Militante bom é militante vivo

No mês que comemoramos o 2 de Julho, uma espécie de Carnaval cívico para as(os) baianas(os), a Avante – Educação e Mobilização Social celebra as mulheres que foram importantes para Independência do Brasil e que lutaram para expulsar as tropas portuguesas, o que só ocorreu de forma definitiva, na Bahia, em 1823. 

Ao contrário do que muitos acreditam, a Independência não foi conquistada no grito, às margens plácidas do rio Ipiranga, mas, à força, por meio de lutas que nos constituíram como povo e que marcam nossas vidas até os dias de hoje. 

Celebrar as Mulheres Vivas do 2 de Julho, que seguem na luta por justiça social, equidade, liberdade, é honrar as histórias de Maria Felipa, Joana Angélica e Maria Quitéria, mas, principalmente, tornar visível a história de mulheres contemporâneas, como Rita Ferreira, Coordenadora Estadual do Movimento dos Sem Teto da Bahia (MSTB). 

Ao conversar com ela, é inevitável não pensar na trajetória das heroínas nacionais, mas também é estar diante de uma mulher do seu tempo, que defende o conhecimento como arma, a sororidade entre mulheres, a comunidade do bem-viver e o autocuidado como uma premissa para quem está nas trincheiras: “militante bom é militante vivo”, afirma com veemência.

Nesse sentido, Rita nos lembra muito Maria Felipa, mulher negra e moradora da Ilha de Itaparica, responsável por liderar um grupo de cerca de 40 mulheres que foram responsáveis por queimar 42 embarcações portuguesas. 

Assim como Joana Angélica, Rita entra na luta de peito aberto, mas não vai sozinha, está sempre acompanhada de muitos. Desde 20 de julho de 2009, data que ela puxa da memória e que marca sua primeira ação em uma ocupação, ela conta que  (re)nasceu: “no dia do confronto eu me senti sujeito de construção (…)naquele momento eu quis aquilo para mim”, relembra.

A história de Rita nos emociona, assim como a de Maria Quitéria, uma jovem parda, com traços indígenas, que sabia atirar, cavalgar, caçar e pescar, e que desobedeceu as ordens do pai e as convenções da sociedade para se alistar como soldado Medeiros e lutar na Guerra da Independência.

Rita não precisa se camuflar como Quitéria, ela está nas redes sociais (@dosritadecassiaferreira) e é uma fonte conhecida nos sites de busca quando pesquisamos sobre o MSTB (@movimentosemtetodabahia) e a Ocupação Quilombo do Paraíso, situada no Subúrbio Ferroviário de Salvador, onde ela mora. Aproximadamente 40 famílias estão no local, mas já foram 120, e muitas conquistaram seu teto, graças ao trabalho coletivo.

As credenciais de Rita são muitas: guardiã da Bacia do Cobre, feminista integrante do Coletivo de Mulheres Guerreiras Sem Teto, artesã, cozinheira e uma das fundadoras da Cozinha Comunitária Guerreira Zeferina. Mas, Rita afirma que o esforço para ser mulher, mãe e militante não é nada simples. 

Rita é dessas mulheres que honram e seguem os rastros das suas ancestrais e tem muito a nos ensinar com sua experiência. Para conhecer um pouco mais da sua história, leia a entrevista na íntegra. 

Estação Subúrbio na Ocupação Quilombo do Paraíso

A Avante atuou na Ocupação Quilombo do Paraíso por 5 anos, por meio do projeto Estação Subúrbio – nos Trilhos dos Direitos, no enfrentamento da violência comunitária, principalmente, contra crianças e adolescentes. Rita foi peça chave no diálogo para realização do trabalho, que tinha como principal objetivo promover a proteção de crianças e adolescentes por suas famílias e comunidade e a garantia do direito ao brincar. 


AVANTE – As mulheres do 2 de Julho ainda vivem em outras mulheres que estão na luta, que seguem na batalha, entre elas, a gente tem você…

RITA FERREIRA – Eu acho que, inclusive, é muito importante as histórias serem contadas, né? Porque cada tempo, sua luta, só que em formas diferentes, mas, as mesmas lutas.

AVANTE – Você acha que são as mesmas lutas?

RITA FERREIRA – Porque é assim, ó, ao longo da história, muitos que vieram antes de nós lutaram para que hoje nós estejamos aqui. Mas todos os dias enfrentamos a sociedade como um todo, a desigualdade entre os povos. Então, a luta não acaba, quando um tomba, o outro se levanta e segue em frente com algumas conquistas, mas não toda conquista desejada pela população mais carente, que mais precisa, principalmente as mulheres. Nossas histórias foram caladas ao longo dos anos.

AVANTE – Por que tantos anos de dedicação a tantas lutas?  Como você se sente? Por que optou por esse caminho?

RITA FERREIRA  – Rapaz, eu não fui escolhida não, fui empurrada. Nós não escolhemos, nós lutamos porque é preciso, porque a luta, ela não é bonita. A luta é perversa. Mas diante de tanta desigualdade, trazemos dentro do nosso sangue a luta. Muitas despertam cedo, outras despertam mais tarde, mas todas lutamos.

AVANTE – Quais os seus medos nessas lutas, Rita? 

RITA FERREIRA – Eu nem sei se eu tenho tempo de ter medo, porque quando eu penso em ter medo eu preciso travar uma batalha, e aí a gente precisa jogar os medos pro alto e seguir em frente. Nem sempre temos tempo para ter medo.

AVANTE – Ao longo dos anos de luta, quais as vitórias você diria ter conquistado?

RITA FERREIRA  – Primeiro, que a gente trava uma luta contra nós mesmas para entender o processo da luta. Porquê e para que lutamos. Isso é muito importante dentro de nós, a primeira luta travada é em nós, para depois nos juntarmos para lutar com outros. Se a gente não se reconhecer na luta, de nada adianta lutar. Eu tenho 16 anos no Movimento Sem Teto da Bahia, o primeiro movimento do qual fiz parte. Eu nasci dentro dele. Eu tenho mania de dizer que nasci no dia 20 de julho de 2009.

AVANTE – Você tinha quantos anos?

RITA FERREIRA  – Trinta e dois anos.

AVANTE – E por que você diz que nasceu nesse dia? 

RITA FERREIRA – Porque até então eu achava que o mundo era Disneylândia. E aí, fui convidada para fazer parte, abrir uma Ocupação. E aí eu vim, não porque eu precisava da casa, mas eu vim para dar suporte a uma amiga minha que, na época – hoje a gente não se fala, então, acho que na vida tudo tem um propósito – ela me chamou para vir ajudar a abrir a Ocupação com ela. Eu vim, e no dia do confronto, naquele momento, eu me senti sujeito de construção e senti na pele toda desigualdade com as mulheres pretas que lutam pela moradia. Naquele momento, eu quis aquilo para mim.

AVANTE – Você fala das mulheres pretas que lutam por moradia, mas as mulheres pretas têm muitas outras lutas, né, Rita?

RITA FERREIRA – No começo, eu entendia que era luta pela moradia, mas a luta pela moradia só é um elemento para a gente juntar os povos, porque as lutas são muito maiores do que as quatro paredes. Hoje, eu entendo que, quando ganhamos a casa, não queremos só a casa, porque se lutarmos só pelas quatro paredes, você vai vender a sua casa e vai ficar desempregada. Vai ficar sem uma escola, sem uma creche. Vai sofrer os mesmos preconceitos da sociedade ali dentro. 

Então, hoje, o Movimento Sem Teto luta por muito mais coisa do que as quatro paredes. Luta por reparação, porque a todo momento, nós, Povo Preto, somos roubado, sempre fomos. Ao longo dos anos, acordos foram feitos e migalhas foram jogadas. Para quem não tinha nada, acha que aquelas migalhas são tudo, mas entendemos que somos trabalhadoras e exigimos respeito. Então, a nossa luta é por reparação.

AVANTE – Você tem filhos, Rita?

RITA FERREIRA – Tenho três filhos homens.

AVANTE – Quais as idades deles?

RITA FERREIRA – Um tem 28 anos, o outro tem 30 e um tem 32.

AVANTE – Como foi criar esses filhos em uma ocupação, diante de tanta luta e vendo eles crescerem? Passar pela infância, adolescência. Como foi ser mãe nesse contexto?

RITA FERREIRA – Quando toca nesse assunto, eu fico… mas, a minha história não é diferente da de muitas mulheres. Eu fui mãe solo e criei meus filhos passando por muita necessidade e, quando eu me reconheci dentro da luta, às vezes, não tinha tempo, inclusive, para os meus próprios filhos. 

Hoje, eu tenho um filho em situação de rua… Antes, às vezes, eu me culpava por isso, entendeu? Eu me culpava porque o tempo que eu poderia estar com meu filho, eu tava nas trincheiras lutando por outros filhos. Mas não é porque eu esqueci o meu, porque eu não esqueci o meu. A sociedade foi perversa, tanto comigo como com muitas mulheres, e hoje eu tenho um filho [em situação de rua]. 

O meu filho, que é a minha versão. Esse filho meu, que está em situação de rua, é a minha versão. Ele é igualzinho a mim, os mesmos propósitos. Mas, infelizmente, o sistema foi cruel e hoje meu filho se encontra em situação de rua. Passei muita dificuldade porque eu tinha que associar a militância, ser mulher e ser mãe ao mesmo tempo. E quando nós temos essas três coisas a conduzir, uma não vai sair perfeita. Infelizmente, eu paguei esse preço e continuo pagando, né?

AVANTE – Você falou da militância, Rita, e eu vi que você foi candidata. Como foi essa experiência para você?

RITA FERREIRA – Ó, eu não queria isso. Eu não me vejo nesse lugar. Eu acredito que cada um de nós temos um lugar porque somos instrumentos de construção. É como se fossemos peças em um tabuleiro. Só que, na época, quando fui sair candidata, eu saí em uma chapa coletiva para ajudar uma companheira, que também é do Movimento Sem Teto, para poder puxar os votos em uma chapa coletiva, mas não que eu me reconhecesse dentro desse espaço. 

Eu entendo a importância desse espaço, mas não me vejo dentro dele, porque eu quero ser aquela mulher que vai arrombar as portas para que outras irem lá e negociarem. Então, eu acredito muito nisso. Cada um tem seu papel fundamental na construção da luta e eu ainda acredito na revolução.

AVANTE – Em que sentido essa revolução? O que ela traria?

RITA FERREIRA – Rapaz, eu acredito na revolução. Porque nós trabalhamos tanto e não temos nada, né? Então, eu acredito no socialismo, mas eu não acredito naquele socialismo pensado pela cabeça dos brancos, porque nós, dentro da periferia, já somos socialistas, quando nós dividimos o que temos com o outro. 

Por isso que hoje discutimos a comunidade do bem viver. Eu acredito na revolução armada, mas quando eu falo da revolução armada, não é todo mundo com arma na mão, não. É com a arma do conhecimento. Por isso que os nossos jovens, as nossas mulheres, os nossos companheiros, que vivem nas zonas periféricas, precisam assumir o espaço dentro da academia, porque eles precisam estar munidos de todas as armas para esse momento. 

AVANTE – Tem uma versão Rita militante feminista. Me conte sobre essa feminista, como é que é isso?

RITA FERREIRA – Eu acho que sou feminista, porque assim, ó, todo mundo diz que é feminista, né? Mas, a gente só sabe na real se somos feministas quando cortam a nossa carne. Eu falo isso por ser uma mulher, mãe de três filhos homens. Então, é fácil, muito fácil, as pessoas abrirem a boca e dizerem assim:  “eu sou feminista”. Mas, que tipo de feminista você é? E qual feminismo você pensa em construir? 

Eu acredito que o trabalho das mulheres… elas não podem estar separadas dos homens, dos companheiros. Existem os nossos momentos que vamos estar todas juntas discutindo, mas precisamos também estar junto com o companheiro porque o nosso trabalho não é de exclusão, é de inclusão. 

Nós somos mães, temos filhos homens. Que tipo de criação é essa que estamos dando aos nossos filhos dentro das nossas casas, entendeu? Por isso que eu digo, que eu acho que sou feminista porque a maior parte das feminista, quando eu falo isso, é contra, mas não entende que tem os filhos homens dentro de casa. Como é que vamos criar os nossos filhos, excluindo eles, inclusive, de atividades que poderíamos estar junto para que eles entendam o papel importante da mulher na sociedade. Eu sou essa feminista aí.

AVANTE – Quais os sonhos da mulher, Rita, para além da batalha diária? O que tem dentro desse coração em termos de sonhos, de desejos? 

RITA FERREIRA – Eu… a luta ela adoece. Eu não quero que todas as pessoas sejam como eu, porque cada um precisa criar sua dinâmica de trabalho, seu pensamento de uma sociedade igualitária, mas, a luta ela adoece aquele militante que joga tudo para o alto e pensa primeiramente na luta, pensa em uma sociedade igualitária, pensa em juntar os povos, pensa em uma comunidade do bem viver onde nós, todos nós, possamos estar ali unidos, independente de religião, independente de tudo, construindo nosso mundo. 

E aí, quando você foca nisso, você deixa de ter vida própria porque você tá focada em uma construção que você não sabe se vai dar certo ou não, mas, na sua cabeça, vai. Precisamos ganhar várias mentes para que isso dê certo. E aí você foca.

Um sonho, quando eu era nova… meu sonho é besta… quando eu era nova, meu sonho era ter um sabonete Phebo. Imagine. Ave Maria, pra mim, era questão de honra ter um sabonete Phebo. Hoje, meu sonho é ver tudo aquilo que eu acredito ser realizado. Tudo. Eu sei que eu vou morrer e eu não vou ver, mas também entendo que a forma como eu luto muitos vão ver. É como se fosse uma semente que você tivesse jogando e vai seguir e com os mesmos pensamentos, mas de uma forma muito mais apurada, porque cada um no seu tempo.

AVANTE – No 2 de Julho, a gente tem muitas mulheres que foram importantes para a Independência. Uma delas, Maria Felipa, mulher negra que liderou outras mulheres, lembra muito sua trajetória. Essa data tem alguma simbologia para você? 

RITA FERREIRA A maior parte das mulheres que são militantes e que dão o seu gás, seu tempo, sua vida à militância não tem como não pensar nos que vieram antes de nós e, principalmente, as mulheres, que travaram lutas que, ao longo da história, não foram contadas. Você vê que, geralmente, as pessoas falam muito de Zumbi, mas esquecem de falar de Dandara. 

Nossa luta, como mulher preta, se intensifica quando os nomes dessas mulheres começam a ser falados. Nós temos uma ocupação, que hoje é um equipamento, que se chama Guerreira Zeferina, porque as nossas ocupações se chamam nomes de mulheres pretas que vieram da luta antes de nós, para que, quando os nomes delas sejam falados, as nossas crianças e a juventude entendam a história. Porque, para você lutar, você tem que ter uma referência, porque senão você para. 

Hoje, mesmo quando eu vou para os locais, eu digo “gente, pelo amor de Deus, muitos lutaram antes de nós”. As nossas poucas conquistas vieram em cima de sangue e eles não alcançaram o que nós alcançamos. Então, se negar a lutar é uma covardia porque nós não estamos lutando para nós, nós estamos lutando para os que virão e assim sucessivamente. A história de Maria Felipa é um exemplo. A história da Guerreira Zeferina também é um exemplo, a de Dandara também.

E sem falar também, quando a gente fala das religiões de matriz africanas, a gente fala das Yabás, também tem elas. As lutas que foram travadas e que precisam ser contadas porque é isso que são as nossas referências, que nos mostra que nós somos capazes de seguir em frente, mesmo entendendo que a gente possa cair na luta, mas sabendo que outro vai se levantar e vai seguir de outra forma, mas no mesmo propósito. Qual é o foco? É a reparação.

AVANTE – Quantas famílias estão na Ocupação Quilombo do Paraíso? 

RITA FERREIRA – Aqui agora tem 39, mas eram 120. 81 já pegaram seus apartamentos que ficam aqui ao lado, que é o Conjunto Habitacional Paraguari II. O Movimento Sem Teto junto com a UNEB, a UFBA, o CEAS e a Avante, estão tentando transformar esse equipamento no primeiro equipamento agroecológico da cidade de Salvador. Então, a luta não acaba com as quatro paredes.

AVANTE – E você mora na Ocupação ainda?

RITA FERREIRA – É porque o Estado tentou nos passar a perna querendo roubar 39 unidades, mas agora a gente está resolvendo e eu ainda estou aqui dentro. Eu e mais 38 famílias.

(…) São muitas histórias, histórias muito importantes que você vai entender o porquê essas mulheres vêm para dentro de uma ocupação. A maior parte, você vai ver que a sociedade e o machismo, o patriarcado, são a razão de todas as mulheres estarem aqui porque a maior parte são mães solo. Às vezes, morava com seus companheiros e, na separação, quem sai da casa é ela com os filhos, entendeu?

Elas vêm para ocupação debilitada e aí se bate com outras mulheres que conseguiram superar. Aí a gente começa a trabalhar o autocuidado e empoderar essas mulheres que chegam fragilizadas dentro das ocupações porque nós, do Movimento Sem Teto, não abrimos a ocupação por abrir, nós abrimos as ocupações para formar famílias, pra ela entender o papel dela, a importância do papel dela na construção da sociedade.

AVANTE – Muito forte o seu depoimento, deixa a gente pensando em muita coisa, mas eu gostaria de lembrar algo que foi leve e bem divertido de que quando eu mandei o áudio para você, perguntando sobre as fotos e você falou assim: “entre lá no meu Facebook, você vai ver Rita Ferreira, a única que tá de boina e muito linda”. Achei sensacional saber que você se entende como uma mulher linda, que gosta de si mesma. Eu queria que você nos contasse como é que você se sente com quem você é hoje. 

RITA FERREIRA – Eu, quando me olho no espelho, eu não olho essa carne que tá aqui, porque todas nós somos lindas, independente de que a idade vai chegando ou não, nós somos lindas, entendeu? Porque a boniteza ela tem que vir de dentro, não adianta a pessoa botar uma maquiagem, tá com cabelo “pan”, com roupa “pan” e ser podre por dentro. A nossa boniteza tem que vir de dentro para fora, por isso quando falo assim “a mulher mais bonita que tá lá sou eu”. Eu não tenho pensamentos negativos, eu sou uma pessoa muito positiva, tenho defeitos, mas meu defeito é que eu acabo adoecendo por causa disso, é porque eu puxo os problemas das pessoas para mim, mas isso é algo espiritual que já vem de mim mesmo, entendeu? Eu fico muito carregada, depois eu vou e descarrego. 

Mas, eu sou aquela mulher que eu procuro resolver o problema de outras pessoas da melhor forma possível, sem momento algum julgar. Então, não adianta você ter uma aparência física linda maravilhosa, mas se você é podre por dentro. É a forma como você age, é a forma como você pensa. Todos nós temos defeitos, entendeu? Mas de que forma você vai ver o defeito do outro se você não consegue nem enxergar o seu próprio? Por isso que eu sempre falo que eu sou linda, que eu sou maravilhosa, não eu, essa carne que está vendo aqui, mas o meu espírito é… O que vem de dentro para fora, o que eu penso do outro, o que eu faço pelo outro, entendeu?

AVANTE – Estamos chegando ao final da nossa conversa, você quer complementar, trazer mais alguma coisa?

RITA FERREIRA – O que eu queria falar é que, apesar da luta adoecer, mas vale a pena, vale a pena porque nós estamos aqui de passagem e nada é aleatório. Todas as pessoas que hoje estão com pé na luta, elas nasceram para isso. Muitas vezes, estão adormecidos, mas, basta um ato de injustiça, e no momento certo, vai acordar porque ela é uma peça fundamental para essa libertação da qual nós estamos todos lutando. 

Eu acho que não existe o militante “fodaça”, não existe, existem as pessoas certas, no lugar certo com seu trabalho que é de extrema importância. Aqui, nas ocupações, eu canso de dizer: “olhe, todo mundo que está nas ocupações tem um papel importante, até os animais”. Então, precisamos tratar o outro bem, nos colocar no lugar do outro e tentar lutar para transformar isso da melhor forma possível. E outra, sem deixar de nos cuidar, porque a gente também precisa ter o autocuidado com as nossas vidas porque militante bom é militante vivo.

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