A equipe do Vozes da Cidade participou da “Oficina Orçamento Criança 2016”, um evento organizado pela Comissão de Defesa da Criança e do Adolescente da Câmara Municipal de Salvador, cujo objetivo foi debater com a sociedade, propostas orçamentárias voltadas às crianças e adolescentes da cidade. “É uma oportunidade também para os nossos adolescentes mobilizadores, que estão em formação continuada, obterem conhecimento sobre etapas da construção de políticas públicas e praticarem a incidência política em uma causa que está intimamente ligada aos objetivos do projeto, que é incluir as crianças e adolescentes na construção de uma Salvador com menos desigualdades”, disse José Humberto Silva, coordenador do projeto Vozes da Cidade: crianças e adolescentes participando da construção de Salvador.
Vitória Gomes Oliveira, 17 anos, uma das adolescentes mobilizadoras do projeto, reconhece ter sido uma rica experiência. “Não sabia da existência de um orçamento para criança. Gostei também de ter sido escutada. Falei quando uma adulta propôs que as quadras das escolas não deveriam ser abertas à comunidade, mas limitadas aos alunos em seus turnos de aula. Achei um absurdo, porque na minha comunidade, no Uruguai, a quadra da escola Santa Barbara é aberta para a comunidade e acaba sendo um espaço seguro, com menos risco de vida para as crianças e adolescentes terem lazer. Em outros espaços acabamos por ter que conviver com o mundo das drogas”. Os participantes do evento foram separados por grupos de trabalho e Vitória ficou no de Educação, Cultura e Lazer.
Mesmo feliz por ter participado do evento que ocorreu no dia 11 de setembro, na Faculdade de Economia da UFBA, Vitória apontou o que para ela denota o quanto a participação de crianças e adolescentes ainda está em construção. “A grande maioria era de adultos”. O coordenador territorial (Cajazeiras), Frank Ribeiro, informou que, além dos adolescentes do projeto, havia alguns representantes de redes e coletivos de adolescentes de Salvador, muitos deles mapeados pelo Vozes da Cidade. Ele acrescenta que os debates foram realizados em três grupos de trabalho: Educação Básica; Esporte, Cultura e Lazer; e Saúde.
Para outra adolescente mobilizadora do projeto, Bruna Silva, 15 anos, o aprendizado também foi intenso. “Aprendi, por exemplo, como é constituído o fundo para a merenda escolar: de cada um real por estudante, o governo federal doa 70 centavos, sendo 30 centavos responsabilidade do município”, explica. Ela, no entanto, não deixou de ficar surpresa com algumas informações apreendidas durante o processo. A Falta de espaço cultural nas áreas da cidade com menor poder aquisitivo, foi um exemplo.
“Perguntei quantos espaços haviam e a resposta me deixou horrorizada. Além do espaço cultural da Barroquinha, que está no centro, e acho que não conta, temos apenas os espaços do Alagados e Plataforma. Uma cidade tão grande e tão desigual. Os teatros, por exemplo, são quase todos em áreas nobres, ou no centro da cidade. E no Subúrbio, onde vivo, acaba que é muito carente desses espaços”, disse.
Bruna ressalta, no entanto, que o sentimento que ficou foi de felicidade pelo simples fato de ter participado. “Foi muito bom falar sobre esse tema. Na verdade, fiquei muito feliz porque fui escutada por adultos e minha reivindicação foi anotada e será parte do documento que está sendo sistematizado. Outro motivo que me fez feliz foi o fato de estar representando os adolescentes da cidade, que eram muito poucos no evento”, concluiu, não sem antes demonstrar um pouco da descrença que ainda caracterizam os adolescentes de Salvador, quando o assunto é o poder público. “Só espero que o que pedimos se tornem realidade”.