Fábulas recontadas em cordel, saraus literários, novos espaços para os livros, oficinas de literatura: são diversas as possibilidades que podem levar a literatura às crianças e às escolas de educação infantil. Atual eixo formativo do projeto Paralapracá, a literatura convida as crianças, e os adultos também, a imaginar e a experimentar fantasias.
Segundo o Caderno de Orientação Assim se Faz Literatura, o contato com o universo literário tem um papel importante na ampliação das experiências das pessoas com o mundo e com os outros.
Para apresentar diferentes vivências que buscam aproximar as crianças desse universo, o site do projeto Paralapracá visitou três Centros Municipais de Educação Infantil (CMEI) de Natal que incorporaram a leitura literária ao seu cotidiano.
No CMEI Antônia Fernanda Jalles, o ambiente parece tomado pela literatura. Além de um espaço de leitura para as famílias na recepção, as paredes recontam histórias e personagens desenhados pelas crianças. As famílias participam de oficinas literárias e se apresentam na escola e os cantinhos de leitura estão em várias partes. “Nós queríamos fazer a literatura acontecer aqui dentro”, relembra Danielle Queirós Cunha, diretora pedagógica da escola.
Segundo a gestora, o movimento começou em 2013 quando ela e Maria de Fátima Oliveira Araújo, diretora administrativo-financeira do CMEI, lançaram um desafio para as professoras: produzir um festival de literatura na escola. “Conseguimos fazer o Festival Literário 2013 e foi um sucesso. Os meninos adoraram”, conta Danielle. Apesar do evento, as crianças ainda não buscavam livros espontaneamente. “Sem contar para ninguém, montamos um espaço de literatura em um canto do pátio, com mesinha e estantes coloridas. Em pouco tempo, as crianças começaram a parar suas motocas na frente do espaço e a olhar os livros”, diz.
Paralelamente, Danielle e Fátima se empenharam em levar autores potiguares de literatura infantil para conversar com as crianças e com as professoras e empromover “várias técnicas”, conforme definem. “O pontapé inicial para o projeto foi o material do Paralapracá”, afirma Fátima. “Hoje, entre muitas outras ações, os livros que são lidos na escola vão para casa, fazemos os murais de personagens e tentamos sempre relacionar a literatura com as vivências das crianças”, completa Danielle, lembrando da história de dona Maricota, que se passa em uma feira e que inspirou uma visita dos pequenos a uma feira próxima da escola. “As ideias vão se multiplicando, estamos em constante movimento”, celebra.
No CMEI Padre Sabino, o movimento surgiu dentro da sala, por iniciativa da professora Sírlia Sousa de Lima. Poeta e apaixonada por literatura de cordel, Sírlia apresentou às crianças de sua turma do nível 4 um jeito diferente de contar fábulas. “Reli fábulas que elas já conheciam e depois contei a história em cordel”, explica a professora. Os Três Porquinhos foi uma das histórias que Sírlia contou para as crianças em cordel. “Elas já conhecem a fábula. Apresentei o gênero da literatura de cordel e aí, sim, sabendo a diferença, contei a mesma história em cordel”, diz a professora.
Depois da leitura em sala, todas as crianças são ouvidas e representam a história livremente. Além de ouvirem a professora cordelista, as crianças também fazem seus cordéis coletivos. “Elas transformam o fim da Chapeuzinho Vermelho, contam outras histórias, e assim vai. O caminho é esse: criar, recriar, reinventar”, afirma Sírlia. Segundo ela, o cordel trouxe um novo olhar das crianças para a literatura. “O cordel me ajuda muito. Várias mães me contam que os filhos não dormem mais sem uma leitura, sinto o desenvolvimento e o prazer deles na sala”, diz.
No CMEI Carmem Pedrosa, as histórias são contadas, interpretadas, cantadas e dançadas em saraus literários. O acontecimento se repete a cada três meses – e já há sete anos – e compreende duas grandes ações: o dia da visitação interna, quando as turmas percorrem a escola para se apresentar umas para as outras dentro de suas salas; e o sarau para a comunidade, que abre as portas da escola para as famílias e os vizinhos assistirem às representações dos pequenos. “As crianças gostam muito, tanto da apresentação como dos ensaios”, conta a gestora pedagógica Janaína Carvalho. Ela explica que as obras são escolhidas pelas crianças, que durante os ensaios também decidem como apresentá-las.
As paredes da escola são enfeitadas para o sarau com todas as produções feitas pelas crianças a partir das obras e dos autores escolhidos. Segundo Janaína, o sarau contribui com o interesse das professoras por buscar livros e histórias que agradem às crianças, além de novas abordagens e materiais para representar essas obras. As formações do projeto Paralapracá na escola, diz a gestora, também colaboram com esse comprometimento: “A rotatividade das professoras é muito grande no nosso CMEI e a formação contribui para valorizar o trabalho delas. Percebo que todas passaram a estudar mais depois das formações”, assinala.