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Espetáculo sobre realidade dos meninos de rua é transmitido ao vivo

Meninos da Guerra inspira-se nas vivências de adolescentes da periferia do Distrito Federal, atores do espetáculo

No momento em que o debate sobre a redução da idade penal inflama Câmara e Senado e divide a opinião de especialistas e cidadãos, uma trupe brasiliense estende a polêmica ao palco e nele encena a realidade vivida por meninos de rua. No elenco de Meninos da Guerra estão adolescentes hoje recolhidos em abrigos da Ceilândia-DF, junto com atores profissionais. A estreia nos palcos acontece hoje, 24 de julho, em Brasília, no Teatro Newton Rossi do SESC-Ceilândia, e em 4 de agosto no Teatro Garagem do SESC 913Sul. Quem está fora do Distrito Federal também pode assistir o espetáculo, que será transmitido ao vivo diretamente do Teatro Sesc-Ceilândia, no dia 26 de julho, às 20h.

Basta acessar o site da RNPI. A transmissão será feita pela Comova.

O espetáculo

O público vai assistir a ruptura do front que separa desamparados e privilegiados, em dramaturgia construída para cenas que retratam as vivências marginais dos garotos. Meninos da Guerra é uma produção associada das companhias de Teatro La Casa Incierta e Celeiro das Antas e da Associação Cultural Intermedia Caliandra − Cinema. O projeto é patrocinado pelo Fundo de Apoio à Cultura (FAC-DF).

O espetáculo tem direção de Carlos Laredo (La Casa Incierta) e co-direção de José Regino (Celeiro das Antas); assistência de direção e atuação da mestranda em Artes Cênicas pela UnB Lívia Fernandez; dramaturgia e encenação de Carlos Laredo; e produção e atuação da atriz Clarice Cardell  (La Casa Incierta). A trilha sonora é assinada pelo rapper brasiliense Gog, com produção musical de Higo Melo.

Gênese – O projeto nasceu em abril do ano passado, sugerido pela promotora da Infância e da Adolescência, Luiza de Marillac. A ideia de poder trabalhar cenicamente com meninos que vivem o vazio entre a rua e os abrigos foi de imediato acolhida pelo casal, que convidou  o também diretor teatral José Regino e este chamou Lívia Fernandez. Mestranda pela UnB que desenvolvia pela Secretaria de Segurança Pública um projeto de teatro com essa população desde 2013, voltado à sua dissertação em artes cênicas, Lívia seria a pessoa certa para abrir os caminhos nos abrigos e, depois, para assumir a assistência de direção.

Formou-se o quarteto, o projeto foi proposto ao FAC-DF e aprovado um ano depois, ou seja, em março, quando a trupe passou a percorrer  os abrigos e orfanatos das redondezas de Brasília, conhecendo os garotos, se inteirando de suas realidades e iniciando uma corajosa e paciente experiência com cerca de 15 possíveis para viver seus próprios dramas ou os de seus colegas no palco. “Nunca se sabia se voltariam ao ensaio no dia seguinte, e de fato, perdemos talentos nessa caminhada”, conta Laredo. “Alguns por estarem sendo perseguidos por gangues; outros, desaparecidos, talvez mortos, porque não tivemos mais notícias”, completa Clarice.

A construção da conquista de confiança e de uma disciplina de trabalho — que não envolvia só os garotos, mas também os cuidadores dos abrigos — foi lenta e persistente. Três meses depois, percebe-se neles uma mudança significativa de interesse e comportamento, estão mais integrados e seguros de si. “Todos portam fardos de sofrimento extremo, que nem eu nem você conseguiríamos sustentar. E só precisam ser olhados sem medo, confiando em ver, ainda, tesouros de grandeza humana na inocência, na fragilidade e no entusiasmo que sobrevive. O que mudou foi o olhar, também deles para nós; isso estamos conseguindo”, assegura Carlos Laredo.

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