A história de Reggio Emíllia – referência mundial em Educação Infantil

Depois da mesa com os gestores públicos, o destaque do terceiro dia (quarta, 13 de agosto) do V Encontro de Formação e II Formação Itinerante do projeto Paralapracá, em Olinda, foi protagonizado pelas educadoras do Centro Internacional Loris Malaguzzi, Paula Strozzi e Vanna Levrini. Elas contaram a história da Educação Infantil na cidade de Reggio Emilia para uma plateia atenta, que aprendeu como as crianças são vistas e compreendidas e como são feitas as articulações de políticas públicas para a infância na cidade italiana.

Antes, no entanto, as educadoras fizeram questão de ressaltar que cada comunidade deve valorizar a própria história, valorizar a experiência local. Para, então, apresentar a escola como um lugar de vida, onde as crianças, juntas, constroem uma cultura que interage com comunidade.

O Reggionara, foi um exemplo dessa interação entre escola e seu entorno, lembrado pela educadora. Se trata de um evento que durante um final de semana inteiro transforma a cidade de Reggio Emilia em um grande palco de contação de histórias e em um espaço para exposição das produções das crianças. Os integrantes do intercâmbio promovido pelo IC&A com parceria técnica da Avante à cidade italiana em maio de 2013, tiveram a oportunidade de vivenciá-lo. Na ocasião, prefeitos, secretários da educação e técnicos das secretarias, assim como representantes do IC&A e equipe Paralapracá sentiram de perto o que significa uma cidade voltada para as crianças.

História

As educadoras contaram que a história de Reggio Emíllia é marcada pelos conflitos e crises que tomaram a Europa no século passado. Narraram que o caos que seguiu a segunda guerra foi contornado pela união de esforços da comunidade, e por iniciativas públicas, privadas e religiosas, que deram prioridade à infância. “Com isso, surgiram creches dedicadas a cuidar daquelas que sobreviveram ao conflito. Quase 30 anos depois, surgiu a primeira instituição laica dedicada à infância. Nela os professores praticavam uma troca intensa de experiências, o que viria a marcar profundamente a Educação Infantil em Reggio Emilia”, lembra Vanna Levrini, professora da escola de infância do Centro Internacional Loris Malaguzzi.
Vanna destacou ainda o papel das mulheres, por meio de um episódio emblemático do pós-guerra, no qual membros da comunidade venderam um tanque para reconstruir o povoado. “Enquanto os homens desejavam a construção de um cinema, as mulheres optaram pela escola. Venceram as mulheres”, relata.

Ela explica que assim começa a história de Reggio Emilia como a Cidade das Cem Linguagens. “Esta construção foi a base de um futuro diferente para as crianças”, conta. “Temos consciência de que nascemos deste gesto de solidariedade e participação”, acrescenta.

As educadoras falaram também sobre a grande influência do educador Loris Malaguzzi, “que trouxe a importância do trabalho cooperativo, com compartilhamento de experiências, tornando a escola um organismo que pulsa como parte da comunidade, na qual professores, assistentes, cozinheiras, familiares, enfim, todos participam”. De acordo com Paula Strozzi, Maladuzzi deu uma profunda relevância à presença da arte, da estética do ambiente, da presença da família e, por fim, da importância de tornar a cultura das crianças uma experiência visível ao público externo.

Uma questão de políticas públicas

Paula Strozzi ressalta a grande dificuldade em manter a qualidade e a sustentabilidade da proposta pedagógica de Reggio. Ela, contudo, aponta o caminho. “A educação é responsabilidade de toda a comunidade”. Paula lembra também que é muito comum que os investimentos nas crianças sejam escassos, mesmo na Itália, o que torna urgente o comprometimento da sociedade civil na busca, junto ao poder público, pela elaboração, execução e manutenção de políticas públicas.

A educadora deu detalhes de como as instituições são geridas. Contou que cada uma tem a liberdade de construir seu próprio projeto pedagógico, tendo como base as diretrizes municipais. O principal investimento é do poder público, associado a fundos da comunidade, das famílias e instituições privadas e religiosas.


Segundo Strozzi, dados mostram que em momentos de crise, as próprias instituições de ensino procuraram cortar custos, mas sem deixar de priorizar a qualidade do projeto pedagógico. “Não queremos tirar das crianças a beleza em nome de uma sustentabilidade financeira. A beleza não é riqueza, é cuidado. Acolher a criança em um ambiente belo é dizer a ela; vocês são importantes”, disse Paula Strozzi.


A educadora mostrou, por meio de slides, o que significa a qualidade do projeto pedagógico e quanto ela está ligada ao ambiente oferecido às crianças, no qual materiais naturais, são utilizados como ferramenta de aprendizagem. Ela acrescenta que, dessa forma, as crianças aprendem pelo fazer, pelo manuseio desses materiais, e pelo compartilhamento constante de experiências entre professores, familiares e educadores.
 
 
 

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