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Entrevista: do sonho à transformação, Comunidade de Aprendizagem chega às redes de educação

O conjunto de atuações educativas de êxito proposto pelo Comunidade de Aprendizagem foi formatado a partir de pesquisas do Centro Especial de Investigación en Teorías y Prácticas Superadoras de Desigualdades (CREA), realizadas ao longo de 30 anos. A proposta é articular toda a comunidade (escola e seu entorno) pela melhoria da aprendizagem instrumental e da convivência. Em Horizonte e Fortaleza (CE), Itabuna e Camaçari (BA), o projeto Comunidade de Aprendizagem, como ficou conhecido esse conjunto de atuações educativas de êxito, está sendo executado pela Avante – Educação e Mobilização Social, em parceria com o Instituto Natura.

Após um ano de trajetória, as escolas já começam a transformar suas realidades a partir do diálogo e da ação, fomentados pelo projeto. Detalhes deste cenário foram apresentados durante encontro na sede da Avante – Educação e Mobilização Social para apresentação dos trabalhos científicos (TCC) para certificação dos formadores líderes e dos formadores locais do projeto, pelo Instituto Natura. A consultora associada e coordenadora do projeto na Avante, Carol Duarte, em entrevista ao site da instituição, fala sobre a importância da iniciativa para as escolas e as comunidades, e explica a fase de implementação do projeto, cujo objetivo é colaborar com a diminuição das desigualdades sociais.

Avante – Como o projeto se insere na rede de educação do município?

Carol Duarte – Antes de qualquer coisa, o projeto acontece a partir do desejo. A secretaria manifesta interesse e então acontece uma sensibilização com a apresentação do projeto aos gestores das escolas que se mostram interessados ou por escolas indicadas pela secretaria por alguma razão. São apresentados os princípios do projeto, como ele acontece, como acontecem as atuações educativas de êxito dentro das escolas, como é a participação da comunidade nessas ações. Há escolas que se identificam, outras não. Naquelas cujos gestores se identificam e demonstram interesse pelo projeto é feita outra apresentação da proposta, agora dentro das escolas (funcionários, professores, coordenadores etc). Nesse momento, a comunidade escolar entende que não é um projeto da secretaria ou da escola, mas da comunidade escolar. Um projeto que todos precisam se apropriar para que ele ganhe força e de fato aconteça o processo de transformação.

Avante – E na comunidade?

Carol Duarte – Depois que a escola define se quer esse projeto, pois é um projeto por adesão, aí a gente vai mobilizar a comunidade. A gente faz uma grande mobilização onde chamamos os pais, os líderes comunitários, o pessoal que já participa dos movimentos da escola – às vezes a escola tem a participação do pessoal da igreja, da associação comunitária, que utilizam o espaço da instituição para alguma atividade. Todas essas lideranças, mais as famílias (mãe, pai, avó), são chamadas e o projeto é apresentado para eles também. E a gente apresenta como o projeto acontece e qual o papel deles. Que não é o papel de entrar na instituição como um “amigo da escola”, que vai executar coisas, Não.
Uma das principais atuações educativas de êxito do projeto Comunidade de Aprendizagem são as “Comissões Mistas”. Essas comissões são heterogênea, formadas por todos esses atores: líder comunitário/a, funcionário/a, aluno/a, professor/a, coordenador/a, pai, mãe. E eles vão pensar nas estratégias de como melhorar a aprendizagem e a convivência.

Avante – Por que é tão importante a comunidade participar ativamente dentro das instituições de ensino?

Carol Duarte – Existem vários estudos que falam que quando a família e a comunidade participam dos processos educativos dos meninos a aprendizagem é muito melhor. São altíssimos os índices. A participação desperta um sentimento de pertença daquela comunidade em relação à instituição, então a escola deixa de ser o lugar onde o menino vai estudar e passa a ser a escola da comunidade, do bairro, daquelas pessoas. E isso colabora para a diminuição do vandalismo e da violência, porque começa a existir uma identidade daquela comunidade em relação à escola. E isso é um fator muito importante.

Avante – Esse é o impacto dentro da escola. E em relação à vida familiar, à vida dessa criança, adolescente ou jovem dentro da comunidade?

Carol Duarte – Há dois textos (TCC apresentados na certificação dos formadores pelo Instituto Natura) elaborados por duas formadoras líderes do Comunidade de Aprendizagem (consultoras associadas da Avante) sobre esses dois temas. O de Rita Margarete fala sobre a importância dos voluntários da comunidade na instituição e o de Ana Luiza Buratto, sobre a importância na família.

Dentro do foco do Comunidade de Aprendizagem, isso é importante porque, ao sistematizar esse conjunto de atuações educativas de êxito, eles perceberam que o convívio com a família e a comunidade gera uma série de benefícios para todos, que vão impactar na diminuição das desigualdades sociais (objetivo do projeto) por meio da melhora da aprendizagem instrumental e da convivência de todos os envolvidos. E quando se fala em todos, não falamos só entre os meninos e meninas, mas também entre professor e aluno, professor e professor, professor e mãe, professor e membros da comunidade, comunidade e escola, diretor e família, porque todos vão estar juntos, com um mesmo objetivo – que é fazer com que aqueles meninos/as aprendam mais e melhor, e convivam melhor.  E pra isso, é preciso que todo mundo que está no entorno da criança ou adolescentes participe do projeto. Uma participação focada nos princípios da aprendizagem dialógica de Paulo Freire, onde a proposta é que todo mundo discuta e pense junto como, para aquela escola, para aquele contexto, a aprendizagem pode melhorar.

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