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Alfa e Beto: solução ou mágica para a alfabetização?

Não são poucos os motivos que levaram os professores da Rede Municipal de Ensino de Salvador a se posicionar veementemente contra o pacote Alfa e Beto. No último sábado, dia 16 de março, um grupo de profissionais de educação discutiu os equívocos pedagógicos e políticos da adoção do método pela Secretaria Municipal de Educação. O debate aconteceu durante o Fórum sobre a Medicalização da Educação e da Sociedade – Núcleo Bahia, realizado no Pavilhão de Aulas do Canela. No encontro, ficou evidenciado um conjunto de equívocos conceituais no material que representa um retrocesso e o retorno ao velho modelo de repetição e memorização, de forma restrita ao código, sem pensar o aluno como um sujeito criador e sem levar em conta os aspectos socioculturais.
Na oportunidade, Maria Thereza Marcílio, gestora institucional da Avante – Educação e Mobilização Social, fez um panorama dos avanços das políticas públicas de educação no país sob a perspectiva do atual marco legal, que apresenta a autonomia, profissionalização e definição das responsabilidades entre união, estados e municípios. Segundo ela, os problemas enfrentados pela educação pública brasileira são comuns a todos os países que passaram por um modelo de massificação, buscando alcançar a universalização do acesso ao ensino básico. Contudo, faz-se urgente a efetivação de políticas que garantam a qualificação desse ensino, de forma atenta à formação permanente dos professores.
A especialista lembrou que onde o sistema Alfa e Beto foi oferecido como solução em diversos locais e em todos houve embate entre professores e secretarias de educação, a exemplo de municípios em Pernambuco e no Rio Grande do Sul. Em ambos os casos, os profissionais de educação ressaltaram os erros conceituais do material. “Toda argumentação da secretaria se dá em dizer que milhares de crianças foram alfabetizadas pelo método. Mas os dados numéricos não revelam a qualidade, nem apresentam uma aferição dos resultados da sua aplicação. O problema da educação brasileira não está na falta de método, mas na falta de qualidade e condições estruturais. Há que se ter muito cuidado com a aplicação de métodos mágicos, que prometem soluções imediatas” acrescenta a pedagoga.
Outra que teve oportunidade de fala foi Elaine Cristina Oliveira, da UFBA. Para a fonoaudióloga, a dimensão cultural e de língua como construção social estão fora do método proposto pela Secretaria de Educação. “No conceito do programa se coloca a rasura, o borrão, a hesitação na fala como erros, mas esquece-se que tudo isso é inerente à construção da própria fala, da própria escrita e do ato de pensar. Um sujeito que só repete, não pensa, não planeja, não cria” pontua a estudiosa. O Alfa e Beto faz um retorno ao modelo de memorização dos fonemas, padronização da caligrafia e não faz contextualizações culturais para os locais onde será aplicado, indo na contramão do pensamento mais contemporâneo de educação.
Os professores sinalizaram que há pressões para que os profissionais adotem o sistema, inclusive a responsabilização pelos baixos índices do Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (IDEB), no caso daqueles que se recusarem a empregar o material. Em contrapartida, fala-se em incentivos financeiros para quem aderir ao método. A perspectiva dos educadores é fortalecer o movimento e o olhar crítico em torno do material, questionando os motivos políticos econômicos de sua adoção e a forma como vem sendo encaminhado o processo.

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