“(…) às vezes, parece que falar das crianças é falar de um grupo homogêneo, quando cada criança tem necessidades diferentes. A atenção, no que diz respeito às diferenças, contribui para melhorar a relação, o vínculo com cada criança”, Carlos Laredo, de La Casa Incierta (Espanha).
2020. O contexto era de pandemia. Crianças e adultos em casa. Muitos desafios ficaram expostos com essa convivência intensa e diária. Em meio a essa turbulência, nasce a proposta de desenvolver a publicação digital Primeira Infância em Movimento, com o objetivo de convidar adultos a refletirem sobre a sua relação com crianças pequenas.
O livro, organizado por Ivanna Castro, consultora associada da Avante – Educação e Mobilização Social e Global Leader for Young Children (Liderança Global pela Primeira Infância), em 2019, nasceu em um contexto mundialmente desafiador, mas permanece atualíssimo, pois traz uma discussão sobre a conexão do mundo adulto com os tempos e espaços das crianças.
A publicação oferece um conjunto de olhares e reflexões sobre a relação dos cuidadores (familiares, vizinhos, professores etc) com a criança pequena, em variados contextos, como a maternidade, a educação, o brincar, a relação, os cuidados e a promoção de direitos.
“Com a experiência no World Forum [World Forum on Early Childhood Care and Education, em Macau, China, 2019] , aflora a ideia de espalhar palavras de inspiração, propulsão, sugestões, boas práticas e ação ao adulto, na relação com a criança pequena, a partir de uma “única voz”, com muitas sonoridades. Vozes pelas crianças, vindas de pessoas que representam tantas outras, e que dão vida às instituições, que juntas são alicerces para a mudança que queremos concretizar”, escreveu Ivanna na apresentação do livro.
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O tempo e o espaço na infância
“A proposta do projeto foi desenvolver uma publicação digital com o objetivo de convidar o leitor a refletir sobre a relação adulto-criança pequena, com a finalidade de prover experiências que colocassem o adulto em movimento e o levassem ao tempo e ao espaço da criança pequena”, conta Maria Thereza Marcílio, presidente da Avante.
O tempo do adulto e o tempo da criança são muito diferentes. Enquanto as crianças seguem um ritmo mais próximo ao da natureza, com observação dos detalhes; os mais velhos são mais acelerados e costumam apreender o mundo a partir de um olhar mais abrangente da vida.
Essa diferença de percepção do tempo e do espaço precisa ser ponto de atenção para os adultos, sob pena de fragilizar a conexão com as crianças, que costumam estar abertas “ao inesperado, à surpresa e à maravilha, no tempo e no espaço que elas precisem”, como nos apresenta Carlos Laredo, de La Casa Incierta (Espanha).
O livro é organizado em três sessões de textos, elaborados em parceria, que envolveram narrativas de Laredo, citado acima, Carla Stranchman e Livía Lage, do Ateliê Ecoar (RJ) e Ana Marcílio, consultora associada da Avante – Educação e Mobilização Social (BA).
Carla e Lívia colocaram em destaque experiências do projeto Ateliê Ecoar, um dos ramos de atividade da ONG Ecoar, que atua junto às famílias, aos cuidadores e às crianças pequenas em “uma perspectivas de atenção e cuidado que evocam as qualidades sensíveis da arte e da infância, tão essenciais para a existência humana”.
Ana Marcílio parte da sua experiência na maternagem para falar da riqueza de acompanhar o desenvolvimento de uma criança entre zero e seis anos. “Nesse curto espaço de tempo, a criança percorre o caminho evolutivo da humanidade: postura bípede, coluna ereta, movimento de pinças, garatujas, desenhos, fala e imaginação, criação, registro e memória. São muitas coisas, e é muito bonito acompanhar e poder se encantar com essa experiência”, escreve.
No capítulo dedicado à narrativa de Laredo – intitulado: Atividade brincando com o invisível: a maravilha da relação mágica entre pais e filhos – é possível pensar em como o tempo horizontal e cronológico do adulto pode tecer vínculos no tempo vertical do brincar da criança.
A pandemia passou. Mas, o desafio de conectar o mundo adulto com a descoberta do mundo pelas crianças permanece. A leitura de Primeira Infância em Movimento é uma oportunidade de pensar sobre o tema e conhecer importantes trabalhos que podem inspirar novos olhares e posturas.
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