A formação continuada é inerente à função do educador, que precisa de atualizações constantes para garantir uma prática pedagógica de qualidade. Por isso, esse tipo de formação consta dos principais marcos legais brasileiros como a Constituição Federal/1988 e a LDB (Lei de Diretrizes e Base da Educação – art: 61 e 67).
Quando se fala em formação continuada a Avante acredita em um processo contínuo, dentro da instituição, valorizando o contexto escolar e fortalecendo-o enquanto ambiente de trocas e construção de saberes. Foi com esse olhar que, na quinta feira (20/09), realizou o Seminário de abertura do programa Nossa Rede Educação Infantil em parceria com a Secretaria Municipal de Educação de Salvador (SMED). O evento contou, pela manhã, com a presença de cerca de 350 participantes entre equipe técnica da SMED, representantes das Gerências Regionais, gestores e coordenadores pedagógicos da Rede. E pela tarde prosseguiu com a equipe da SMED e cerca de 150 gestores de escolas comunitárias parceiras da Secretaria, que atendem à Educação Infantil. O objetivo do encontro foi esclarecer como acontecerão as formações até 2019 para gestores e coordenadores pedagógicos das creches e pré-escolas, contribuindo para a instauração de formações “in loco” nas instituições. Entre os objetivos específicos está o fortalecimento da figura do coordenador pedagógico como formador.
O evento aconteceu no Teatro SESI Casa do Comércio. A composição da mesa de abertura pela manhã contou com duas representações da SMED – Nilse Gama, da Gerência de Gestão e Edna Rodrigues, Gerente de Currículo – e com a representante da Avante, Maria Thereza Marcilio, presidente da instituição.
Dando início aos trabalhos, Mônica Samia, consultora associada da Avante e coordenadora pedagógica do projeto Nossa Rede Educação Infantil, após exibição de uma pílula do documentário O Começo da Vida – que fala sobre a importância de se ter tempo para convivência com as crianças -, convidou os presentes a entrarem no campo do sentir, fazendo uma provocação: “O que nos mobiliza e o que nos traz aqui? O que temos em comum?”, indagou.
Pela tarde a mesa foi composta pela Prof. Joelice Ramos Braga, diretora pedagógica da SMED, Lindalva dos Reis Amorim, presidente do Conselho Municipal de Educação e por Ana Luiza Oliva Buratto, vice-presidente da Avante, que deram as boas vindas aos presentes e falaram da alegria e da importância de ter reunidas, pela primeira vez, em seminário inicial à formação continuada, as creches comunitárias conveniadas com o município.
Mesa Temática
Após apresentar o grupo de profissionais da Avante que estará envolvido nas formações do Nossa Rede Educação Infantil ao longo de um ano, foi dado início à mesa temática, que trouxe uma mostra da proposta reflexiva que dará o tom das formações e que é uma marca Avante: Relações, espaços e tempos de qualidade na Educação Infantil.
A mesa reuniu a experiência e a expertise de Maria Theresa Marcilio – mestra em Educação pela Harvard Graduate School of Education da Harvard University, ex-professora da Faculdade de Educação da UNB, ex-assessora técnica da Coordenação de Educação Pré-Escolar (COEPRE) do MEC e membro da Academia Baiana de Educação; e de Leila Oliveira, especialista em Educação de 0 a 3 anos pelo Instituto Singularidades e integrante da primeira turma de pedagogos piklerianos brasileiros em formação pelo Instituto Pikler, em Budapeste.
Maria Thereza abriu sua fala observando que subjacente ao discurso pedagógico há um discurso político que deve continuamente confrontar a economia, o sistema político e as práticas sociais. “Portanto, a Educação e, por óbvio, os educadores e a escola, se colocam num campo de disputa de concepção e de poder em que o confronto e o diálogo são permanentes”, disse. Maria Thereza ainda esclareceu que a política da qual se refere não é a partidária, não são os políticos, nem mesmo políticas públicas, mas aquela que busca o bem público, o bem para a cidade, o bem para o cidadão. Ela trouxe pontos para reflexão sobre o exercício do papel dos gestores das instituições da Rede Municipal e o lugar que ocupam na política pública de Educação Infantil. “A escola é um bem público, faz-se necessário lutar por ela, para que seja boa para todos, garantindo o direito de todas as crianças a aprenderem e se desenvolverem plenamente”, disse.
Em seguida, Leila Oliveira deu início à sua fala, dando suas impressões sobre o processo formativo iniciado ali, no Seminário: “A Avante irá conduzir esse processo com respeito pelo cuidado com as crianças. E hoje, aqui, abordaremos o cuidado a partir da perspectiva da criança. E nessa perspectiva, dou início dizendo que a creche é um elemento fundante para manter a saúde e a vida das crianças”, disse. Ela trouxe argumentos e mostrou vídeos de bebês para abordar a importância de a instituição respeitar os tempos das crianças na sua rotina diária com elas. “A rotina praticada pelas instituições convencionais é o oposto dos ritmos do desenvolvimento infantil. É muito importante respeitar os momentos da criança, os seus tempos… Isso é respeitá-la! Para a criança, se o espaço escolar não tiver relação com a vida dela, não faz sentido no seu mundo. Desde antes de nascer, o bebê já compartilha o espaço uterino com a mãe. Ela atribui vínculos ao seu entorno, por isso a escola precisa oferecer-lhe uma acolhida que lhe seja agradável, que colabore com seus processos”, disse Leila Oliveira.
Roberta Cunha, do CMEI [Centro Municipal de Educação Infantil] Dr. Eliezer Audiface, observou que “a fala da Maria Thereza Marcílio serviu para que fizéssemos uma reflexão sobre o a escola como espaço de possibilidades, sem esse engessamento que costuma ser, mas um espaço em constante aprendizado e desenvolvimento, como nossas crianças que vão se desenvolvendo neste cotidiano. Porque a escola haveria de ficar parada no tempo se ela é vida, se em todo momento circula nela afetos?”, observou.
Para Roberta os questionamentos de Leila Oliveira acerca da organização da rotina na instituição foram de grande importância. “Para quem organizamos a rotina? Para a criança é que parece não ser, pois passamos o dia todo correndo e o terminamos com o cabelo em pé, como ela bem colocou, nos queixando da agitação dos meninos já agitados pela própria rotina. Porque não repensar os processos? Porque não sair do lugar já comum e experimentar novas possibilidades? Porque não tornar o trabalho mais leve e investir nas boas relações que uma rotina mais centrada nas necessidades das crianças pode promover? Enfim, saio deste encontro com muitos questionamentos, mas com a vontade e o desejo de pensar novos fazeres, de repensar espaços e de construir uma escola que produza felicidade para todos os autores que dela fazem parte”, disse.
Após esse Seminário as formações do Nossa Rede Educação Infantil se intensificarão. Nesse segundo semestre de 2018 serão voltadas para as creches municipais e comunitárias conveniadas e no primeiro semestre de 2019 além dos gestores e coordenadores das creches participarão também as instituições que atendem as crianças de quatro e cinco anos. “Estou saindo daqui hoje mexida com a estimulação que tivemos para que venhamos tomar outros posicionamentos para com as crianças. Estou com muitas expectativas para os próximos encontros, tenho certeza que vai ser muito bacana”, disse Riane, da Associação Creche Sururu (comunitária).
Para Maricelma, da escola comunitária Luiza Mahin, da Associação de moradores de Santa Luzia, a parceria da secretaria com a Avante está mudando a cara das escolas e “pra a gente que quer uma Educação de qualidade, principalmente na Educação Infantil, tem sido muito importante. A gente vem o tempo todo cobrando isso da Secretaria Municipal e estamos vendo que está sendo encaminhado, para o bem-estar de cada criança que estuda nas escolas comunitárias”, comentou. ParaJoelice Santos, coordenadora pedagógica da Creche Escola Comunitária Frutos de Mães, em Massaranduba, a Educação Infantil estava precisando desse incentivo, “para a gente dar mais apoio para essas crianças, que são a base de tudo”.
“O momento mostra seriedade e traz reflexões importantes para a prática, fortalecendo, cada vez mais, os ideais e o olhar para as crianças. Eu acredito que movimentos como esse, investidas como essa, de formação continuada, fazem toda diferença na nossa vida. Na educação a gente se sente muito solitário, quando vemos parceiros assim, contribuindo, a gente fica feliz e empolgado. As expectativas são as melhores depois das provocações de hoje. E o desejo é que isso realmente tenha repercussão na prática com as crianças e nossos educadores”, disse Roberta Nascimento, coordenadora pedagógica de um dos Centros de Educação Infantil da Santa Casa da Bahia, no Bairro da Paz.
Nossa Rede Educação Infantil
O programa Nossa Rede é uma iniciativa da Secretaria Municipal. A Avante – Educação e Mobilização Social, em parceria com a SMED, tem realizado ações para esse segmento desde 2014. Já foram elaborados materiais para crianças, professores, familiares, gestores; feita a revisão do referencial curricular da Educação Infantil e desenvolvido o primeiro sistema brasileiro de monitoramento para esse segmento, totalmente on line, além de ações formativas para uso de materiais produzidos especificamente para o Programa. O processo foi todo construído de forma coletiva e dialógica com os diversos atores da Rede, inclusive familiares.