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Wagner Santos: futebol, rap e incidência política entre as Vozes da Cidade

Wagner Santos de Jesus, 14 anos, queria ser jogador de futebol. Mas as dificuldades são grandes e começa pelo campo onde joga com seus amigos no bairro de Jardim Cajazeira. “Existe um esgoto a céu aberto atravessando o campo e esse é apenas um dos problemas de minha comunidade que me fez pensar em um futuro diferente”. Ele agora quer ser político. “É muita coisa errada acontecendo no bairro e na cidade de Salvador. Nos hospitais, por exemplo, só o que se vê é desrespeito. Na segurança também. Eu acho que essas coisas têm de mudar.”
E já arregaçou as mangas para fazer algo. Todas essas cosias “que têm que mudar”, e que circunda seu mundo, ele transforma a partir do que faz com mais empolgação em suas horas livres: compor e recitar raps; sua natural prática de incidência política. Incidência esta que, segundo ele, ganha maior abrangência agora com sua participação no projeto Vozes da Cidade.

Direitos humanos, principalmente voltados para adolescentes negros; é sobre o que mais escreve em seus raps e sobre o que mais debate nos coletivos que participa. No Jardim Cajazeiras, onde vive, ele é integrante do Medianeiras da Paz, que está ligado ao Conexão Vida (de maior abrangência na cidade e no qual atua com mais frequência). “Trabalhamos com jovens; queremos resgatá-los das ruas e levá-los para nossa instituição, ou outras. Mostrar-lhes que têm coisas melhores para acontecer em suas vidas”, relata.

Para ele, o projeto Vozes da Cidade vem como uma esperança de solução de um dos maiores problemas dos adolescentes: a impossibilidade de participar politicamente, não só em sua comunidade, como em toda Salvador. “Eu acho que as vozes da cidade somos nós mesmos, mas não somos ouvidos, por isso gosto do projeto, porque ele está focados em ser a ponte entre a gente e o poder público.”
Ele conta a estória do campo de futebol com esgoto a céu aberto como um exemplo desse problema. “Os dois coletivos que participo foram à associação de moradores, conversamos com eles. Mas na hora da interlocução com o poder público, não fomos chamados. Resultado: o campo continua na mesma situação.

E como exemplo do que acontece na relação entre o poder público da cidade e seus adolescentes, “construíram uma pequena praça, sem nos consultar se era isso que queríamos ou necessitávamos. Ela é pequena e com casas ao seu redor . As casas são muito próximo da praça. Quando jogamos futebol nela, para evitar o esgoto do campo, a bola bate nas casas, e os vizinhos reclamam. Já jogaram até água quente na gente! Ou seja, não dá para ser jogador de futebol, vou ser político, porque essas coisas têm de mudar”.

Seja qual for seu futuro; político, jogador de futebol, rapper – ou outras portas que possam se abrir para Wagner Santos de Jesus – ele está disposto a continuar incidindo politicamente, passando mensagens sobre direitos humanos e sobre o fim das desigualdades sociais. Sobre o racismo, por exemplo, ele grita em forma de raps:

“Fala mal da minha cor. Fala mal do meu jeito. Mas lhe peço, por favor. Vamos acabar com o preconceito. Quando entro numa loja, me julgam de ladrão. Porque não tenho paletó, diz que estou com arma na mão. Agora me pergunto porque o mundo é assim. Não é porque sou negro, que me chamam de feliz.

Agora vou falar, por favor, preste atenção. Não é porque sou preto que eu não tenho coração.”

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