Vozes da Cidade conclui etapa de formação e escuta de adolescentes

O projeto Vozes da Cidade encerrou a etapa de escuta e formação de adolescentes e crianças. No total, 1.265 adolescentes tiveram a oportunidade de identificar os problemas que vivenciam em suas comunidades, dar propostas de como resolvê-los e de como construir uma Salvador com menos desigualdades. A etapa foi iniciada com o mapeamento de 197 grupos de adolescentes que atuavam em Salvador reivindicando seus direitos. Desses grupos foram escutados 620 adolescentes. Outros 645 passaram por um processo de formação antes de serem escutados. “Com estes números, temos um retrato das desigualdades intraurbanas de Salvador, tirado, pela primeira vez, a partir das vozes de quem mais sofrem com elas; as crianças e adolescentes”, disse o coordenador do projeto, Jose Humberto Silva.

Os adolescentes em formação foram reunidos em 31 grupos (três por região administrativa – Centro/Brotas teve quatro grupos). Cada um deles participou de um encontro de três dias, sendo um dedicado ao tema “atitude ambiental responsável”, a cargo da Companhia de Eletricidade do Estado da Bahia (Coelba), parceira do projeto. Nos outros dois dias, os temas foram sobre seus direitos de participação política e de competência para a vida, além de serem realizadas as escutas. Para tornar os dados ainda mais completos, o projeto incluiu a escuta das vozes de 120 crianças, além de ouvir também os atores do Sistema de garantia de Direitos (SGD) que atuam nas dez regiões administrativas da cidade.

Todos as informações coletadas – cuja sistematização contou também com a participação dos adolescentes mobilizados do projeto – foram sistematizadas em três cadernos, que serão apresentados ao prefeito ACM Neto no Fórum Municipal Vozes da Cidade, que contará com a participação dos grupos de adolescentes escutados.

Participação Social

Para o coordenador de área do projeto, Elder Mahin, responsável pelas regiões administrativas Pau da Lima e Cabula/Tancredo Neves, as escutas foram momentos importantes para os adolescentes e crianças escutadas.  “Eu diria que para cerca de 90% deles foi a primeira oportunidade que tiveram de participar de uma consulta pública. Apesar de alguns já estarem organizados em suas comunidades, os espaços de escutas públicas dificilmente chegam até eles. Acredito que com isso conseguimos plantar uma semente da participação social nesses adolescentes”, disse.

Entre as diversas escutas e formações realizadas nas duas regiões coordenadas por ele, Mahin destaca a reunião com os adolescentes que cumprem medida socioeducativa na Fundação da Criança e do Adolescente de Salvador (Fundac). “A participação dos adolescentes foi muito boa; as respostas mais aprofundadas de todo o processo de escuta. Eles falaram muito sobre a redução da maioridade penal, escolhas de seus governantes, do direito ao voto, da corrupção, se mostraram bastante preocupados sobre a atual situação do país e afiados para o trabalho político. Ressaltaram muito a falta de oportunidade de participação política dos adolescentes”, contou.

A semente da participação social também encontrou terreno fértil nas regiões administrativas Cajazeiras e Subúrbio/Ilhas. Seu coordenador de área, Frank Ribeiro, conta que as formações foram muito procuradas. “Formamos 120 adolescentes, 60 em cada região. Mas, pela demanda, poderíamos ter realizados mais duas formações. Ou seja, o Vozes da Cidade, além de escutar e formar centenas deles, provocou um sentimento de que é possível participar e o desejo de saber como ser mais ativo na construção de suas comunidades”.

Frank Ribeiro ressalta ainda que as formações e escutas deram condições aos adolescentes de intensificar a participação política. “É muito interessante você lidar com adolescentes que estão muito mobilizados no campo da cultura, dançando, fazendo street dance, mas com uma base política frágil. Eles não sabiam muito bem como auxiliar sua comunidade, como, por exemplo, a quem consultar e como consultar; orientações básicas que abriram os caminhos para a sua incidência política. Este processo formativo serviu muito pra isso, para eles se articularem de maneira mais eficiente em suas atividades”.

Vozes em silêncio

Alcançar adolescentes dentro de um perfil preestabelecido, ou seja, que participavam de coletivos que já tinham alguma incidência política na busca por seus diretos (critério usado para o mapeamento), sem nenhuma informação prévia sobre onde encontra-los, foi uma das tarefas que exigiu muito dos coordenadores e dos adolescentes mobilizadores do projeto durante esta etapa. Outros obstáculos foram também superados durante as formações. E o principal deles foi fazer com que meninos e meninas, que não tinham o costume de falar sobre suas realidades, saíssem do silêncio. “O sucesso nessa etapa, acredito que se deva à metodologia criada para realizar essas formações”, destaca Dhay Borges, coordenador de área do projeto, responsável pela região administrativa Liberdade/São Caetano.

“Nas formações conseguimos perceber, em primeira instância, a dificuldade deles em apontar os problemas. Mas a metodologia, que foi pensada para eles, nos levou ao êxito de ouvir essas vozes que estavam silenciadas. Além da metodologia, que nos dava condições de criar, o projeto acertou ao escolher coordenadores e adolescentes mobilizadores residentes nas áreas onde atuávamos, isso facilitou muito no processo. Usamos bastante o interesse deles em ouvir estórias de pessoas de suas comunidades como meio de sensibilizá-los, desarmá-los e fazer com que se sentissem à vontade para falar sobre suas comunidades”, disse.

Diversidade

Uma das características da cidade de Salvador é a sua diversidade de grupos sociais. “Nós buscamos ao máximo reproduzir este aspecto ao ouvir e formar grupos diversos em suas condições socioeconômicas, culturais, religiosas, étnicas e de gênero”, explicou o coordenador do projeto, José Humberto Silva.

Entre os 31 grupos formados, foram priorizados os segmentos de arte e educação, esportes, projetos sociais, adolescentes em cumprimento de medidas socioeducativas, moradores de rua, educação especial (surdos), religiosos de diferentes correntes, como, por exemplo, terreiros de candomblé, entre outros. Esse mesmo direcionamento foi dado às escutas de crianças. Foram escutados grupos oriundos de famílias com maior poder aquisitivo e moradores de bairros como Pituba, Rio Vermelho e Caminho das Árvores, assim como crianças moradoras de bairros periféricos como Valéria, Cajazeiras e Mata Escura, entre outros.

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