Salvador e a maior feira livre da América Latina ganham uma cooperativa de reaproveitamento de alimentos

Em meio a frutas, verduras, artigos de candomblé, temperos, ervas, objetos de artesanato, carnes e uma infinidade de produtos, a Feira de São Joaquim se configura como o maior mercado a céu aberto da América Latina. Importante para a economia local e detentora de uma riqueza cultural incomparável, a feira contribui historicamente para a formação social e financeira de Salvador. Em meio às comemorações dos 465 anos da capital baiana, a cidade e a feira ganham um presente: a inauguração de uma cooperativa de reaproveitamento de alimentos, empreendimento solidário que promete ressignificar o local de modo sustentável. A CooperFeira Novo Sabor será lançada no dia 2 de abril, às 10h, com acesso aberto ao público. Além de beneficiar a comunidade feirante de forma direta, o grupo produtivo solidário tem potencial para diversificar o comércio local e reforçar o caráter turístico de São Joaquim.
A ideia para criação do negócio surgiu ao se constatar o destino dado aos itens não comercializados na feira. “Estudos desenvolvidos antes da criação da cooperativa mostraram que os refugos ou produtos que não vão para o lixo são doados a colégios, orfanatos e asilos, no entanto, mesmo com essa ação, só 20% das mercadorias é aproveitado e 80% tem como destino o lixo”, aponta Fabiane Brazileiro, coordenadora do projeto É Dia de Feira Solidária, que assessora a cooperativa. “Há um desperdício muito grande na Feira de São Joaquim. Mais de 20 mil toneladas de lixo por dia são retiradas da feira, isso são dois containers gigantes. E muitos desses produtos podem ser reaproveitados”, confirma o presidente do Sindicato dos Feirantes e Ambulantes de Salvador (SindFeira), Marcílio Costa. A iniciativa foi criada com a assessoria da Avante – Educação e Mobilização Social, por meio do projeto É Dia de Feira Solidária, executado com recursos da Secretaria de Trabalho, Emprego, Renda e Esportes da Bahia (SETRE).
Observando os números da feira, pode-se verificar o impacto que a atividade causa na economia. Segundo dados da Companhia de Desenvolvimento Urbano do Estado da Bahia (Conder) de 2010, a Feira de São Joaquim ocupa hoje uma área de 36.595 m² entre a Baía de Todos os Santos e a Avenida Oscar Pontes, no bairro do Comércio, possuindo uma área construída de 29.535 m², com 2.215 estabelecimentos comerciais. Em espaço grandioso, com 10 quadras e 22 ruas, agrega 1.339 boxes e 876 bancas, reunindo um universo de 7.500 pessoas que dependem diretamente da feira para sobreviver, entre essas, 3.500 feirantes. “Mesmo após mais de 50 anos de funcionamento, a Feira de São Joaquim ainda mantém grande volume de venda. Ela abastece muitas casas de famílias soteropolitanas, além de todos os terreiros de Salvador, mercadinhos e ambulantes de bairros da cidade”, conta Marcílio Costa. Segundo ele, nenhuma feira em Salvador se compara a ela, nem mesmo a Feira das Sete Portas ou Mercado de São Miguel. “Isso acontece porque São Joaquim é uma feira muito grande e diversa”, completa.
Essa diversidade, pela qual é reconhecida, irá se ampliar ainda mais, visto que a cooperativa comercializará novos produtos feitos a partir dos refugos de São Joaquim. “Os refugos vão passar por processo de escolha, lavagem e sanitização para que se tornem viáveis e seguros para consumo. Então poderão ser transformados em produtos desidratados, compotas, doces e polpa de frutas sem a utilização de conservantes”, esclarece Graça Wanderley, nutricionista do projeto É Dia de Feira Solidária.
Com o objetivo de divulgar a prática de reaproveitamento, a CooperFeira proporciona ao público tours por seu centro de produção, que fica dentro da própria Feira de São Joaquim, na Rua do Muro. Durante a experiência, o público conhecerá o maquinário utilizado, as práticas de higiene e segurança e degustarão produtos. Os tours acontecerão no dia 2 de abril, das 10h às 14h, durante o evento de lançamento da cooperativa.