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Crianças e jovens indígenas clamam por uma educação decente

“Nós que somos indígenas sempre ficamos para trás. Não é porque a gente somos índios que não podemos ter uma educação boa e de qualidade. Somos seres humanos, que não negamos a nossa nação e não fugimos da luta. Queremos estudar para quando nos tornamos adultos, poder defender o nosso povo, de um modo que não tenha sangue para todo o lado”. A declaração é do garoto Yarú Tupinambá, estudante da Escola Estadual Indígena Tupinambá de Olivença, localizada no sul do estado baiano. A sede de estudar do menino é grande e contrasta com todos os desafios colocados para sua comunidade indígena. O Dia do Índio para crianças e adolescentes indígenas é dia de dar voz a uma realidade invisível.

A realidade de Yarú não é diferente da realidade do garoto Ynauyry Gomes, da aldeia Pataxó-Xandó, que enfrenta diariamente os desafios dos deslocamentos e o preconceito pelo fato de ser índio. Com dez anos de idade, Ynauyry sensibiliza a sociedade civil para a situação grave da educação indígena. O garoto participou do II Colóquio-Americano de Políticas de Segurança e Direitos Humanos e convidou os participantes a aderirem a sua campanha, intitulada “Por uma escola decente”. Ynauyry falou sobre as classes multisseriadas e professores pouco preparados e sem a formação adequada. Além da estrutura precária da escola, o garoto contou sobre o desafio que as crianças indígenas enfrentam quando chegam ao Ensino Fundamental e precisam ir para a escola regular, fora de sua aldeia, e se deparam com críticas cotidianas de seus colegas não índios.

Já o membro da aldeia tubinambá, Yaurú, revela que sua escola ainda não iniciou as aulas prejudicado por falta de transporte escolar. Como as aldeias ficam localizadas em áreas distantes e isoladas, a falta de transporte escolar inviabiliza totalmente a efetivação do acesso à educação. Desde cedo, o menino sabe o que quer para tornar a sua comunidade diferente: “Queremos os estudos e a demarcação das terras porque nem uma mãe no mundo quer ver o seu filho sem estudar. Vamos brigar pela educação escolar, vamos estudar e ter acesso à educação”

Para a liderança, Nádia Akauã Tupinambá, a precariedade e o descaso do estado com a educação indígena, afeta diretamente também as condições de trabalho dos professores, alguns deles também índios. “A lei que trata da importância curricular não é cumprida nas escolas indígenas, além de uma série de deficiências ocasionadas pelas negligências do Estado, que não compreende a necessidade de condições diferenciadas, como um calendário específico e grade curricular que contemplem a realidade das comunidades indígenas” sinaliza Nádia. Segundo ela, a educação indígena requer de uma atenção que extrapola o conteúdo de sala de aula, que também precisa absorver as características próprias do universo onde os estudantes e professores estão inseridos. Para ela, o descuido com as demandas específicas dos povos indígenas reforça o sistema de exclusão que essas comunidades já vivem. “Tudo isso afeta diretamente no desempenho do professor e da receptividade do alunado em relação a sua aprendizagem, entre outros fatores sócio-políticos que enfrentamos dentro e fora da escola” conclui.

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