Memória, identidade, territorialidade. Qual o retrato da Baixa do Tubo pelo olhar das mulheres da comunidade? Quais temas inspiraram e agenciaram as suas perspectivas sobre o cotidiano comunitário? Quais imagens do presente as matriarcas desejam registrar para o futuro?
07 de dezembro foi um dia diferente para as mulheres do grupo de convívio do projeto Foco nas Infâncias: defesa de direitos na Baixa do Tubo do Coqueirinho. Nada de trabalho ou afazeres domésticos, o compromisso naquele sábado foi com uma máquina fotográfica e a relevante tarefa de representar, em imagens, a conexão entre as suas histórias e as do seu território.
Imbuídas dessa missão, as moradoras participaram de uma oficina de fotografia com Ismael Silva, antropólogo e fotógrafo documental, que acompanha a Avante – Educação e Mobilização Social em inúmeros projetos, cujos cliques estão atravessados por sensibilidade e comprometimento com os sujeitos-alvo de suas lentes.
“Com uma abordagem participativa, a atividade incentivou as participantes a criarem imagens que refletissem suas perspectivas sobre si mesmas e sobre a comunidade”, explicou Ismael. Segundo ele, “a programação combinou teoria, prática fotográfica e discussões sobre o uso da imagem como ferramenta para recontar histórias, promovendo representações mais justas e empoderadoras”.
Laís Costa, admiradora convicta da fotografia, compartilhou: “participar da oficina foi uma experiência nova, incrível e empolgante”. A participante mencionou que sempre teve o desejo de aprender mais sobre o universo fotográfico, mas por falta de recursos não pôde iniciar os estudos. “A fotografia sempre esteve presente em mim, principalmente fotografia cinematográfica. É algo que chama a minha atenção nos filmes, tanto quanto a direção”, destacou.
Para Ismael, “a oficina foi fundamental para fortalecer a autoestima e o protagonismo das mulheres enquanto guardiãs da memória comunitária”. Percepção confirmada por Aildes Evangelista, que declarou entusiasmada: “Eu achei essa oficina de fotografia muito importante, principalmente para mim, porque muitas coisas eu acreditava que não era capaz de fazer, mas eu fui e fiz. Amei minhas fotos, ficaram lindas!”.
Além dos conhecimentos teórico-práticos ofertados pela atividade, a vivência com um fotógrafo-pesquisador, imerso no campo da Antropologia Visual, ampliou o entendimento das principiantes sobre o potencial político da fotografia. Segundo ele, “por meio dessa experiência, elas puderam construir contranarrativas, enfrentando estigmas relacionados à negligência e à desvalorização cultural”, muito comuns em realidades socialmente vulneráveis.
Em seu relato, Aildes Evangelista demonstrou ter se apropriado muito bem das discussões realizadas durante a atividade. A sua leitura sobre participação comunitária, compartilhada após a oficina, revela uma compreensão clara sobre a responsabilidade e contribuição que todos podem e devem dedicar ao bem-estar coletivo. “O que é importante para a comunidade é ter pessoas que ainda são capazes de fazer alguma coisa importante por ela. Eu gostei muito, tanto que estou pensando em tomar um curso de fotografia e me tornar uma fotógrafa. Eu aprendi e vi que sou capaz de fazer”.
Com Laís Costa não foi diferente. Para a moradora, a arte e a memória por meio do olhar das mulheres da Baixa do Tubo a fizeram refletir sobre a importância de construírem memórias individuais, mas também coletivas, que, segundo ela, são raríssimas.
Conforme a avaliação de Ismael, os resultados da oficina foram muito positivos, sobretudo porque, embora para muitas participantes esse tenha sido o primeiro contato com um equipamento fotográfico, “elas não apenas aprenderam técnicas de fotografia, mas também produziram registros sensíveis e potentes, com elevado valor artístico e documental”. Imagens que, segundo ele, “reforçaram o senso de pertencimento e o papel ativo das mulheres na preservação da memória coletiva”.
Laís creditou o sucesso da oficina ao professor, e afirmou: “Ismael foi muito didático, soube trazer à tona muito bem a arte de fotografar e fez críticas muito construtivas. A sensação maravilhosa após ver as fotos que nós tiramos me deixou com vontade de dar continuidade a essa arte”.
Aildes foi enfática ao compartilhar a satisfação por participar da oficina. “É muito importante. Eu fiquei muito feliz, eu amei. Amei! Adorei participar do curso de fotografia”, ratificou.
O Projeto Foco nas Infâncias é realizado pela Avante, com apoio da Kindernothilfe (KNH).