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Riacho das Almas (PE) – Jeans é substituído por Algodão no combate ao COVID-19 e enfrentamento ao Trabalho Infantil

Ao trocar o jeans pelo algodão, 100 famílias do município de Riacho das Almas (PE) que vinham sendo atendidas pelo Prote -Já, projeto da Avante com Fundação Brasil de Direitos Humanos, de enfrentamento ao Trabalho Infantil nas confecções da região, passam a se dedicar à produção de cinco mil máscaras, que serão distribuídas para a comunidade local, gratuitamente.

A ação terá início ainda em maio, conforme conta Zé Humberto da Silva, consultor associado da Avante – Educação e Mobilização Social e coordenador do “Prote-Já Covid-19”, que tem como principal objetivo desenvolver ações de combate à pandemia do Corona vírus na cidade, por meio do apoio direto às famílias mais vulneráveis, que estejam inscritas em contexto de Trabalho Infantil. O nome do atual projeto deriva de uma primeira ação realizada pela instituição no ano passado (2019), por meio de edital da Fundação Brasil de Direitos Humanos – o projeto Prote_Já, que resultou no Diagnóstico da problemática do Trabalho Infantil no município de Riacho das Almas (PE), na formação articulada dos atores sociais que compõem o sistema de Garantia de direitos (SGD) E na produção da cartilha Trabalho Infantil na cidade de Riacho das Almas.

Proteção

O Prote_Já COVID-19 irá distribuir cinco mil máscaras confeccionadas por 100 famílias que antes se dedicavam à produção de peças para o fabrico de jeans. Cada uma das famílias irá receber uma cesta básica e um kit higiênico – com papel toalha, sabonete e álcool em gel, além de todos os insumos necessários à produção das máscaras: dez metros de tecido de algodão, elástico e barbante. De uma lado, fortalecendo a prevenção de contaminação da população local com a distribuição das máscaras, do outro reduzindo os impactos da pandemia em 100 famílias selecionadas pelo Cadastro Único para Programas Sociais do Governo Federal (CadÚnico) e identificadas por agentes comunitários (ACS) como aquelas que tenham em casa crianças e adolescentes trabalhando na cadeia produtiva do jeans. “A pandemia gerou, para essas famílias, uma vulnerabilidade ainda maior, pois houve queda na produção de jeans. Elas, que já eram vulneráveis, sofreram um grande impacto na renda porque a produção das fábricas caiu e as deixou sem nenhuma renda, e/ou apenas com os auxílios do governo Federal”, conta José Humberto.

O Diagnóstico realizado pela Avante no ano passado mostrou a existência de trabalho infantil, em especial, nos fabricos e facções onde há confecção de peças para produção de jeans. Uma temática bastante delicada de ser tratada com as famílias que têm, do outro lado da corda, uma demanda de sobrevivência, agora ainda maior. “É muito difícil falar de trabalho infantil para quem tem fome. Queremos colocar luz sobre uma problemática séria, que é o trabalho Infantil na Industria da moda, e reduzir danos sem culpabilizar diretamente as famílias”, disse Zé Humberto. Por isso, junto ao kit higiênico, que conta com uma cartilha sobre como confeccionar as máscaras de proteção, irá também a cartilha “Trabalho Infantil na cidade de Riacho das Almas”, produzida no decorrer da primeira parceria entre a Avante e o Fundo Brasil de Direitos Humanos.

Poder público

O poder público local se encarregará da mobilização dos agentes comunitários e equipe da Assistência Social para leitura das duas cartilhas para esclarecimentos às famílias. Todas as máscaras produzidas serão distribuídas gratuitamente entre a população, preferencialmente entre os profissionais da Saúde.

Trabalho Infantil

O município de Riacho das Almas (IBGE/2016) tem um dos menores PIB do Estado de Pernambuco. O trabalho infantil em Riacho das Almas é uma prática cultural enraizada na sociedade local. Observando somente as pessoas de 10 a 17 anos de idade que estavam ocupadas, em 2010, segundo o IBGE, o número chegava a 562 de crianças e adolescentes, sendo que a grande maioria estava inscrita na cadeia produtiva de jeans, nas feiras livres, na agropecuária e na agricultura, causando prejuízos de diferentes ordens, como problemas de saúde e afastamento da escola.

A pesquisa de campo, realizada no âmbito do projeto PROTE-JÁ, entrevistando quase 100 pessoas residentes no município, evidenciou que a cultura do trabalho infantil é forte na sociedade local, visto como algo natural, que se repete de geração em geração, pela falta de outras perspectivas de vida para a maioria das famílias. Nessa região, a produção de confecções é uma atividade rentável que propicia oferta de trabalho e geração de renda para as famílias permanentemente, sobretudo diante da falta de oportunidade de geração de emprego e renda mais qualificados.  Essa conjuntura econômica, aliada à condição de vulnerabilidade social das famílias e à cultura do trabalho infantil, torna o trabalho na produção do jeans uma tradição local, que tem se revelado como um saber construído entre gerações, perpetuando-se como alternativa de sobrevivência. Agora ameaçada pela pandemia do COVID-19.

 

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