Zilma de Moraes, mestra em Educação (Pontifícia Universidade Católica/SP) e doutora em Psicologia (Universidade de São Paulo), marcou sua presença no III Seminário Nossa Rede Educação Infantil: compartilhando experiências, como mediadora dos relatos de experiências das instituições. O evento aconteceu no final de julho e encerrou a segunda etapa formativa dos profissionais da Educação Infantil da Rede Municipal de Salvador.
Ao longo do Seminário, cerca de 400 coordenadores pedagógicos e gestores da Rede testemunharam o impacto das formações realizadas fora do espaço escolar, e no “chão da escola” – Formações in loco. A iniciativa da Secretaria Municipal de Salvador (SMED), em parceria técnica com a Avante – Educação e Mobilização Social, aconteceu por meio do projeto de Formação de Formadores, do Programa Nossa Rede Educação Infantil, envolvendo cerca de 390 instituições da Rede, totalizando 786 coordenadores pedagógicos e gestores da Educação Infantil, técnicos da Gerências de Educação e da Diretoria Pedagógica. Os educadores participaram de diálogos sobre: relações, espaços, tempos de qualidade e as práticas cotidianas na Educação Infantil.
Leia na íntegra entrevista com a especialista sobre o processo formativo do Nossa Rede Educação Infantil.
Zilma, você já tem uma longa trajetória na educação do País e já deve ter observado uma diversidade de movimentos na direção da melhoria da qualificação do atendimento às crianças, não é? Qual a sua impressão sobre o movimento formativo da Rede Municipal de Salvador, após ouvir os relatos das experiências durante o Seminário?
ZILMA DE MORAES – Muito tempo, mesmo! Eu integro o grupo dos primeiros. Não sou a primeira, mas sou do grupo dos mais antigos que brigam pela Educação Infantil. Olha, fiquei realmente tocada, presenciei uma experiência de escuta de relatos de transformações do ambiente onde é visível a mão de quem fez, porque fez com inteligência e, de alguma forma, fez com poucos recursos. Os prédios são muito bonitos, mas os recursos são limitados. E, o gosto delas [educadoras], me encantou. Gostei muito de poder perceber, na própria fala delas, uma ligação entre um tema e outro [relações, espaços, tempos de qualidade e as práticas cotidianas]. A ligação das formadoras [da Avante] com os grupos [das instituições] também foi muito impressionante. Fica visível.
Qual a sua percepção sobre o formato das formações: coletivas, com especialistas da Avante e convidados, mas também inserida no cotidiano das escolas?
ZILMA DE MORAES – Se nós tivermos como referência o resultado de hoje [Seminário], só podemos dizer que está muito bem. Me pareceu haver alcance de um grande número de profissionais e um efeito em rede: “empodera umas, empodera o grupo todo”, pelo que observei. Então, acho que é um modelo que deve continuar.
O que você acha sobre a inclusão, pela primeira vez, das escolas comunitárias no processo formativo da Rede Municipal de Salvador?
ZILMA DE MORAES – Acho necessário, muito necessário. Em São Paulo também existem as escolas de comunidade, de instituição conveniada, que são, de alguma forma, católicas ou evangélicas. No entanto, todas as crianças são alunas do município, portanto, o município tem de garantir condições para todas. E lá em São Paulo também não fazem formação com conveniadas, porque passam dinheiro para conveniada fazer formação. Muitas delas fazem formações interessantes, outras não.
Recentemente, as paulistas foram todas chamadas para uma formação com relação à Base [Base Nacional Comum Curricular – BNCC], porque é necessário. Esse é um movimento muito importante. Então, que essa novidade continue, pelo menos com formação.
Você acredita na continuidade do movimento formativo, após o encerramento dessa etapa do Programa Nossa Rede Educação Infantil? Pela sua experiência, Você acha que isso se consolida dentro das instituições?
ZILMA DE MORAES – É diverso. Tem vezes que a coisa volta para trás, pois geralmente há um movimento da remoção de professores, não é mais aquele grupo, ou então a Rede entra em um outro estado de espírito, ou num outro momento político. Agora, a bola também está com a prefeitura, para fazer algum tipo de manutenção, por meio de eventos na mesma linha, coisa assim.
Se pudesse o que você diria a cada um dos gestores dessas instituições, para incentivá-los a não deixar essa peteca cair?
ZILMA DE MORAES – Primeiro, que cada um faz a sua parte, sem dúvida. No entanto, fazer a sua parte, coletivamente, é outra coisa. Acho que há um ganho agora por estarem em um ambiente [educativo] mais íntegro, revisto, reformulado, mais qualificado.
Onde todo mundo se queixa de crise, o único jeito de terminar com uma crise, uma disputa, uma relação difícil, é criar uma boa convivência e, no caso, na instituição educacional, é uma convivência voltada para o trabalho educacional. Então, é cuidar disso.