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Vamos conversar com as crianças sobre as enchentes?

Os mais recentes acontecimentos no Rio Grande do Sul despertaram uma importante preocupação: como abordar o tema das enchentes com as crianças? Crianças estão vivenciando a difícil experiência de perder pessoas, amigos bichos e até suas casas. Em tragédias como essa, em que as preocupações e afetações são coletivas, as crianças precisam ser chamadas para a conversa. 

Embora o Rio Grande do Sul seja, neste momento, o Estado acometido pela crise climática (e política), muitas crianças brasileiras, sobretudo as socialmente vulnerabilizadas, que sofrem de forma desigual os impactos ambientais (racismo ambiental), já vivenciaram a realidade de alagamentos e deslizamentos de terra e também tiveram que deixar as suas casas para dormir em abrigos improvisados nas escolas ou igrejas do bairro. 

Essa conversa inclui todas as crianças, aquelas que estão no “olho do furacão”, para que sejam acolhidas neste momento de fragilidade, e aquelas que tiveram o privilégio de nunca terem experimentado tal realidade. A abordagem é necessária para educar, sensibilizar e mobilizar para a empatia e solidariedade.  

Hora da história

Profissionais dedicados à infância vêm construindo, com a tragédia ainda em curso, estratégias para acolher psicologicamente essas crianças. Tendo em vista a gravidade da crise que acomete todo o Estado, essa tornou-se uma tarefa necessária e urgente. Muitas crianças estão desencontradas dos familiares, outras perderam colegas, professores, seus bichos de estimação e, em meio a todo esse cenário desolador e de interrupção de suas rotinas, muitas ficaram órfãs de algo ou alguém.

Sem perda de tempo, a psicóloga, Sabrina Führ, elaborou o livro E a chuva… dedicado aos gauchinhos, com ilustrações coloridas e páginas especiais para as crianças pintarem e interagirem. A narrativa auxilia as crianças a compreenderem a necessidade de medidas emergenciais quando a chuva “transforma as ruas em rios” e a elaborarem as emoções que chegam com as enchentes, como o medo, a angústia, o luto, o desespero e a raiva.

Claudia Zirbes, psicopedagoga, dedicou atenção às crianças com deficiência. O livro: O que está acontecendo no Rio Grande do Sul? foi elaborado a partir de recursos de comunicação alternativa, que utiliza símbolos e estratégias visuais para apoiar a compreensão da narrativa. 

As duas obras são ferramentas importantes para todas as crianças, inclusive para as que estão, de alguma forma, acompanhando a tragédia pelos fragmentos que ouvem dos adultos ou pelas cenas que captam momentaneamente, quando passam os olhos pela TV. 

Escutar

As tragédias que atravessam a infância podem desencadear traumas por toda a vida, por isso, a psicóloga Sabrina Führ, em nota aos familiares e cuidadores, alerta para que os adultos estejam sensíveis a ouvir os relatos das crianças, e, caso não queiram falar sobre a experiência, que esse tempo seja respeitado. 

Embora as circunstâncias sejam de angústia e sofrimento, os livros propõem um fim à história. Um fim de esperança e certeza de que tudo ficará bem.

“Vamos juntos esperar a chuva passar… Ela sempre passa!”.

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