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“Eu pareço a Barbie, mas minha pele tinha que ser diferente”, pensou a criança negra

Crianças negras também têm direito a uma identidade própria e isso começa nas brincadeiras de boneca. Sua negação ou aceitação vai depender do que será oferecido a ela na infância
Pele branca, olhos claros, cabelos loiros, traços finos. Essa é a descrição padrão de quase todas as bonecas infantis. No entanto, o Brasil é um país diverso, onde a maioria se reconhece preta e parda (50,7%).

E daí?

E daí que é na infância que se forma a autoestima das crianças. Por isso, é essencial que a criança tenha brinquedos que reflitam sua própria identidade e cotidiano. Ter uma boneca que se pareça com a criança favorece seu desenvolvimento e fortalece sua autoestima. Para os especialistas, ao se presentear uma criança com um brinquedo que possua traços semelhantes aos seus, estimula-se a elevação da autoestima e encoraja-se o reconhecimento da própria identidade.

Foi o que a Raiane dos Santos, 25, mãe da Ana Beatriz, 6, percebeu. Em Brasília, na sua busca por bonecas para a filha, ela notava que a filha tentava se ver nas bonecas e se comparava com elas. Ao ver as bonecas loiras e brancas, sua filha queria ser igual a elas, ou seja, não se aceitava e inconscientemente não se achava dentro de um padrão de beleza. “A gente ia comprar boneca e eu percebi que elas não se pareciam com a Ana. E às vezes ela falava ‘eu pareço a Barbie, mas meu cabelo não é assim. Eu pareço a Barbie, mas minha pele tinha que ser diferente’, então eu senti a necessidade dela se sentir representada”, afirmou Raiane.

A elevação da autoestima da criança ao se sentir representada em suas atividades lúdicas é perceptível. “Ela começou a se aceitar, a se achar mais bonita vendo que as bonecas têm os mesmos traços que ela tem”, disse a mãe da Ana.

Além disso, a percepção da diversidade desde a infância é uma porta para o fim do racismo. Pois ao mostrar a existência e a convivência de grupos étnicos diversos desde a infância com a representação de bonecas negras, brancas, indígenas e asiáticas como algo comum de nosso cotidiano, a criança passa a não ver o outro como estranho ou feio e passa a aceitar e achar comum a diversidade tão presente no Brasil.

A estética do negro, costumeiramente ridicularizada, passa a não ser mais padrão do feio. A criança começa a se perceber como bonita enquanto as outras despertam para o respeito à estética negra e à pluralidade. “Ela começou a entender como comum as pessoas da pele da cor dela, ela começou a tratar com mais normalidade a pele dela, o cabelo dela.”, afirmou Raiane, a mãe da Ana.

O fato de a criança negra se ver nas bonecas colabora com sua autoestima, fortalecendo sua aceitação e formação de sua identidade.  Ao permitirmos que as crianças brancas vejam a diversidade nas bonecas, inserimos o conceito de respeito e aceitação do papel do outro na sociedade.

Não é apenas uma questão de brinquedo, é uma questão social.

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Fonte: Cadê nossa Boneca?

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