Brasil, um país em formação cidadã

Nas ruas das capitais e cidades brasileiras, no coração de brasileiros distantes de sua pátria, um país clama por mudanças. Diante de nossos olhos, o retrato de um país que reúne diferenças para expressar votos e cantos que entoam, em uníssono, o permanente desejo pela concretização dos mais diversos direitos. É um povo, que no decorrer dos últimos dias demonstra sua força, impondo-se como água de represa, que uma vez liberada, explode os limites de um velho açude.

Muitos de nós estamos com as mentes impregnadas pelas imagens das mobilizações populares, tentando sintonizar corações e mentes, emocionados com um processo que instiga, mas também preocupa. Instiga porque definitivamente a pauta da mobilidade urbana ocupa o centro das discussões sobre as cidades brasileiras. Os tais 20 centavos não são pouca coisa: são a falta de investimento em transporte de massa, infraestrutura de cidades que privilegiam veículos individuais em detrimento de pedestres, ciclistas e transporte público, carteis que dominam os sistemas de ônibus, entre tantos outros problemas. É sim o valor de uma passagem de ônibus abusiva com relação ao que a imensa maioria de trabalhadores recebe para viver e para qualidade do serviço que recebe.

Entretanto, o movimento nas ruas preocupa, pois agora, mais do que nunca, devemos ficar atentos aos aproveitadores de plantão, sejam eles quem forem, para evitar a manipulação de uma força que emana do povo em movimento levando-a para mãos que, ao invés de operar mudanças, operem retrocessos.

É primordial lembrar a recentíssima história de países como Líbia e Egito, que depois de movimentações populares e da ocupação das ruas, destituíram o antigo poder vigente, para em seguida serem tomados por forças ainda mais conservadoras. É preciso aprender com esta história para que este Brasil politizado e mobilizado em plena construção, em pleno fluxo acelerado e imprevisível siga rumos mais democráticos.

E emociona pela predominância da vontade de cidadania e de mudanças, pela oportunidade de ver a marcha pacífica de tantos, em tantos lugares, trazendo à tona temas que falam do nosso cotidiano, dos nossos direitos, tais como mobilidade urbana, que tangencia o acesso aos mais variados direitos humanos.

Emociona ainda por poder assistir ao resultado concreto de um trabalho diário e incansável de organizações sociais, movimentos e grupos identitários que trabalham há décadas pela garantia de seus direitos, pela construção de políticas públicas e pelo desenvolvimento sustentável de sua pátria e pela formação de cidadãos na esperança de que um dia o país seja aquele sonhado e desejado por todos.

É preciso olhar com generosidade, respeito e distanciamento para que reflitamos, teorizemos e, assim, possamos colaborar para que o traçado desta grandiosa mobilização se faça mais forte e mais permanente. Estamos presenciando os novos rumos dos movimentos, cada vez mais conectados via redes sociais, indicando os novos padrões democráticos e de participação no Brasil. Acreditamos ser este o momento da sociedade civil organizada e dos movimentos sociais atuarem em conjunto.

E para que tanta energia boa não se esvaia no dia seguinte, as linguagens da ciência, da filosofia e da história devem iluminar o caminho. Acreditamos também no poder das linguagens artísticas para traduzir e evidenciar esteticamente os mais profundos sentimentos e desejos. Como a fotografia e os vídeos, irmãos das mídias sociais, já o têm feito.

Enfim, esperamos que as crianças e jovens sejam ouvidos, que se dê a eles a chance de expressão e de acolhimento, ingrediente fundamental para a construção do outro mundo possível,

Juntos na esperança e nas lutas diárias por um país cidadão,

Equipe Avante.

 

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