Prosa, poesia e epistemologia sobre o Brincar. Pedagogia das Essencialidades é essa tríade de leitura irrecusável.
De autoria de Roque Antônio Soares Júnior, o livro é uma chamada a revisitarmos a nossa infância e a escutar o que a criança que fomos tem a nos dizer, ensinar e relembrar; um exercício guiado pelo próprio educador popular Roquinho, a partir da sua experiência e viagem ao passado-presente que o habita e o formou Brincante.
Dedicada à criança que todos os adultos foram um dia, a obra é profunda, consistente, sensível e atenta à voz da criança que ele foi e daquelas que ele tem ido ao encontro e o tem encontrado.
Brincar – pedagogia das essencialidades é um livro para adultos, pedagogos, brincantes, mães, pais, pesquisadores das infâncias, das culturas infantis e outros interessados; cuja beleza do texto é ilustrada por Luíza Poeiras e retratada por fotografias que documentam a trajetória do autor.
A obra consiste num compilado robusto e, de igual maneira, leve sobre o Brincar. Uma teoria produzida, ou melhor, originada da experiência, observação e imersão nos lugares e cotidianos das diversas infâncias brasileiras, redundando numa sistematização de saberes oriundos de encontros etnográficos em comunidades urbanas e tradicionais, em diferentes regiões do país. Tudo isso atravessado pelo tráfego livre às “brincâncias” do autor nos quintais do Vale do Jequitinhonha.
A Avante – Educação e Mobilização Social indica a obra desse grande parceiro, que tem dedicado sua vida a conectar-se com as crianças e, a partir dessa conexão, a buscar caminhos para que tenham assegurado o direito de viver plenamente a infância, pois, segundo ele, “a infância precisa ser cumprida”.
A narrativa…
O livro divide-se em três partes: A formação de um brincante; Pedagogia das Essencialidades; e Brincar – arquitetura original do sentido comunitário.
A partir da ideia central do Brincar como uma pedagogia, Roquinho rememora vivências de sua infância para permitir ao leitor acessar as bases da sua formação como brincante e, a partir daí, inspirar reflexões sobre a potência das culturas infantis, que nascem e se nutrem do que lhes possibilitam os contextos e geografias.
No seu caso, o clima, a vegetação, as ruas, o rio, os quintais por onde brincou e a sua comunidade foram determinantes para formá-lo como indivíduo e educador brincante. Segundo ele, é como se a sua “existência de menino fosse toda abraçada, de forma imperativa, por essa condição climática e comunitária”, ou seja, enquanto o clima e a natureza lhes forneciam a matéria-prima para o seu brincar, a comunidade lhe dava a segurança necessária para usufruir livremente da cidade e seus quintais, uma vez que a comunidade cria o ambiente propício para a liberdade.
A partir da sua experiência, possibilitada pela cartografia do seu lugar de origem e infância, Roquinho aborda a relevância da natureza, da comunidade e das características locais – culturais e geográficas – para a elaboração do repertório brincante das crianças.
Ao tecer a cronologia de sua formação, Roquinho compartilha sobre a sua saída para a cidade grande e seu encontro com o Direito e com a política partidária – importantes agregadores de conteúdo político à sua formação.
“Ser Brincante, então, abrangia compreender e se comprometer politicamente com as causas e lutas populares comunitárias, pois é certo que elas reverberam na qualidade de vida das crianças”.
No segundo momento do livro, que intitula a obra – “Pedagogia das Essencialidades”, o autor chega àquilo que caracteriza o Brincar como linguagem universal e inerente à infância, a saber: liberdade, movimento e alegria.
Brincar, conforme Roquinho, “é a resposta das crianças à necessidade de conhecer o essencial para ser pleno; à necessidade de experimentar de tal modo a vida, que lhe seja assegurado saber, com intimidade, tudo que lhe permita existir na potência máxima”.
Nesta seção da obra, o autor assegura que a pedagogia do brincar, tecida pelas crianças por meio dos brinquedos e brincadeiras, é promotora das bases essenciais da formação humana.
Elas, as crianças, são as responsáveis, segundo ele, por desenharem uma linguagem universal e atemporal inscrita no corpo. Em suas palavras: uma pedagogia do corpo em movimento.
Na última parte da obra – Brincar – arquitetura original do sentido comunitário – o leitor adentra ao universo de atuação de Roquinho e passa a conhecer as experiências coletivas com as quais ele se envolveu, afinal, em todas as suas andanças e ações ele buscou não somente conhecer, mas saber as infâncias em suas realidades.
Foi esse saber que o possibilitou concluir que os brinquedos e brincadeiras carregam os traços identitários de uma cultura, um lugar, uma comunidade, e a encontrar no brincar de diferentes lugares a potência para formação comunitária.
De acordo com Roquinho, o Brincar inaugura compreensões que permitem formular regras e caminhos para a existência comunitária. “Brincar é o exercício de conviver, consolidar, cultivar vínculos positivos e associar-se para viabilizar construções coletivas”.
Para fazer-se Educador e Brincante ou mesmo para compreender as crianças em sua diversidade, segundo Roquinho, é preciso inclinar-se para ouvir a criança que já fomos – caminho delineado em seu texto e impresso em sua trajetória individual e formativa.
Em Pedagogia da Essencialidades, Roquinho nos leva a entender, por meio de cada um de seus relatos que, diante de uma criança, a metodologia mais acertada é revisitar a própria infância, pois nela estão todas as nossas aventuras, desventuras, presenças e ausências; portanto, a nossa melhor informante.
Brincar, conforme Roquinho, é uma revolução, na medida em que a sua episteme nasce e opera no corpo, mediante a conexão entre Comunidade e Identidade, promovendo a construção do conhecimento de si próprio, do outro, do seu lugar e do mundo.
A obra, que sintetiza os 30 anos de experiência do autor com o tema, está disponível gratuitamente (Online Flipbook) e encontra-se também acessível a pessoas cegas e de baixa visão, em formato de Audiolivro – Brincar Pedagogia das Essencialidades – Roquinho.
