Em 2016, a Avante – Educação e Mobilização Social iniciou, em dois terreiros de candomblé soteropolitanos, o “IPA – a força empreendedora das mulheres”, um projeto de fomento à economia solidária que reuniu mulheres negras, a maior parte oriunda dos terreiros Tanuri Junsara e Cobre, localizados no Engenho Velho da Federação, para uma formação múltipla, que passou por gestão, viabilidade socioeconômica, costura e design, além de contarem com acompanhamento de uma psicóloga social.
Como resultado desse processo, surgiu o empreendimento de moda afro, Laços de Mãe, que vai realizar o primeiro desfile na loja CESOL (Centro Público de Economia Solidária) do Salvador Shopping (L2), no dia 7 de outubro, 14 horas. A coleção “A Deusa que habita em cada uma” é composta por peças produzidas pelas participantes do projeto, como a integrante do Terreiro do Bogum, Rita Pinheiro. “Nosso trabalho é um meio de propagar nossa cultura e valorizar a mão de obra da comunidade. Quando a gente faz essas roupas, quando a gente pensou nessa coleção, foi para valorizar a nossa beleza negra, a nossa raça através dessas peças”, diz Rita.
As roupas serão apresentadas pelas próprias integrantes do empreendimento, que vão desfilar uma moda que reflete a cultura afro-brasileira, usando tecidos de caça, panos africanos, valorizando a mulher negra. “É uma coleção primavera-verão, com cores vivas, alegres, estampas marcantes. Para a mulher negra ser linda, não precisa de muita coisa. A roupa consegue botar isso para fora. O colorido na pele negra fica lindo, e a nossa coleção traz essa alegria. Valorizar o cabelo, o tom da pele, isso tudo faz com que a gente se sinta bonita”, revela Rosângela Fonseca, participante do projeto e iniciante no candomblé.
Moda consciente
Mesclando a moda tradicional de terreiro com a moda contemporânea, o Laços de Mãe criou uma produção não só para quem está ligado ao candomblé. E com o diferencial de ser um empreendimento baseado na economia solidária, fundamental para o desenvolvimento social. “A indústria não foca nas pequenas comunidades, suas realidades, necessidades e projetos, pois a produção industrial objetiva fabricar e escoar os produtos no mercado. Essa é a máxima. Um projeto como Laços de Mãe é uma das formas de possibilitar o resgate cultural negro, o desenvolvimento, crescimento e autonomia cidadã, avalia a mestre em Artes Visuais, Arte e Design: processos, teoria e história pela UFBA, Cllaudia Soares.
Embora a primeira coleção traga peças femininas, o Laços de Mãe também produz moda masculina, para que mulheres e homens possam expressar sua negritude. “Hoje, a produção de moda afro em Salvador acontece de maneira mais favorável, devido ao reflexo da nossa atitude de repúdio a toda e qualquer forma de preconceito ao negro. Traz o que queremos de fato, visando nossos interesses, nossa maneira de atuar, de viver, e a produção de moda, mais do que em outro momento, expressa essa consciência”, finaliza Cllaudia.
IPA
Voltado à geração de renda de mulheres costureiras oriundas de terreiros, e à difusão da cultura afro-brasileira, o projeto “IPA – a força empreendedora das mulheres” foi executado pela Avante – Educação e Mobilização Social, nos terreiros Tanuri Junsara e Cobre, no bairro do Engenho Velho da Federação, em Salvador, financiado pela Secretaria do Trabalho, Emprego, Renda e Esporte (SETRE), por meio da Superintendência de Economia Solidária (SESOL).