Covid, Educação e volta à escola. O diálogo como caminho

De todas as preocupações que nos têm assolado em relação à pandemia, a que primeiro nos acometeu foi o fato de as crianças e adolescentes, supostamente assintomáticos, serem potenciais transmissoras do novo coronavírus. Dessa informação, advinda de um tempo em que pouco ou quase nada conhecíamos do fluxo de transmissão, do tratamento, ou mesmo dos sintomas, veio a urgência do fechamento das escolas. Um ano depois, distante do convívio e, em alguns casos, enfrentando os desafios de um repentino (e muitas vezes improvisado) ensino remoto, com o fosso de desigualdades brasileiras aprofundado e muitas pesquisas sendo feitas a toque de caixa, será que crianças e adolescentes são, realmente, os principais transmissores do vírus? Será que, neles, os sintomas são sempre brandos? Será que, apesar de ser um equipamento social de extrema importância, a escola deveria abrir nesse momento? Será que o fato de a escola estar fechada significa que a Educação deva estagnar, no aguardo de um possível retorno?

De pesquisa em pesquisa as informações mudam, aparentemente entre o nascer e o pôr  do sol. Algumas afirmam que as crianças transmitem a doença menos que adultos; que as escolas não são foco da transmissão; e, quando há surtos, é mais comum que o primeiro caso seja em um professor, este sim o transmissor em potencial – sugerindo a alguns pais a possibilidade de uma reabertura segura. Com o surgimento de novas cepas do vírus, os informes sobre os índices de contágio, internamento e óbitos trouxeram uma novidade preocupante – o aumento de casos graves em crianças, mesmo sendo ainda proporcionalmente bem menos do que os em idosos e adultos, é sempre motivo de mais consternação e comoção. Para agravamento das preocupações dos pais e ao contrário do que se pensava no início, percebe-se que as crianças e adolescentes vêm deixando o perfil dos casos assintomáticos. 

Nesse caso, o que fazer? Abrir as escolas no pico do contágio e com o sistema de saúde brasileiro em colapso, deixou ser a opção para muitos cidadãos e instituições que defendiam a abertura sob o argumento de ser a escola um equipamento público de extrema importância na defesa dos direitos de crianças e adolescentes. O direito à vida sempre fala mais alto. No entanto, é imperativo que a escola não tome o momento como algo efêmero e fique parada, nem restrita aos muros que a cercam. Começa-se a reconhecer que os efeitos da pandemia perdurarão e a Educação precisa se adaptar, tomando esse momento como uma oportunidade de refletir e rever práticas ultrapassadas redirecionando rumos, visando uma Educação de qualidade e para todos, é que tem desejado profissionais da área e estudantes. 

O Diálogo para uma ação segura e imediata, mas também para o entendimento de uma nova prática pedagógica é o que se busca. E é nele que a Avante – Educação e Mobilização Social fincou seus pés. 

Decidadania 

No final de 2020, a instituição integrou um programa de formação e apoio à  deliberação cidadã – Decidadania. A  iniciativa é do coletivo Delibera Brasil, que traz a proposta de montar Minipúblicos, também conhecidos como Júris Cidadãos e Assembleias Cidadãs, formados por um grupo representativo da comunidade, definido por sorteio, que  faz uma imersão, delibera e faz recomendações sobre decisões de interesse público. 

Há 25 anos imersa na busca pela garantia do direito a uma Educação de qualidade para todos e diante do contexto de precariedade em que nos encontramos, a Avante se viu ainda mais comprometida com o propósito de participar e fomentar esse diálogo, colaborando para um planejamento responsável, solidário e coletivo, que vá ao encontro de uma solução territorializada, no que se refere ao retorno à escola. Numa parceria com o Delibera Brasil, por meio do Decidadania, a Avante decidiu montar seu Minipúblico e reunir gestores, coordenadores pedagógicos, professores, profissionais de apoio à Educação, familiares e estudantes, de forma a contribuir para a elaboração de um plano de reabertura, considerando os protocolos de segurança, sim, mas também promovendo uma reflexão sobre a qualidade da Educação que vem sendo oferecida, mesmo antes da deflagração da pandemia. 

O intuito é colaborar para que algumas das inúmeras perguntas encontrem respostas. E para tanto, o diálogo entre os diversos setores da sociedade parece ser a única certeza que temos no momento. Mais do que protocolos, precisamos de reflexão urgente. Mais do que um retorno que atenda ao mercado, precisamos da mudança de paradigmas, uma reviravolta na cultura, para garantir a saúde, a Educação e, na liga de tudo, o cumprimento de deveres cidadãos, visando a garantia de direitos.

“Não podemos deixar as decisões nas mãos de quem não está olhando pelo coletivo. Será que as propostas surgidas até aqui são realmente seguras e refletem as reais condições de cada município? De cada instituição? E será que é possível retomar o modelo de Educação que vínhamos tendo?”, reflete Maria Thereza, que defende a necessidade de trazer todas essas e outras questões à tona, antes de uma tomada de decisão. E com isso, não deixar de cuidar do direito básico à Educação, para todos.

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