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Você não vem brincar?

O que fazer quando as crianças já não se aventuram a se divertir longe das telas? Quando os jogos digitais viram o centro das atenções delas, outros modos de brincar perdem lugar. 

Para além do debate acerca dos prejuízos provocados pelo uso excessivo de telas pelas crianças, a proposição da Avante – Educação e Mobilização Social com a indicação do livro Você não vem brincar? é sugerir uma experiência de leitura e reflexão sobre o tema com as crianças. Apresentá-las um personagem com o qual se identifiquem e uma narrativa que lhes permitam visualizar também a perspectiva dos familiares e amigos, que passaram a disputar a atenção de Pedro – o protagonista – com os jogos digitais.

O livro de Ilan Brenman, autor do conhecido “Até as princesas soltam pum”, é uma dica para pensar com as crianças a relevância do brincar livre e coletivo para uma infância saudável e divertida. 

Você não vem brincar? é uma narrativa simples e propositiva, cujo objetivo é colocar aquela pulguinha reflexiva atrás da orelha das crianças.

As ilustrações de Carlo Giovani conferem uma ludicidade especial à narrativa e materializa esteticamente uma concepção analógica da realidade, com personagens e cenários representados em moldes de papelão, confeccionados integralmente pelo artista visual, e fotografados para montagem das cenas.

A leitura compartilhada é indicada para crianças a partir dos três anos, e a independente, para crianças a partir dos sete. 

A narrativa

Toda criança que tem acesso a telas – tablet, celular, computador ou TV – vai se identificar com Pedro, o menino de muitas amizades, mas que se prendeu a uma só.

Pedro tem uma família presente. Sua mãe, pai, avós e irmã caçula adoram estar com o menino e brincar com ele, assim como os seus colegas da escola. Mas, por um certo tempo, Pedro trocou todos eles pelos joguinhos digitais.

Tirar Pedro da telinha se tornou um desafio para toda a sua família e colegas. Ele sempre rejeitava os convites mais legais, com o mesmo argumento: “Já estou brincando”.

Pedro esqueceu como era divertido jogar bola, correr atrás de pipa e quebrar a cabeça com os jogos de peças de montar; esqueceu como era gostoso correr, pular e rir até se cansar.

O intruso amigo de bateria recarregável aprisionou Pedro num mundo de luzes e movimentos simulados. A sua nova realidade estava ali, diante dos seus olhos, dentro da sua cabeça e imaginação. Era legal? Sim! Mas, os seus amigos, irmã, pai, mãe, vovô e vovó, com centenas de ideias brincantes, não mereciam um lugarzinho no seu dia? 

A obra de Ilan Brenman não é contrária ao uso das telas, mas convida a criança a pensar que todas as brincadeiras têm o seu lugar e que cada uma delas pode proporcionar experiências singulares de diversão. 

Pedro não erra quando diz que já está brincando. As telas também proporcionam o brincar, mas o personagem se isola e reduz o seu repertório de brincadeiras em função do aparelho eletrônico.

Embora muitas crianças se identifiquem com Pedro ao ler a sua história, ao final do livro, é possível que os pequenos leitores também percebam (ou devam ser levadas a perceber) que, para suas famílias e amigos, talvez eles sejam o Pedro das suas histórias. Afinal, qual criança ficaria contente com a rejeição de um convite do colega para brincar?

Pedro muda o curso da história ao desviar o olhar do aparelho e se deparar com a cena de sua família e amigos se divertindo no tapete da sala com um pião semelhante ao do jogo digital.

O livro é um excelente convite ao diálogo sobre as tecnologias digitais com as crianças e uma inspiração para que elas produzam, a partir das ilustrações, os seus próprios brinquedos.

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