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#20anosAvante – empoderando cidadãos para o mundo do trabalho por meio da economia solidária

A Avante – Educação e Mobilização Social, desde 1996, atua como uma associação. Ao longo desse tempo, passo a passo, a instituição construiu uma gestão compartilhada e aprendeu, por meio da reflexão da própria prática, os caminhos para o fomento e fortalecimento de empreendimentos associativos solidários. Até que, em 2006, por meio do projeto Grãos: cultivando em parceria para colher autonomia, surge a primeira oportunidade para o empoderamento de cidadãos, em especial as mulheres, para atuar no mundo do trabalho a partir de valores como cooperação, igualdade, liberdade e autonomia.


O Grãos (2006 a 2011) semeou a Economia Solidária nas comunidades do Calabar, Alto das Pombas e Roça da Sabina, em Salvador. O Florescer: fortalecendo mulheres para o desenvolvimento local (2012 – 2014) fortaleceu os grupos criados e agregou novos à proposta. O É Dia de Feira Solidária (2013 – 2015) criou a primeira cooperativa de alimentos dentro de uma das maiores feiras livres da América Latina. O IPA – A Força Empreendedora das Mulheres (2015 – 2017) reúne mulheres costureiras oriundas de terreiros e forma grupo produtivo de costura.


Os primeiros passos foram dados por meio de parceria com o Instituto Wallmart e a Sociedade Beneficente e Recreativa do Calabar (SBRC), a partir da escuta das mães e familiares da comunidade do Calabar, em Salvador (BA). O diálogo com a comunidade aconteceu durante execução do projeto Consórcio social da Juventude, do qual a Avante era instituição âncora, que vinha realizando um trabalho de inserção de jovens (até 24 anos) no mundo do trabalho, a partir de uma iniciativa do Ministério do Trabalho e Emprego (MTE).


A escuta realizada na comunidade gerou uma reflexão para a instituição – o que fazer com os moradores acima da faixa etária atendida pelo Consórcio, moradora do Calabar? A resposta veio da Economia Solidária (ECOSOL), por meio do fomento à criação de grupos produtivos nas comunidades do Calabar, Alto das Pombas e Roça da Sabina. Ao fomentar os grupos, o projeto Grãos iniciou o acolhimento dessas pessoas.


Ao longo de seis anos o projeto passou por duas fazes, nas quais foram formadas 350 pessoas nas áreas de alimentação, costura, elétrica predial e paisagismo, que discutiram conceitos e ideias sobre Economia Solidária, associativismo e cooperativismo. Foram fomentados três empreendimentos solidários: o de elétrica, o de alimentação e o de costura. A COOPS (Cooperativa Pedacinhos de Sabor) e a COOPERCID (Cooperativa Costurando Ideias) permanecem atuantes produzindo alimentos e roupas, ambas formadas por mulheres com baixa escolaridade, vítimas de violência e moradoras do Calabar. “Vivenciamos, junto com elas, belas histórias de conquistas pessoais, ampliação de mundo, empoderamento feminino e, principalmente, geração de renda”, conta Fabiane Brazileiro, na ocasião consultora associada da Avante e coordenadora do projeto.


Os grupos produtivos também acolhem o público masculino, mas as mulheres são, de longe, a maioria. Fabiane encontra em sua memória depoimentos marcantes da cooperadas. “Uma delas, me lembro, morria de medo do marido brigar se ela quebrasse algo em casa. Foi uma felicidade quando ela começou a ganhar dinheiro por meio do trabalho da cooperativa, pois, a partir daquele momento, ela sabia que tinha condição de repor o que foi quebrado e podia ficar de cabeça erguida”, conta. Ela lembra, ainda, do choro de outra cooperada ao receber uma nota de 100 reais. “Primeiro ela nunca tinha visto uma cédula de 100, depois a cédula estava na carteira dela, por mérito próprio. Para mim, que pensei desde o fomento à construção dos espaços de produção, é o reflexo de um trabalho sério, de muita dedicação e realização profissional”.


Os depoimentos resgatados por Fabiane Brazileiro podem ser conferidos no registro audiovisual que leva o mesmo nome do projeto – Grãos: cultivando em parceria para colher autonomia.


Poder público


Fabiane Brazileiro é autora da dissertação Do Grão à colheita? Reflexões críticas sobre um projeto de investimento privado no Calabar que faz uma reflexão sobre o caráter pontual da parceria da instituição privada com a ONG, sem envolvimento do poder público, numa ação como essa, de geração de renda. “Com base nos resultados [da pesquisa] pode-se compreender que projetos como o Grãos geram transformações pontuais ao seu público direto, entretanto, sem a parceria com o Estado, os investimentos privados apenas mitigam as desigualdades sociais”, lê-se no resumo do trabalho.


Ao final do projeto Grãos, a comunidade do Calabar, então, faz um pedido à Secretaria do Trabalho Emprego, Renda e Esporte (SETRE), para que esses empreendimentos produtivos sejam acompanhados pela Avante. Juntos, comunidade e instituição constroem o Florescer e inauguram a entrada do poder público na iniciativa, abrindo caminhos para autonomia e incidência politica em prol da economia solidária.

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