Cuidar do outro é cuidar de mim – atenção às mulheres para cuidar das crianças

Quando se fala em crianças, um dos primeiros aspectos que vêm à tona é o cuidado. Cada vez mais, discute-se a importância desse cuidado não só nos primeiros anos de vida, mas durante todo o desenvolvimento infantil. O que muitas vezes não se faz é pensar naquelas que exercem a maternagem dessas crianças, de como precisam estar fortalecidas para transmitir uma educação positiva.

O reflexo desse descuido chamou a atenção da assistente social Deise Nery, no atendimento prestado pelo Balcão Psicossocial às famílias participantes do projeto Estação Subúrbio – nos trilhos dos direitos. “Ao escutar essas mulheres, a maioria chefas de família, percebi o quanto realidades perpassadas por pobreza, desemprego, violências contribuem para intensificar a atenção dessas mulheres para a luta pela sobrevivência, precarizando a qualidade do cuidado com as crianças”, relata a assistente social.

Além disso, Deise Nery destaca que, normalmente, as mulheres na função da maternidade ou maternagem são totalmente responsabilizadas por tudo que acontece com as crianças, num discurso de culpabilidade naturalizado na sociedade. “Vivemos em uma sociedade que acusa essas mulheres o tempo todo. No entanto, muitas das situações de negligência e/ou castigos físicos no cuidado com os filhos são resultado das situações de vulnerabilidade que elas vivem. Embora muitas nem percebam”, afirma.

Pensando em melhorar esse panorama, foram implementadas atividades mensais intituladas “Cuidar do outro é cuidar de mim, cuidar de mim é cuidar do outro”, como desdobramento dos plantões sociais realizado pelo Balcão Psicossocial (na ESCOLAB, no bairro de Coutos, às quartas-feiras, a partir das 14 horas; na Ocupação Quilombo do Paraíso, em Colinas de Periperi, às quintas-feiras, à tarde; e em Plataforma, quinzenalmente, dentro dos mutirões realizados pelo projeto na Praça São Braz).

A ação inclui atividades interdisciplinares, como os encontros realizados com uma psicopedagoga e uma psicóloga, para falar sobre os aspectos que o cuidar abrange, reunindo mães como a dona de casa Antônia Assis (nome fictício). “A palestra me ensinou que eu não posso desistir. Tem me ajudado a enxergar que o que eu faço pela minha filha não é o melhor, mas que eu posso fazer o melhor, observando no dia a dia o que fazer para tornar a minha filha mais feliz. Até porque eu tenho enfrentado várias lutas, e essas lutas que eu tenho enfrentado, ela tem estado do meu lado”, disse Antônia.

A infância que tive e a infância de meus filhos/as

A primeira palestrante convidada para a atividade “Cuidar do outro é cuidar de mim, cuidar de mim é cuidar do outro” foi a psicopedagoga Viviane Oliveira, que falou sobre a importância do equilíbrio entre as partes, pois não só as crianças precisam de cuidado, os agentes desse processo também. “É preciso cuidar de si mesmo, buscar as necessidades do corpo, da mente, melhorar o estilo de vida. Se eu tenho esse autocuidado, possivelmente, terei cuidado com meus filhos, crianças, alunos. E o cuidar não é restrito ao aspecto biológico do corpo, mas é associado também à dimensão afetiva, pois a criança precisa de apoio, incentivo e envolvimento”, ressaltou Viviane.

O segundo encontro, realizado por Ivanna Castro, psicóloga, consultora associada da Avante e coordenadora do projeto Estação Subúrbio, teve uma oficina com metodologia participativa e vivencial com as mães, para um resgate de lembranças da infância que tiveram, fazendo uma ponte com as infâncias dos filhos e filhas nos dias de hoje. “O encontro foi muito positivo, pois o grupo conseguiu formar uma rede de apoio, achando suas próprias soluções para os desafios trazidos, ao mesmo tempo em que possibilitou que as mães compreendessem algumas questões e comportamentos que vivenciam suas crianças, tendo como ponto de partida para esta compreensão a sua própria infância”, disse.

Ivanna Castro dá destaque a uma das histórias contadas por uma das mães presente ao encontro. Segundo ela, essa mãe compartilhou com o grupo sua brincadeira predileta na infância – jogar futebol –, e que fora proibida por seu pai por uma “brincadeira de menino”. “Nessa fala, ela pôde perceber que acabava por repetir o mesmo comportamento do pai, quando proibia seu filho de brincar com bonecas, e pôde refletir sobre a questão, com todo apoio do grupo”, relata a psicóloga.

Estação Subúrbio

Executado pela Avante – Educação e Mobilização Social, em parceria com a organização alemã Kindernothilfe (KNH), o Estação Subúrbio – nos trilhos dos direitos vai atuar no território até 2021, com ações que visam reduzir o índice de violência comunitária, sobretudo de crianças e adolescentes, nos bairros de Plataforma e Periperi, no Subúrbio Ferroviário de Salvador.

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