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Alerta vermelho para racismo e LGBTfobia em espaços escolares

A escola tem se tornado um lugar hostil e iminentemente perigoso para estudantes cujas existências destoam dos padrões sociais estéticos, intelectuais, heteronormativos e socioeconômicos. 

De acordo com o último levantamento divulgado pela Organização Mundial da Saúde (OMS), o suicídio é a terceira principal causa de morte entre jovens de 15 a 29 anos e as taxas são altas entre grupos vulneráveis à discriminação, como: gays, lésbicas, transsexuais, indígenas e migrantes. Realidade que tem atingido, progressivamente, crianças e adolescentes que não têm conseguido lidar com o sofrimento psíquico ocasionado pela invalidação de suas existências, em função da sua origem, cor ou orientação sexual.

A trágica morte de um estudante do Colégio Bandeirantes (SP), no último mês de agosto, reacendeu o alerta vermelho. É preciso enfrentar as opressões estruturais do país, reverberadas na escola, para promover uma efetiva cultura de paz.

O adolescente negro, bolsista, periférico e gay, vítima de uma sociedade classista, racista e homofóbica, sucumbiu diante da repressão dos seus colegas; mesmo tendo suporte familiar, o menino teve a sua vida interrompida por não se sentir aceito num ambiente onde deveria ser incluído e protegido. 

A escola pública é, por excelência, o lugar do exercício do direito à Educação. Ao reunir as maiorias invisibilizadas, ela constitui um retrato nítido da sociedade. Nitidez que evidencia não apenas a diversidade da população brasileira, mas a reprodução de inúmeras opressões que subjugam os grupos socialmente minoritários. Ao silenciar as violências intramuros, a escola favorece um ambiente de asfixia para aqueles que escapam aos padrões sociais normativos.

De acordo com Evie Santiago, advogada e integrante-fundadora da Comissão Antirracista do Colégio Equipe (SP), em entrevista anterior à Avante, “as escolas têm dificuldade de compreender-se como parte de uma sociedade violenta, sob o ponto de vista da aceitação. Se a escola é reflexo da sociedade, ela vai reproduzir a violência de alguma forma, seja porque se omite, seja porque estimula. Quando há essa consciência, os casos começam a ser tratados como evidências de um problema estrutural e, em vez de tratar no pontual, a escola vai educar, colocar no currículo”.

Clique aqui para acessar a entrevista: “Se a escola não é empoderadora, ela não é emancipatória, ela é opressora”

O ocorrido na escola da rede privada de São Paulo é emblemático e conclama a construção de currículos voltados à humanização dos sujeitos, de forma que todos possam ter suas existências validadas e respeitadas. Esse é o terceiro episódio envolvendo a instituição, e as medidas são sempre de reflexão coletiva e suporte psicológico para a comunidade escolar. Entretanto, o que esse último episódio evidencia e denuncia é que, sem repensar a abordagem curricular, os espaços escolares brasileiros tendem a seguir potencializando e reverberando violências, contradizendo o ambiente criativo e reflexivo que pretendem ser. 

O tema, embora sensível, é salutar e necessário à escola. Segundo Evie Santiago, é preciso investir na formação dos professores e na construção de um currículo decolonial, que pressupõe letramento racial para toda a comunidade escolar. “A escola precisa ter consciência de que é parte de uma estrutura racista. Para agir intencionalmente contra o racismo e a intolerância é preciso revisar o currículo, incluir professores negros, indígenas, LGBTQIA+ dentro da sua escola, mas não isoladamente, eu digo de modo a tentar refletir o percentual social de alunos diversos que representam a sociedade”, explica Ivie. 

A escola é, para muitos estudantes que não encontram apoio familiar, o único lugar de escuta, liberdade e proteção; contudo, quando esse espaço contradiz o que esses indivíduos vulnerabilizados esperam, eles ficam sujeitos a adoecimentos mentais, ocasionando uma série de comportamentos lesivos, como a automutilação e, em último caso, o suícidio. Educar a sociedade para acolher as diferenças é uma função da qual a escola não pode se eximir. 

Neste setembro amarelo, mais do que campanhas pontuais e ações paliativas, é preciso construir reflexões coletivas para mobilizar o poder público e diferentes segmentos da sociedade à construção de mecanismos efetivos – do ponto de vista jurídico, educativo, das políticas sociais –  para o enfrentamento dessas opressões que não isenta nem mesmo as crianças. 

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