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Maceió inaugura novo eixo formativo com palestra de especialista

A doutora em Educação Infantil pela Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) e diretora do Núcleo de Desenvolvimento Infantil (NDI), da Universidade Federal de Alagoas (UFAL), professora Telma Vitória, foi convidada para a abertura do novo eixo do projeto Paralapracá em Maceió: Assim se Organiza o Ambiente que aconteceu em novembro na sede da Secretaria Municipal de Educação (SEMED). A professora falou para uma plateia formada por 56 coordenadores pedagógicos que atuam nas instituições de Educação Infantil da Rede Municipal de Educação, entre elas, as atendidas pelo projeto. O evento deu início a um importante movimento para qualificação deste segmento da educação por meio da adequação do ambiente como um importante elemento no processo educativo das crianças.

O encontro teve como objetivo proporcionar a reflexão sobre as concepções do binômio espaço físico e ambiente e como essas duas questões se relacionam na busca da qualidade da educação das crianças de 0 a 5 anos.  E teve como pano de fundo o caderno Indicadores da Qualidade na Educação Infantil, produzido pelo MEC 2009.

O Paralapracá é um projeto do programa Educação Infantil do Instituto C&A, realizado em parceria técnica com a Avante – Educação e Mobilização Social, para a qual “a organização dos ambientes em uma instituição de educação não está ligada apenas às condições materiais e institucionais, mas também às concepções sobre criança e educação. Desta forma, a disposição, presença ou ausência de materiais e objetos sempre dizem algo sobre o que pensam as pessoas que organizam e cuidam desses lugares”, conforme descrito no Caderno de Orientação Assim se Organiza o Ambiente, que compõe a série de materiais formativos da Mala Paralapracá .

Na entrevista a seguir, concedida ao site do Paralapracá, a professora Telma Vitória fala, entre outras coisas, sobre os desafios a serem enfrentados na promoção dessa mudança.

ENTREVISTA

Paralapracá: Uma das premissas do projeto Paralapracá é que o ambiente deve ser considerado como um elemento educativo, flexível, que possibilite a exploração pelas crianças. Quais os maiores desafios para que isso possa ser aplicado nas instituições das redes municipais de educação?

Professora Telma Vitória: Os desafios envolvem, principalmente, a superação de concepções por parte de profissionais, formadores e gestores a respeito da criança pequena. Em primeiro lugar, ainda persiste a ideia de que a criança pequena não é capaz de se organizar e, por isso, espaços vazios seriam mais apropriados para ela. Esta concepção já foi refutada por pesquisas. Por isso, os professores e professoras ainda são formados a partir  de uma concepção de que seu trabalho deva centralizar a atenção das crianças em uma só atividade, na maioria das vezes, na reprodução de algo. Por fim, a falta de investimento financeiro na construção e organização dos espaços de creches e pré-escolas é um grande desafio.
 
Paralapracá: É possível vencer esses desafios? Como?

Professora Telma Vitória: Impossível saber se, ou quando, esses desafios serão vencidos. Creio que o que pode ser feito é a continuidade das ações de formação, mobilização dos fóruns, tentar colocar a primeira infância na mídia a partir das concepções que ratificam suas capacidades e direitos. Mas estas ações ainda não se mostraram suficientes para mobilizar um maior contingente da sociedade.

Paralapracá: Como um ambiente que valorize a criatividade das crianças pode colaborar com o seu desenvolvimento?

Professora Telma Vitória: *Vigotski oferece todos os elementos para essa pergunta.

  • Paralapracá indica a leitura do artigo: A Criatividade Infantil na Perspectiva de Lev Vigotski

Paralapracá: Qual o papel do educador nesse ambiente?

Professora Telma Vitória: Saber observar como as crianças ocupam os espaços. Planejar e providenciar a sua organização conforme o que observa. Atuar como mediador dos aprendizados das crianças, individual e coletivamente. Planejar temáticas que estejam interessando às crianças e providenciar materiais que enriqueçam sua investigação.

Paralapracá: Como esse profissional deve reagir frente à curiosidade e até mesmo aos possíveis receios das crianças diante de um ambiente que valorize a sua liberdade criativa?

Professora Telma Vitória: A curiosidade é a grande motivação da criança para aprender. Nem sempre é o que o educador acha que ela deva aprender. Por isso, a curiosidade da criança, na educação infantil, deve ser sempre o indicador para o planejamento do educador. A criança que mostra receios, a depender da idade, pode estar insegura quanto aos vínculos estabelecidos (as mais novas) ou já ter vivido uma história de impedimentos para sua exploração.

Paralapracá: Esse é um assunto abordado na formação dos professores na UFAL?

Professora Telma Vitória: Ele está previsto no programa do curso, mas até o momento não temos constatado que os formandos percebam a dimensão da organização do ambiente no seu trabalho. A esse respeito, a professora Lenira Haddad tem pesquisa publicada.

  • Paralapracá indica a leitura do artigo: Formação de Profissionais de Educação Infantil no Ensino Superior: Uma Reflexão Acerca das Contribuições das Pesquisas Científicas para se Repensar Essa Formação

O projeto Paralapracá se desenvolve em aliança com secretarias municipais de Educação e possui dois âmbitos de atuação: a formação continuada de profissionais de educação infantil e o acesso a materiais de uso pedagógico de qualidade, tanto para crianças quanto para professores. A iniciativa é implementada em parceria técnica com a ONG Avante – Educação e Mobilização Social, de Salvador (BA). Integram o segundo ciclo do projeto, em realização no período entre 2013 e 2015, cinco municípios: Camaçari (BA), Maceió (AL), Maracanaú (CE), Natal (RN) e Olinda (PE).

* Lev Semenovitch Vygotsky – Pensador importante em sua área e época, foi pioneiro no conceito de que o desenvolvimento intelectual das crianças ocorre em função das interações sociais e condições de vida. Veio a ser descoberto pelos meios acadêmicos ocidentais muitos anos após a sua morte, que ocorreu em 1934, por tuberculose, aos 37 anos.

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