Alunos da Escola Laboratório da Prefeitura de Salvador (ESCOLAB), de Alto de Coutos, debateram sobre suicídio, depressão e bullying, na tarde do dia 26 de setembro. O grupo Adolescer com Arte, que une arte e saúde na intenção de compartilhar informações e sensibilizar, encenou a peça Grito de Alerta para cerca de 130 crianças e adolescentes. A ação aconteceu a partir de uma demanda da Escola, articulada em parceria com o projeto Estação Subúrbio – nos trilhos dos direitos (Avante e KNH), por meio do Balcão Psicossocial.
O espetáculo exibiu, em quinze minutos, o processo que pode ir da angústia, ao suicídio, para que as crianças e adolescentes entendam e reflitam sobre seus comportamentos e previnam situações semelhantes. “Essa oportunidade foi de grande importância para nossas crianças. Falar sobre a depressão, que pode levar ao suicídio, se faz necessário. Foi uma chance de compreenderem o que acontece, e pode acontecer, em uma época na qual os índices de suicídio são altos”, ressaltou Cássia Góes, diretora da ESCOLAB. A demanda foi identificada pela equipe pedagógica da Escola, que contou com a parceria do projeto Estação Subúrbio para identificar a melhor forma de abordagem junto aos alunos.
“É interessante, com crianças e adolescentes, falar numa linguagem o mais próxima possível e o grupo, além de usar a arte nesse diálogo, é integrado por jovens”, disse Deise Nery, assistente social do Estação Subúrbio. O Adolescer com Arte é parceiro da Avante desde a execução do projeto Comunidades Ativas, em 2017, que atuava com a formação de lideranças comunitárias nos bairros do Calabetão, Jardim Santo Inácio e Mata Escura. Entre os 40 líderes formados no projeto estava Lenilson Bento, idealizador e facilitador do Grupo, também agente comunitário da Unidade de Saúde da Família – USF em Mata Escura. O Grupo usa o teatro na prevenção ao suicídio, desenvolvendo esse diálogo em diversas escolas.
O Adolescer com Arte foi identificado pela equipe do Balcão Psicossocial, uma das ações realizadas pela Avante na ESCOLAB, por meio do Estação Subúrbio, uma parceria coma KNH. O Balcão é uma tecnologia social criada pela Avante para conectar serviços sociais básicos às demandas da comunidade, promovendo acesso a direitos cidadãos e melhorando a qualidade de vida.
Enredo
A personagem principal da peça sofre bullying na escola e, ao chegar em casa, não tem a devida atenção dos pais. Excluída, vivendo mudanças hormonais da adolescência, entra em depressão e comete o suicídio, depois de muitos sinais de alerta. Dessa forma foi abordado como o ambiente escolar e as pessoas em geral enxergam o outro e são, também, responsáveis pelos sentimentos do próximo.
Para Lenilson Bento, algumas atitudes são naturalizadas e nem sempre entendidas como violentas. Ele acredita que a arte pode ajudar a perceber atos individuais e coletivos que influenciam no adoecimento do outro. “Às vezes tudo começa com uma ‘brincadeira inocente’ e eles ainda não tem a capacidade de avaliar as consequências de alguns atos. Então, a partir de uma atividade lúdica e do debate é possível promover a reflexão sobre ‘o que é que eu estou fazendo?’. A arte tem esse poder de fazer com que a gente se projete e se coloque no lugar do outro”, disse Lenilson.
Após chegar em casa, Maria Eduarda, aluna da ESCOLAB, compartilhou com a mãe o que sentiu e refletiu ao assistir à peça: “se a criança que sofre de bullying se cala e não desabafa com um adulto, continua com a dor”, disse.
Setembro Amarelo
Setembro foi definido como mês de prevenção ao suicídio após 2015, quando o Brasil passou a lançar campanhas para promover estratégias de prevenção recomendadas pela Organização Mundial de Saúde (OMS), para enfrentamento ao problema, que já atinge cerca de 800 mil pessoa por ano em todo o mundo.
Para Lenilson, é essencial que a escola abra espaços como esse, pois nem sempre a criança tem a compreensão do que está acontecendo. “Essa é uma semente plantada para que o olhar seja mais sensível, dentro do que elas possam absorver. A surpresa é um colégio municipal de Salvador ser comprometido com isso e tornado o ambiente bastante receptivo, facilitando e construindo a troca de saberes”, disse.
O Brasil é o oitavo de dez países com os maiores índices de suicídio de jovens entre 15 e 29 anos. Segundo pesquisa da Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP) houve um aumento de 24% de vítimas. Boa parte, com a idade do público da ESCOLAB. “É nessa idade que precisamos ficar ainda mais atentos aos sinais dos colegas. Ainda mais quando vemos alguém triste, como a garota da peça. A peça ajuda as crianças a se conscientizarem, para não fazerem chacotas dos outros, aprender a respeitar os colegas e darem importância ao Setembro Amarelo”, disse Micaelen, 17 anos.