
A Secretaria Municipal de Educação de Salvador (SMED) realizou, ontem, 04 de fevereiro, o último dia da Jornada Pedagógica, dando início ao ano letivo na Rede. Hoje, 05 de fevereiro, as escolas recebem crianças e adolescentes de Salvador.
Sob o título – “Direito à aprendizagem – construindo caminhos para alfabetizar na perspectiva de uma educação inclusiva e antirracista”, a Rede consolida o propósito expresso na revisão dos materiais para profissionais e crianças, em fase final de elaboração.
A abertura do encontro ficou a cargo de Cátia Verônica, diretora pedagógica da SMED, que saudou os profissionais, gestores e parceiros: Avante – Educação e Mobilização Social, Tech Kids e Bem Comum.
Além da revisão dos materiais para crianças e profissionais, realizada pela SMED, de forma participativa e colaborativa com os atores da Rede e em parceria técnica com a Avante, o investimento em uma Educação inclusiva e antirracista vem sendo colocada em prática por meio do investimento em formação e qualificação de seus profissionais, qualificação dos espaços e maior aproximação com as escolas comunitárias.
O secretário de Educação, Tiago Dantas, disse, durante o encontro, que já é possível afirmar que Salvador recuperou as perdas na Educação municipal por conta da pandemia e se compromete em apresentar dados dos resultados obtidos. Segundo ele, o plano de governo da prefeitura de Salvador está comprometido com a primeira infância e traz grandes investimentos para essa faixa etária.
Alinhado com o princípio participativo e democrático que vem caracterizando a Rede ao longo dos anos, houve espaço para cobrança pelo cumprimento do piso salarial dos professores, cuidado e assistência médica, além da necessidade de abertura de concurso com foco em mestrado e doutorado. Ao mesmo tempo, os profissionais parabenizaram por todo investimento que vem sendo realizado.
Palavra do prefeito
Bruno Reis, prefeito reeleito de Salvador, afirmou em sua fala que o município tem dois grandes desafios: melhoria do transporte público e “transformar Salvador no top 5 de Educação no Brasil”.
Bruno Reis disse que, em seu primeiro mandato, a intenção era ficar conhecido como o prefeito da Educação e que, nesse primeiro ano do segundo mandato, ao invés de falar da necessidade de economizar recursos, prefere anunciar que irá dobrar o repasse em relação ao ano passado, inclusive dos recursos que vão direto para as escolas.
Diante da insistente cobrança dos profissionais da Rede por uma palavra do prefeito sobre o piso da Educação, Bruno Reis expressou quão grande é o desafio de encontrar respostas para problemas históricos da cidade e autorizou o secretário de Educação, Tiago Dantas, a se sentar com diretores e APLB – Sindicato dos Trabalhadores em Educação do Estado da Bahia e do Conselho Municipal de Educação para negociar saídas.
Arte, cultura e participação
Após as falas oficiais, os alunos da Rede Municipal fizeram uma bela apresentação de dança e música afro, permeada pela leitura de dados do relatório “Violência letal contra crianças e adolescentes no Brasil”, da Faculdade Latino Americana de Ciências Sociais.
De acordo com o relatório recitado pelos meninos e meninas da Rede Municipal de Salvador, o país ocupa o 3° lugar no mundo em homicídios de crianças e adolescentes, em especial na faixa etária de 16 a 17 anos, contabilizando três vezes mais o número de mortes entre os cidadãos negros brasileiros.
O clima, o vestuário, a música, a palavra reivindicatória por mais segurança, não deixam sombra de dúvidas de estarmos numa cidade de maioria afrodescendente. O espetáculo, dirigido por Lázaro Machado, extrapolou os marcadores raciais e culturais e expressou a importância do respeito a todas as religiões e crenças.
Para encerrar o evento, Barbara Carine, fundadora da Escola Afro-Brasileira Maria Felipa, @umaintelectualdiferentona nas redes sociais, falou sobre a importância de ofertar de uma formação antirracista para toda a comunidade escolar. “Às vezes a professora ou o professor faz um trabalho lindo, valorizando a estética afro, mas na entrada da escola o porteiro, por exemplo, fala: ‘esse cabelo não viu um pente hoje!’ E põe o trabalho por água abaixo”, disse.
Barbara Carine afirmou que o antirracismo é uma premissa fundamental de uma Educação de qualidade e lembrou que o racismo no Brasil é de base fenotípica, partindo da estética e da aparência.
Bárbara aproveitou o momento de fala para uma plateia robusta, composta por educadoras e educadores da Rede para trazer a correlação entre a branquitude e o privilégio branco, sendo a branquitude o sistema que garante os privilégios brancos. Ela deixa de presente para a plateia a ideia de que existe, sim, o privilégio da estética – “a estética do poder”, que tem impactos subjetivos, que moldam e mudam completamente o estar no mundo de pessoas brancas e negras. “A branquitude precisa ser exterminada e o sujeito branco pode e deve ser aliado na luta antirracista”, disse.
Ana Marcilio, consultora associada da Avante, que participou do evento, acredita que Bárbara Carine trouxe excelentes pontos para reflexão, que devem refletir no planejamento e no cotidiano das escolas. “O olhar sensível que Bárbara Carine traz, com referências à decolonialidade, quando se trata da Educação Infantil e, portanto, da primeira infância, é que a importância de oferecer experiências que fortaleçam a potência das crianças e seu pleno desenvolvimento, ao invés de focar em ações de resposta ou reação ao racismo”. Ana destacou a beleza das apresentações das crianças na Jornada.