
A alfabetização e a educação integral são fundamentos dos direitos das crianças e constituem a defesa e as ações conduzidas e apoiadas pela Avante – Educação e Mobilização Social.
Para fortalecer as discussões teóricas, metodológicas e políticas em torno da temática, a instituição participou do IV Seminário Nacional de Educação Integral, realizado na Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), em Porto Alegre (RS), entre 03 e 05 de novembro de 2025. A Avante foi representada por Maria Thereza Marcilio, consultora associada da instituição.
Maria Thereza integrou a mesa intitulada Roda de conversa sobre a alfabetização na escola de educação integral, mediada por Thais Costa (PUC/SP), em companhia de Elvira Lima (Pesquisadora/SP), Natálie Mari Müller (Escola Municipal Chico Xavier São Leopoldo/RS) e Suelen da Silva Matos (Escola Estadual BAREA Três Cachoeiras/RS).
Com vasta experiência na elaboração de projetos em Educação Infantil, Alfabetização e Formação Contínua de professores, Maria Thereza iniciou a sua participação elencando os princípios orientadores para uma educação integral, a saber: equidade, singularidade, integralidade, inclusão, territorialidade, participação e sustentabilidade.
A partir desses princípios, ela aprofundou o debate chamando a atenção para a integralidade de uma educação voltada à garantia dos direitos das crianças, entre eles: o direito ao brincar; à escuta e ao respeito; à participação comunitária; à convivência em espaços acolhedores; à comunicação e expressão.
Para avançar na concretização desses direitos, Maria Thereza reforçou a importância da escola e convocou os congressistas a uma reflexão importante: o que se espera das instituições de educação hoje?
Segundo ela, a escola da atualidade precisa “educar como um projeto coletivo, para além da escola: articular novos agentes, serviços e enraizar-se no território, ou seja, educar para a ocupação da cidade”.
Para isso, explicou ela, “as instituições escolares precisam alimentar a curiosidade dos educandos; considerar a diversidade como fato e fator de enriquecimento; facilitar o acesso à informação; criar contextos de aprendizagem crítica e criativa; possibilitar a expressão dos diferentes modos de ser, de aprender e de comunicar; ser um espaço propício ao desenvolvimento integral do indivíduo, à convivência respeitosa e dialógica entre todos e à formação estética, além de estabelecer um diálogo permanente e respeitoso com o território”.
Alfabetização e Educação Integral
Ao abordar a alfabetização na Educação Integral, Maria Thereza traçou uma linha do tempo que articulou a trajetória histórica do Brasil e seus reflexos nas concepções de alfabetização.
Ela destacou que a alfabetização é um processo complexo, que envolve compreender um sistema simbólico de representação arbitrária do mundo, e não apenas decodificar um código — tarefa bem mais simples.
Ao citar Paulo Freire, ela explicou a importância de uma imersão na cultura do escrito, pois como o próprio patrono da Educação brasileira defendia: “a leitura do mundo precede a leitura da palavra”.
Nesse sentido, segundo ela, faz-se necessário, ainda, cuidar do planejamento do ambiente, possibilitar acesso a diferentes materiais, observar as questões trazidas pelas crianças, atentar para as múltiplas linguagens e fazer a leitura e a escrita de elementos reais, com finalidades múltiplas no espaço escolar.
Formação de professores
Ao trazer os dados e desafios da realidade brasileira, ela apontou as condições para seu enfrentamento, destacando o investimento adequado e contínuo e, por consequência, a valorização e a formação de professores.
Parte da sua exposição esteve centrada em defender a qualificação do professor, por meio de uma formação permanente e humanizada. Formação que permita a esse profissional – tão caro às democracias -, compreender as dimensões políticas e culturais da escola, apropriar-se da sua função social e, a partir daí, comunicar o conhecimento por meio de uma didática fundamentada na escuta, na solidariedade e no encantamento permanente; munido da capacidade de lidar com o inusitado e de cultivar qualidades e atitudes criadoras. Características que, conforme Maria Thereza, abrigam “a chama, a alma e a marca de ser professor”.
Maria Thereza encerrou a sua participação reportando-se ao pesquisador Eliseu Souza, cuja produção acadêmica articula teoria e prática, a partir da valorização de narrativas autobiográficas como instrumentos de reflexão sobre a profissionalização do magistério.
“É importante entender, o que já é consenso, que o magistério e a profissão de professor se caracterizam como uma profissão com níveis de complexidade, exigindo revisão e construção constantes de saberes, centrando seu saber ser e fazer numa prática reflexiva e investigativa do trabalho educativo e escolar, no cotidiano pessoal e profissional”, disse.



