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A vulnerabilidade das crianças em condição de pobreza durante a pandemia

A pandemia causada pela Covid-19 retirou temporariamente das escolas mais de 95% das crianças na América Latina e no Caribe, de acordo com dados divulgados em março pelo UNICEF. Se o vírus desencadeou em todo o mundo uma guerra invisível pela sobrevivência, não se pode dizer o mesmo em relação à situação de vulnerabilidade que já ronda as crianças em condição de pobreza. Além de questões que surgem nesse momento, que envolvem as rotinas educacionais em domicílio, como a dificuldade de conectividade e de acesso aos recursos tecnológicos das famílias pela situação econômica frágil, muitas crianças também estão enfrentando restrições de ordem alimentar, de violência doméstica e outros agravos decorrentes da situação de isolamento social e desestruturação dos lares também por questões sociais.

Essas foram algumas questões pontuadas por especialistas da América Latina e dos Estados Unidos na área da Educação, que participaram do webinar ” Infância em condições de pobreza contra a pandemia do coronavirus – Impactos e desafios para famílias e para quem trabalha com a infância “, na última quarta-feira (15/04), organizado pela Fundação Arcor em parceria com as instituições Equidade para a Infância e The New School.

A presidente da Avante – Educação e Mobilização Social, Maria Thereza Marcilio, foi a painelista com a incumbência de apresentar o cenário da Educação no Brasil diante do novo coronavírus. Com larga experiência na área de Educação, ela disse que essa era uma crise nova, do ponto de vista da suspensão das aulas, nessa proporção, e defendeu ser necessário garantir o vínculo entre as crianças e a escola. Entretanto, Maria Thereza fez a ressalva de que para a maior parte das crianças as aulas virtuais não eram uma realidade viável devido à falta de acesso à internet, de equipamentos, à problemas conjunturais como o das moradias completamente lotadas, com pouca privacidade, e com poucas condições de os adultos apoiarem seus filhos, seja porque eles próprios não tenham sido alfabetizados ou por situações precárias geradas pelo desemprego e informalidade. “Enquanto as crianças da classe média e da classe alta estão tendo apoios do ponto de vista da tecnologia e de suas famílias, é óbvio que as crianças em condição de pobreza estão desassistidas e muitas delas não conseguirão acompanhar”, disse a presidente da Avante.

Maria Thereza afirmou que a pandemia revela a profunda desigualdade existente no Brasil. Ela citou ainda que apesar de o País ter um Sistema Único de Saúde (SUS) – acessível a toda população de forma gratuita –  o seu funcionamento ainda é precário; elogiou os esforços das equipes de saúde para atender a população, mas lembrou que os recursos ainda são insuficientes. “Isso vai atingir mais facilmente as crianças e classes mais vulnerabilizadas”, disse. Ademais, Maria Thereza lembrou a ineficiência de atuação do Governo Federal frente à questões urgentes de controle da pandemia.

Além da preocupação com os estudantes, Maria Thereza lembrou que também se fazia importante cuidar dos educadores. “É uma novidade para os sistemas educacionais essa transformação. E nós não fomos preparados para isso – eu falo como professora do Ensino Fundamental –, para transformar o nosso vínculo e a nossa tarefa em uma atividade virtual”, declarou a especialista.

Entre as lições em curso deixadas pela pandemia, Maria Thereza destacou que é muito importante que a agenda social prevaleça em relação à agenda econômica. Ela reforçou ainda que solidariedade e empatia precisam ser mais valorizadas na sociedade, sob pena de sermos “condenados à derrota” enquanto sociedade.

O webinar “Infância em condições de pobreza contra a pandemia do coronavírus” contou ainda com as participações de Nestor López (UNESCO), Alberto Robaina (Fundo das Escolas Católicas em Nova York) e Cristina Fraccia (CAFF – Tigre Argentina). Coube a Alberto Minujin, da Equity for Children, e Alberto Rodriguez, da Fundacion Arcor, a mediação do painel. Minujin destacou a relevância das discussões diante de questões tão sérias que afetam a Educação na pandemia e que trarão mudanças que ainda não foram mensuradas.

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