
Quase 62% das vítimas de estupro no Brasil são crianças com até 13 anos de idade. O dado divulgado pelo Anuário Brasileiro de Segurança Pública (2024) denuncia o grito de socorro de milhares de meninos e meninas que não conseguiram se desvencilhar da covardia de abusadores.
Tendo em vista a gravidade do problema e a vulnerabilidade das crianças perante esse tipo de violência, todas as estratégias e iniciativas de prevenção precisam ser convocadas.
Para fortalecer a linha de frente de proteção das infâncias e somar à campanha de Combate ao Abuso e à Exploração Sexual de Crianças e Adolescentes, nesta semana em que o tema ganha maior visibilidade, a Avante – Educação e Mobilização indica a leitura de Não me toca, seu boboca.
A história da coelha Rita, escrita por Andrea Viviana Taubman, com ilustrações de Thais Linhares, denuncia o padrão de comportamento dos abusadores e comunica às crianças estratégias de autoproteção.
Não me toca, seu boboca é uma narrativa de empoderamento, cuja mensagem precisa estar ao alcance de todas as crianças.
A narrativa
Quase…
Essa é uma história sobre uma tentativa frustrada de abuso, graças à coragem da protagonista.
Rita, a coelha apelidada de Ritoca, mesmo assustada, parecia saber como reagir a um gesto mal intencionado.
Alvo de um “bom” senhor, o tio Pipoca, vizinho que se escondia atrás de sorrisos e gentilezas, Rita foi envolvida por uma série de artifícios bastante convidativos a qualquer criança.
Vilão da história, Pipoca não mediu esforços para manipular Ritoca e seus amigos. Figurinhas, lanches e promessas de diversão prepararam o caminho até o fatídico convite.
De vítima solitária a adulto hiper divertido, o tio Pipoca não demorou muito para convencer a coelha e sua turma a brincarem em sua casa; convite que veio precedido de uma condição: “ninguém poderia contar nada, de jeito nenhum”.
Ritoca, no entanto, sabida que era, achou estranho. E, por alguma razão, entendeu que aquela condição “ia dar confusão”. E daria, se a pequena roedora não percebesse tudo a tempo.
De onde veio a percepção assertiva sobre as intenções do vilão? Quem a muniu de informações sobre a proteção do seu corpo? Ritoca sabia que ele era um lugar intocável a estranhos e que o afeto dispensa esconderijos e segredos. Duas lições para a criançada numa única cena.
Não me toca, seu Boboca é um livro que auxilia as crianças a se empoderar. A experiência de sua protagonista é uma referência pertinente para que as crianças entendam sobre como e em quais situações dizer NÃO.
Após o desfecho da narrativa, numa espécie de diálogo direto com seus leitores, Ritoca descreve ainda outras situações perigosas de violência sexual, cujas ilustrações lançam mão de recursos que denotam o caráter proibitivo das diferentes abordagens de iminentes aliciadores.
A coelha deixa claro a todas as crianças que, em situações similares, a saída é berrar, correr e pedir ajuda, afinal, é preciso “combater o abuso com valentia”. E, mesmo que a violência machuque e entristeça, é preciso virar o jogo, pois “toda criança tem o direito de ser protegida e viver feliz!”, conclui Ritoca.