Infância e consumo. Muito bem abordado, o tema foi pauta do primeiro programa proposto pela Rede Estadual Primeira Infância (REPI – BA), por meio do Instituto de Radiodifusão Educativa da Bahia (IRDEB), uma das instituições que compõem a Rede. Veiculado no Multicultura – 107.5 (sempre às terças de outubro, ao meio dia), o programa foi iniciado com uma matéria sobre o tema, seguido de um “Multidebate” que contou com a participação de Mariana Sá, do Movimento Infância Livre do Consumo (MILC) e de Valderez Aragão, consultora de Sobrevivência e Desenvolvimento da UNICEF. Foram destacados assuntos de grande interesse para os cuidadoderes/responsáveis interessados em garantir os direitos da primeira infância e da infância, a exemplo da: dificuldade de regularizar a publicidade voltada para o público infantil e a alarmante obesidade em crianças, que afeta, hoje, 33% das crianças brasileiras de até 9 anos.
Apesar da existência de instrumentos de regulação como a resolução 163/2014 – que trata da abusividade do direcionamento de publicidade e de comunicação mercadológica à criança e ao adolescente – doConselho Nacional dos Direitos da Criança e do Adolescente (CONANDA), há uma grande dificuldade para colocar a regulamentação em prática. E o principal desafio são as poderosas indústrias de lazer, brinquedo, alimentação e bebidas, que chegaram a investir 209 milhões de reais em um ano em publicidade voltada para as crianças, conforme abordado durante bate papo no Multicultura.
A iniciativa se configura como uma excelente fonte de informação para os pais. No programa da última terça feira (06 de outubro) o Multidebate juntou as peças do quebra-cabeça: necessidade de saber dizer “não” aos filhos, suas dificuldades e resultado limitado diante da força de uma publicidade desenfreada e sem regras que garantam os direitos das crianças, definidas. Também deu dica de como equacionar bem a situação sugerindo que fiquem atentos para orientá-los quanto ao consumismo, ensinando-os a identificar a verdadeira razão para “querer” algo, ao lembrar que a publicidade hoje não vende produtos, mas valores e promessas de felicidade, que não sendo alcançadas pelas crianças, causam frustração e rápido desinteresse pelos brinquedos, que logo são deixados de lado, iniciando-se uma nova busca por satisfação.
O programa teve a sensibilidade de destacar dentro do contexto, a primeira infância, diferenciando-a de uma ideia de criança que, muitas vezes, não leva em consideração as especificidades desse momento tão importante e definitivo da vida. Nessa fase, foi lembrado no bate papo, o cérebro da criança de 0 a 5 anos está em desenvolvimento e com a ausência cada vez maior dos pais no ambiente doméstico, seja pela elevada carga horária de trabalho, seja pelo tempo que se consome no trânsito caótico, a falta de espaço para o brincar e se relacionar com outras crianças, e a vinculação desse consumo exacerbado à alimentação, as crianças ficam tempos cada vez maiores em casa, em frente à televisão.
O Multidebate continua no mês das crianças como uma ação do movimento Roda Gigante. Sempre às terças feiras, ao meio dia na 107.5. Na próxima terça (13), o tema discutido será “a infância e o direito de brincar”.
Roda Gigante
O Movimento Roda Gigante nasceu do desejo de garantir a proteção, o brincar, a educação e a cultura às crianças de 0 a 6 anos, e trabalha no sentido de dar visibilidade a este público por meio da ocupação de espaços públicos, garantindo o exercício do protagonismo infantil e do envolvimento de famílias, cuidadores e profissionais ligados à primeira infância. Neste sentido, um dos focos do Roda Gigante é articular a Rede Estadual Primeira Infância – BA (REPI/BA).
O movimento nasceu em 2011 a partir da parceria entre instituições e cidadãos engajados nas causas da primeira infância. Hoje o movimento conta com 25 integrantes que se reúnem mensalmente para pensar e desenvolver ações que promovam a cidadania do público em foco.
“A ideia do O Roda Gigante: primeira infância em movimento é extrapolar o discurso especializado e trazer para a população a pauta da criança pequena como sujeito de direitos, trazer para o espaço público ações e conhecimento sobre o tema. O movimento pretende mobilizar a sociedade civil de maneira mais ampla e o espaço da rádio é estratégico para isso”, diz Ana Oliva Marcilio, coordenadora do projeto Infâncias em Rede/Bernard van Leer, e consultora associada de Avante – Educação e Mobilização Social, secretaria executiva da REPI – BA.