com colegas de escola com perfil sociodemográfico semelhante. Esses e outros resultados levantados pela avaliação de impacto do Programa, realizada pela empresa Plano CDE serão apresentada na X Reunião da ABAVE (Associação Brasileira de Avaliação Educacional) que acontece em São Paulo, entre os dias 28 e 30 de agosto.
O estudo aconteceu em escolas que passaram pelas formações do Programa e outras, das mesmas regiões, que não passaram pelas formações. O objetivo foi identificar o real impacto da iniciativa nas política públicas educacionais nas cinco redes municipais do nordeste, parceiras no segundo ciclo do Programa (2013 – 2017). O Paralapracá é uma frente de formação de profissionais da Educação Infantil, realizado pela Avante – Educação e Mobilização Social, em parceria com as secretarias municipais de Educação, que visa contribuir para a melhoria da qualidade do atendimento às crianças nesse segmento, com vistas ao seu desenvolvimento integral. O Programa atuou em dez redes municipais nordestinas (2010 e 2017), em dois ciclos. No ciclo I (2010 e 2012) nas cidades de Campina Grande (PB), Caucaia (CE), Feira de Santana (BA), Jaboatão dos Guararapes (PE) e Teresina (PI); e no ciclo II: Olinda (PE), Natal (RN), Maceió (AL), Camaçari (BA) e Maracanaú (CE). Em 2015 o Programa tornou-se metodologia consagrada pelo Guia de Tecnologias Educacionais do Ministério da Educação (MEC).
ABAVE
A ABAVE constitui-se como fórum de discussão entre pesquisadores e profissionais dedicados ao desenvolvimento de pesquisas e propostas de avaliação educacional e comprometidos com a melhoria da educação em território nacional, dialogando com o princípio constitucional do direito à educação de qualidade. Esse ano, a X Reunião da ABAVE tem como objetivo redimensionar o desafio da qualidade, considerando os avanços e limites das políticas públicas que têm sido propostas visando à melhoria da educação em seus diversos níveis. O tema do encontro é: Avaliação Educacional no Brasil: o desafio da qualidade, cujo objetivo é atualizar o debate da qualidade na Educação Básica e Superior, tendo como foco as discussões em três eixos: as relações entre currículo e avaliação, por meio do debate acerca das implicações da BNCC [Base Nacional Comum Curricular] para as avaliações em larga escala; a qualidade da educação profissional e os desafios de qualidade postos ao Ensino Superior no Brasil. É nesse contexto que a avaliação de impacto do Paralapracá será apresentada.
Para Maria Thereza Marcilio, presidente da Avante, “esse resultado demonstra que trabalhando as potencialidades de qualquer criança, em um ambiente acolhedor e organizado para ela, propício para sua forma de ver o mundo, ela se desenvolve. Esse é o nosso pressuposto. Nós pensamos o brincar como eixo central porque é brincando que a criança aprende, e esse brincar amplia o desejo de aprender, inclusive com resultados nas áreas de leitura e matemática”, disse. A afirmação da presidente da Avante é corroborada em outro dos resultados da avaliação externa que constatou a contribuição do Programa para os bons resultados de aprendizado inicial de português e matemática das crianças cujas mães têm os mais baixos níveis de escolaridade. Justamente as crianças que comprovadamente tendem a ter resultados mais baixos nessas áreas. “Trata-se de um achado importante pois revela a possibilidade de transformação de histórias de fracasso e de baixas expectativas”, complementa Maria Thereza.
Avaliação
A Plano CDE focou sua pesquisa em crianças que completaram o ciclo inteiro da Educação Infantil, utilizando o método de pesquisa quantitativa presencial aplicada com os responsáveis pelos alunos que passaram pelas escolas formadas pelo Paralapracá. Foram entrevistados um total de 400 responsáveis, 200 deles de alunos que estudaram em escolas formadas pelo Paralapracá e a outra metade de escolas que não participaram das formações do Programa.
A pesquisa observou o desenvolvimento das crianças a partir dos parâmetros de Comunicação verbal; Abordagens à aprendizagem (captura aspectos relacionados à curiosidade, criatividade e abertura à experiências); Numeração e conceitos (captura noções básicas de matemática; Alfabetização formal – leitura e escrita; Conhecimento cultural (noções gerais sobre o ambiente em que a criança vive); Habilidades socioemocionais (aspectos gerais sobre o relacionamento da criança com adultos e outras crianças como respeito, colaboração, empatia etc.); Perseverança (capacidade da criança de executar tarefas com autonomia e concentração); e Saúde física.
A opção por entrevistar os pais, mães ou responsáveis (ao invés dos professores) foi feita com o intuito de “extrair informações de quem tem contato mais próximo com as crianças e com, potencialmente, menor viés, já que era de conhecimento geral que se estava avaliando um Programa parceiro da secretaria de educação”, conforme explicado no documento de avaliação.